Vinte e seis vitórias, 78 pontos, 133 gols marcados e apenas cinco sofridos. Os números ilustram o trabalho da treinadora Tatiele Silveira, brasileira que comanda o Colo-Colo, do Chile.
Ex-jogadora, a gaúcha brilha na função de técnica e se prepara para a disputa da Copa Libertadores da América Feminina, em outubro, na Argentina. Ela descreve com detalhes o momento em que decidiu trocar as chuteiras pelo apito.
— O desejo de ser treinadora surgiu ainda enquanto eu jogava. Tinha curiosidade sobre a montagem dos treinos, o porquê de cada exercício e o planejamento de jogo. Aí fui fazer Educação Física e também fiz estágio em uma escolinha feminina — relembra, em entrevista exclusiva ao Lance!.
Não demorou para a lateral-direita, que um dia se preocupava apenas com a própria performance, perceber a diferença de visão fora das quatro linhas.
— Como jogadora, eu queria jogar bem. Já como técnica, a responsabilidade é coletiva, é entregar ferramentas para todas — compara Tati.
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Inspirada em nomes como Emily Lima, Pia Sundhage, Emma Hayes e Sarina Wiegman, Tati quer ser referência e ampliar espaços de mulheres no futebol.
— Sempre busquei olhar para mulheres no futebol. Quero também ser exemplo para outras treinadoras que estão começando — projeta.
Do futebol brasileiro ao chileno
Apesar de pertencer a uma nova geração de treinadoras, Tati acumula experiências marcantes: comandou o Porto Alegre sub-17, Grêmio, Guaíba (RS), Internacional, Ferroviária, Santos e Vasco, além da Seleção Brasileira sub-17. O grande salto veio em 2022, quando aceitou o convite para comandar o Colo-Colo. “Foi uma das decisões mais felizes da minha vida”, define. A recepção no Chile foi calorosa.
— Saí do Vasco no Rio, com inverno de 20 graus, e cheguei em Santiago com campos cobertos de gelo. Esse foi o maior baque — diz.
Dentro de campo, a adaptação foi rápida. O elenco comprou as ideias da brasileira, que trouxe novos métodos de treino e uma mentalidade competitiva.
A relação com a torcida também surpreendeu a técnica. Se no Brasil o futebol feminino ainda luta por espaço, no Chile Tati vive um carinho inédito.
— Vou ao mercado e pedem autógrafo, pedem foto. Chegamos a colocar 14 mil torcedores em jogo de fase regular. É algo que nunca tinha vivido — descreve, orgulhosa.
No mercado, a comissão busca equilibrar orçamento e necessidade. Jogadoras brasileiras, como Camila Martins, são vistas como peças-chave pela experiência e perfil físico diferente do encontrado no Chile.
— O Brasil inflacionou o mercado, mas é justo. É valorização merecida — define.
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Olhando para frente
O resultado não demorou a aparecer: campanhas consistentes e títulos nacionais. Agora, tem como foco aumentar o protagonismo da equipe no cenário continental.
Na Libertadores Feminina, o Colo-Colo está no Grupo C, o mesmo de São Paulo, San Lorenzo e Olímpia. E tem uma meta clara.
— Nosso maior desejo é avançar às quartas da Libertadores e competir de igual para igual com Brasil, Colômbia e Argentina — projeta ela.
Com contrato até 2026, Tati já projeta o futuro. Quer manter o Colo-Colo como referência e seguir em cenários competitivos.
— Sou muito competitiva. Gosto de aprender vencendo. Quero seguir em clubes que brigam por títulos — diz ela.