A raça humana se desenvolve num ritmo quase constante, segundo os cientistas, seja mental, ou fisicamente. Esta velocidade meio preguiçosa, vai trazendo mudanças que são inseridas e perpetuadas ao longo do tempo, em nosso DNA. A cada pequena melhora, vai se forjando o ser humano do futuro. Mas temos notado que, em termos de performances esportivas, as provas de mais longa duração têm, nas últimas décadas, dado a impressão de que se desenvolvem, se aprimoram, mais do que as provas mais curtas. Não só no atletismo, mas, ainda mais no Triathlon, no ciclismo e nas maratonas aquáticas.
Sim, nestas provas, além da melhora física e mental, temos os componentes tecnológicos, que, na última década, principalmente, geraram uma verdadeira revolução no esporte mundial. Seja nos instrumentos de performance (componentes de bicicletas, tênis de corrida, vestes de natação e sistemas de monitoramento de níveis de treinamento por telemetria), ou na nova e agressiva nutrição dinâmica, que mantém oferta abundante de energia, a ser transformada em movimento. Até os novos métodos e processos de recuperação pós esforço, acabam influindo nos saltos de grandes marcas alcançadas, que acompanhamos, embasbacados, nos dias atuais.
Um exemplo disto foram as duas provas de Ironman, a primeira, masculina em meados de setembro, em Nice (FRA), e a segunda que aconteceu neste domingo, em Kona (Havaí) apenas para mulheres. Mas antes de expormos os resultados e desdobramentos, devemos explicar o porquê de o Mundial de Ironman, atualmente, acontecer em datas e locais distintos:
A ilha de Kona, especificamente a região de Kailua-Kona, já não suportava a invasão de gente do mundo inteiro, Haoles dos 4 cantos do planeta, que durante o fim de semana (tentava-se fazer dois eventos num fim de semana apenas. O feminino no sábado, e o masculino no domingo), com avenidas, ruas e estradas fechadas, e seus habitantes reféns em suas casas, por conta das duas provas, tornando o paraíso num pequeno inferno, no umbigo do Pacífico. Ficou pior do que o formato tradicional: 2500 atletas, entre homens e mulheres, se acotovelando em busca da linha de chegada mais desejada do Mundo, lá no Píer de Kailua, onde fica a largada e chegada desse passeio chamado Ironman (3,8km natação/180km de ciclismo/42.2km de corrida).
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Nos últimos 2 anos, para tentar um crescimento de público feminino, que comparado ao masculino, andava meio estacionado, tentou-se descolar uma prova da outra. Desta forma, poderiam aumentar o número geral de inscritos para quase 3 mil pessoas de ferro, sem perda de espaço funcional durante a prova. Não deu certo, este ano de 2025 foi o último com a prova ainda desmembrada. A partir do ano que vem, volta a acontecer em apenas 1 dia, para 3 mil participantes, ao invés de 2500. E a grande dor de cabeça local dura apenas 24 horas! Os 25 mil habitantes da maior ilha do arquipélago havaiano, receberão com um sonoro “ALOHA”, mais de 30 mil turistas, ávidos de consumir a terra do Ironman, seja competindo ou torcendo.
Noruega tem excelentes atletas de triathlon
Mas, agora, peço que desviem seus pensamentos das praias, vulcões e florestas tropicais havaianas, e vamos nos concentrar com o andamento e resultados das duas provas:
A MASCULINA, EM NICE- Onde o pódio completo foi de um só país, a Noruega, que é uma potência olímpica! Sim, disputando os degraus do pódio, 3 excelentes atletas OLÍMPICOS de Triathlon (medalhistas, inclusive), fizeram, como se costuma falar, barba, cabelo e bigode, aliás, prática não muito difundida nos países nórdicos!! Eles vieram pra quebrar paradigmas! Flutuar, vencendo, em provas de olimpíadas e em Iron Man, era tido como missão impossível! Já aconteceu de campeões Olímpicos, se tornarem, após abandonarem as provas olímpicas, campeões de Ironmam. Jan Frodeno (GER), sabe bem como é difícil, e conseguiu. Mas, ter uma trinca de triatletas, prontos sempre, seja em Olimpíada ou Ironman, a tomar o pódio de assalto, e levarem todas as medalhas disponíveis, isso nunca foi visto.
Ah! Exclamará você, neófito amante do olimpismo, eles são ótimos esportistas! Mas a Terra dos bacalhaus, da Aquavit e de gente resistente, é uma potência em Olimpiadas de Inverno. E o Triathlon praticado nos Jogos Olímpicos, de verão, é muitíssimo menor (1,5km nadando, 40km pedalando e 10km correndo) que o Ironman.
Atualmente, nos últimos 20 anos, a Noruega vem trabalhando pesadamente, sob as normas e diretrizes de um plano de olimpização esportiva de verão. E já vem dando excelentes resultados. Haja visto o descrito aí acima. Mas não só no Triathlon, no atletismo também!
E quanto a vitória esmagadora do Ironman de Nice, em setembro, devemos salientar que, os três atletas, apenas eles, fecharam a prova para baixo das 8 horas!
Ah! Detalhe importante, a vencedora do Ironman de Kona neste domingo, foi uma jovem da ....... Noruega!
Oito horas num Ironman era meta mítica para o Triathlon, como correr uma maratona abaixo das 2 horas. Inclusive, a expectativa de quebra de tempo de ambas as provas, deveria acontecer apenas pra lá de 2030. Incrédulos dirão, como eu sempre suspeitei, no caso de Usain Bolt (JAM) e Eliud Kipchoge (KEN): estamos sendo visitados, rotineiramente por extraterrestres, provavelmente de Júpiter do Sul! Dizem os terraplanistas de plantão que existe um centro de treinamento lá, literalmente, de outro mundo! A quebra das 8 horas já aconteceu há algum tempo, mas a das 2 horas na maratona, por pouco não caiu neste domingo, durante a Maratona de Chicago, berço da última quebra do recorde mundial, pelo falecido queniano Kevin Kiptum (e favoritíssimo a quebrar as 2 horas), com 2h00:35. Sim, ele ficou a apenas 35 segundos da quebra das 2 horas!
Neste domingo, na mesma Chicago da quebra de Kiptum, um outro jovem quebrador de recordes, Jakob Kiplimo, de Uganda, recordista mundial da meia maratona (56:42), em sua segunda maratona (a primeira foi Londres, em abril, sendo vice-campeão, com 2h03:37), entra na Maratona de Chicago, querendo sair de lá campeão e detentor de novo recorde.
E talvez conseguisse, se não fosse um bando de coelhos (atletas contratados pela maratona para ditarem ritmo de quebra de recorde ) alucinados resolvem alucinar o ritmo inicial de prova. Passam a primeira milha (1,6km) com 4:17, e os primeiros 5km para 13:55, um ritmo de 2’47p/km e projeção de 1h57 minutos para a maratona. Ali, nos 5km, a vaca foi, tímida, para o brejo! Mas, Kiplimo, não se deu por vencido, negociou consigo mesmo o ritmo ideal, para sobrevivência do pequeno grupo, e foi oscilando, renegociando e sofrendo. Adversários e quilômetros iam ficando pra trás, e lá foi Kiplimo, só, para a chegada de sua segunda maratona. Esta que foi a sua primeira vitória, dolorida e sofrida, longe do alcançável 1h59, mas dando mostras de que estas 2h02 podem se transformar, em breve, na primeira maratona sub 2HORAS!
E lá se vão as previsões e cálculos. Enquanto houver gente vinda do Centro Olímpico de Júpiter do Sul, estas marcas históricas, sempre estarão prontas a cair!
Brincadeiras à parte, quando, desde muitos anos atrás, surge algum atleta supertalentoso, costumo brincar e questionar de onde ele vem! De vez em quando tento puxar conversa, mas sempre, eles me vêm com a mesma velha conversa de “leve-me ao seu líder!” Aí encerro o papo falando sobre a última rodada do Brasileirão, porque ninguém é de ferro.
A não ser os noruegueses ali de cima!
Lauter Nogueira
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