Você já parou para pensar no que realmente significa jogar tênis profissional? Esqueça a romantização das arquibancadas lotadas e dos troféus reluzentes. A realidade é bem mais crua: é um esporte que não perdoa, não descansa e não dá trégua. De janeiro a novembro, é "pau na bola" 🎾 literalmente, semana após semana, sem pausa para respirar.
Diferente de quase todos os outros esportes, o tênis não te dá o luxo de focar em uma ou duas competições por ano. Não existe aquela preparação específica para "a final do campeonato". Aqui, cada semana é uma final. Cada torneio pode mudar sua vida - ou destruí-la. E sabe o que governa essa montanha-russa emocional? O ranking. Esse número frio e implacável que decide se você entra na chave principal ou tem que ralar no classificatório.
Mas aqui está o ponto que poucos entendem: cada ponto conquistado tem prazo de validade. Exatos 365 dias. Isso significa que quando você está em quadra, não está apenas jogando pelo presente, está defendendo o passado ou construindo o futuro. É uma pressão psicológica que não sai da cabeça nem quando você está dormindo.
Depois do US Open entramos na reta final de 2025, e dois brasileiros vivem essa realidade de formas completamente distintas. E isso nos diz muito sobre como o tênis pode ser cruel e generoso ao mesmo tempo.
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🎾 Bia Haddad Maia: a guerreira sob pressão constante
Aos 29 anos e ocupando a 26ª posição mundial, Bia vive no que eu chamo de "purgatório da excelência". Parece contraditório? Explico: estar entre as 30 melhores do mundo é um privilégio que pouquíssimas jogadoras experimentam. Mas essa posição vem com um preço que poucos compreendem.
Bia só pode jogar os maiores torneios do WTA Tour. Parece ótimo, certo? Errado. Isso significa que ela não tem a opção de "descer de categoria" para somar pontos fáceis, ou ganhar jogos para pegar confiança, quando as coisas ficam difíceis. É elite contra elite, semana após semana. E aqui mora o perigo: no tênis, ficar parado é retroceder. A evolução tem que ser constante, porque suas adversárias não estão dormindo.
Até duas semanas atrás, 2025 estava sendo um ano irregular para a brasileira. Ela mostrou momentos de brilho, todos sabemos da qualidade técnica dela, mas faltou aquela consistência que a levou mais perto do topo nos últimos anos. E então chegou o US Open, com aquela pressão silenciosa mas devastadora: ela tinha que defender os pontos das quartas de final do ano passado.
Imaginem a pressão: perder na primeira rodada significaria um despencar no ranking que levaria meses para recuperar. Mas é exatamente em situações como essa que Bia mostra por que chegou onde chegou. A brasileira é pura fibra, é resiliente quando a coisa aperta.
Ela passou por três rodadas de forma contundente, mostrando que a classe não some do dia para a noite. Nas oitavas, perdeu para Amanda Anisimova em um jogo onde a americana simplesmente jogou tênis de outro planeta e passou por cima. Mandou no jogo do início ao fim, não deu chances. Derrota dolorosa? Sim. Mas acredito que foi um espelho cruel e necessário do que Bia precisa ajustar se quiser voltar a brigar em igualdade com as melhores.
Tenho certeza de que Rafa, seu treinador, e toda a equipe já estão traçando os planos para 2026. Porque no tênis profissional, você não pode se dar ao luxo de parar para lamentar.
O lado positivo? Bia saiu de Nova York com a confiança em alta e chegou em casa para o SP Open. Ganhou a primeira rodada e tem uma oportunidade de ouro: brigar por 250 pontos com a torcida brasileira ao lado. É o tipo de cenário que pode reacender a chama para o final da temporada.
Mas não se enganem: o final de ano da Bia não será moleza. Ela ainda tem 500 pontos para defender na Ásia. Vai ter que viajar com a "faca nos dentes" para não ver o ranking despencar nos últimos torneios.
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🎾 João Fonseca: o talento em construção sob o peso das expectativas
João, aos 19 anos e 42º do mundo, vive o lado oposto da moeda. A gira de quadra dura pós-Wimbledon foi dura em termos de vitórias, mas rica em aprendizado. E aqui está uma verdade que muitos não querem ouvir: os adversários já começaram a entender como jogar contra ele.
Isso não é demérito, é evolução natural. Quando você explode no circuito como João explodiu, vira alvo de estudo. Cada técnico adversário assiste seus jogos, analisa padrões, procura pontos fracos. É o preço da fama precoce.
Por mais que João já seja top 50, uma conquista impressionante para qualquer jogador, ainda há um mundo de evolução pela frente. E essa evolução só vem quando você fica exposto nas derrotas, quando é forçado a sair da zona de conforto.
Aqui está a diferença crucial: João não tem pontos para defender ainda. É seu primeiro ano nos grandes palcos. A pressão existe, mas ela não vem do ranking, vem de fora. Dos fãs, dos "especialistas" das redes sociais, da mídia que criou uma expectativa estratosférica depois dos títulos do Next Gen e de Buenos Aires.
E aí mora o perigo. Por mais que João tenha uma boa cabeça e esteja cercado de uma equipe competente, não é fácil ignorar essa onda de cobrança. Quando essa pressão externa entra em quadra junto com o jogador, fica muito complicado jogar com naturalidade. Muitas vezes trava.
A questão é: faz sentido essa cobrança? Claro que não. João está fazendo uma temporada excepcional para um garoto de 19 anos em seu primeiro ano no circuito principal. Mas as pessoas cravaram que ele seria top 20 até o final do ano, e agora ficam "decepcionadas" se isso não acontecer.
Estar no top 50 pós US Open dá a João uma tranquilidade preciosa: poder escolher bem seus últimos torneios sem correr atrás de pontos desesperadamente. Terminar o ano em 45º ou 25º não fará diferença prática, mas tem gente que vai ficar frustrada porque criou expectativas irreais.
Ouço que ele pode não jogar o Masters 1000 de Shanghai, e se for verdade, acho uma escolha inteligente. João já jogou bastante em 2025. Agora é hora de ser seletivo. A temporada de quadra coberta na Europa vai expô-lo a condições que ainda não domina completamente, mas onde certamente pode ser competitivo. É mais uma oportunidade de se tornar mais completo, pensando no ano que vem.
Porque 2026 será completamente diferente. Será o primeiro ano em que João terá que defender pontos para manter sua posição, ou fazer ainda melhor para subir de ranking. Aí sim a pressão será de verdade.
US Open 2025: quando o tênis mostra sua grandeza
Masculino: a rivalidade que o esporte precisava
A rivalidade SinCaraz não para de crescer, e isso é uma bênção para o tênis mundial. Depois de perder um jogo "ganho" em Roland Garros, que deve te-lo deixado sem dormir por várias noites, Sinner deu a volta por cima em Wimbledon. Por outro lado, dava para ver que Alcaraz saiu mordido daquela derrota e se preparou especificamente para o confronto em Nova York.
O que mais me impressionou foi como Alcaraz chegou à final: sem percalços nas primeiras rodadas, algo que não era seu costume. Isso por si só já mostrou que ele estava com Sinner na cabeça desde a primeira bola.
O espanhol entrou em quadra e fez uma partida antológica. Poucos erros não-forçados, winners de todos os cantos da quadra. Não deu chance para Sinner e agora lidera o confronto direto por 10 a 5. É lindo de ver como os dois se alimentam dessa rivalidade, como um eleva o nível do outro.
Djokovic está ali, lutando para se inserir na conversa, mas a idade está cobrando o preço. Por mais que doa admitir, está difícil ver o sérvio ganhando outro Grand Slam.
O tênis masculino está em boas mãos. A grande pergunta é: quem será o próximo a entrar nessa briga? Quem conseguirá reviver os tempos do Big 3? Por enquanto, está difícil vislumbrar.
Feminino: Sabalenka finalmente encontra sua fórmula
Sabalenka e Anisimova chegaram à final por caminhos diferentes. A americana estava fazendo sua segunda final consecutiva de Grand Slam, depois de uma derrota humilhante para Swiatek em Wimbledon. O reencontro das duas nas quartas de final foi uma revanche onde Anisimova jogou o tênis de sua vida.
Na semifinal, passou por Naomi Osaka e chegou à final até com certo favoritismo. Mas Sabalenka tinha outros planos.
A bielorussa chegava à sua terceira final de Grand Slam no ano, depois de perder na Austrália e em Roland Garros. A pergunta que pairava no ar era: será que ela aguentaria mais uma pressão de final de Slam?
A número 1 do mundo mostrou sua experiência e se impôs em um jogo disputadíssimo. Sabalenka é hoje a jogadora mais consistente do circuito, e vem consolidando essa posição há tempo. A cada ano fica mais completa, mentalmente mais forte e equilibrada. As outras estão tendo que correr atrás.
É isso aí, pessoal! O tênis não para, e nem nós paramos de acompanhar cada lance dessa paixão que nos consome.
Abs, Pardal.
Ace do Acioly no Lance!:
Ricardo Acioly escreve mensalmente no Lance! abordando o tênis. Leia mais publicações do colunista:
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➡️ Wimbledon: Game, Set, Match! Acabou a temporada de grama!
➡️ Roland Garros 2025 – emoção, drama e protagonistas do futuro