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Luiz Gomes: A ficha caiu na Seleção e surgiram reclamações contra a CBF

Declarações de Tite, do capitão Daniel Alves e de Philippe Coutinho, ainda que tardias, expressam de forma inédita uma insatisfação com a forma como a CBF lida com a Seleção

Brasil não saiu de empate com Senegal, na última quinta, em amistoso em Singapura (Foto: Roslan Rahman/AFP)
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Durante as três décadas da dinastia Teixeira-Marin-Del Nero a seleção brasileira sempre foi a galinha dos ovos de ouro da CBF. Contratos publicitários milionários, acertos quase nunca transparentes com fornecedores de material esportivo e negociações nebulosas dos direitos de amistosos em que o menos importante eram os benefícios técnicos que podiam trazer para o time e os prejuízos que causavam aos clubes a que pertenciam os jogadores.

A seleção, neste período, serviu a todo tipo de propósito. Foi usada para agradar a políticos, juízes, procuradores e quem mais interessasse à cartolagem, convidados para assistir a amistosos e torneios ao redor do mundo. Foi moeda de troca para agradar a dirigentes de clubes e federações conquistando o silencio de uns e o apoio eleitoral explicito de outros, alimentando o projeto de perpetuação no poder daquela gente.

Escândalos não foram poucos. Duas CPIs no Congresso investigaram e trouxeram à tona - embora longe de apresentarem consequências concretas - desmandos da cúpula do futebol tupiniquim. Por conta de um suspeito contrato para um amistoso contra Portugal, em 2008, em Brasília, e a comercialização de direitos em outros 23 jogos da Seleção que Ricardo Teixeira entrou na mira de procuradores espanhóis num processo que levaria o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell parceiro e fiel escudeiro do cartola brazuca a passar dois anos na cadeia antes de explicar-se e ser absolvido em tribunal de Madrid, não por convicção, mas por falta de provas suficientes.

Mesmo com todos esses percalços fora de campo, com a crescente repulsa do torcedor, cada vez mais afastado da camisa amarela e da permanente imposição de negócios e negociatas sobre as necessidades técnicas e os princípios éticos e esportivos que deveriam nortear uma seleção pentacampeã do mundo, jogadores, treinadores e demais integrantes das comissões técnicas e até boa parte da mídia - o que não é o caso desse LANCE!, diga-se - sempre se calaram em passiva cumplicidade diante de fatos e evidências.

Parece que, enfim, a ficha caiu. As declarações de Tite, do capitão Daniel Alves e de Philippe Coutinho, em Singapura, ainda que tardias, expressam de forma inédita uma insatisfação com a forma como a CBF lida com a Seleção. Na quinta, antes do jogo com o Senegal, o técnico já se dizia chateado com “a falta de respeito da Pitch (empresa detentora dos direitos dos amistosos) para com a seleção brasileira”, impedida de fazer o treino de reconhecimento do campo. Após o empate em 1 a 1 com os africanos, Dani Alves e Coutinho foram ainda mais longe: “Foi uma viagem longa, estamos com fuso de 11 horas atrás, calor imensurável. Não é desculpa, mas você paga o preço. O gramado estava ruim. Em alguns jogos que estamos fazendo temos atuado em gramados bem ruins", afirmaram.

Problemas como estes têm sido uma rotina no dia-a-dia da Seleção. E já faz muito tempo. À caça de euros, dólares e petrodólares, o time canarinho foi sendo levado nos últimos anos a lugares tão longínquos como Singapura, Japão, países árabes e africanos sem nenhuma expressão futebolística. Jogar no Brasil, tornou-se uma exceção. Londres, pode-se dizer, tornou-se quase uma embaixada futebolística nacional, tantas vezes a seleção atuou ali com adversários vindos de tantos lugares do mundo. Os EUA, desde a Copa da Rússia, assistiram o Brasil em amistosos mais vezes do que o torcedor brasileiro pode ver o time por aqui – sem contar, claro, a Copa América.

O contrato da CBF com a empresa Pitch vai até 2022. E não há sinais de que algo possa mudar a curto prazo já que os próximos jogos estão marcados para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos onde não há perspectivas de um ambiente melhor. Romper o acordo parece fora de cogitação e certamente traria consequências duras para a entidade. Resta, contudo, em mais uma oportunidade para que a gestão de Rogério Caboclo demonstre levar a sério suas promessas de mudança, o caminho da negociação. E do bom senso. De impor os interesses do futebol brasileiro sobre aqueles que buscam apenas o lucro numa perversa exploração da força de uma camisa e do talento dos jogadores.