Escrito por Lance!
"Galvão Bueno soltou o verbo. Certamente não por coincidência aproveitou o dia em que Carlos Arthur Nuzman foi denunciado por corrupção, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas para descascar em cima da cartolagem e pedir uma reforma geral do esporte brasileiro. “Não seria o caso de uma avaliação de todas as confederações nacionais, dentro desse critério de ética, de finanças? Eu acho que seria a hora de passar a limpo o esporte brasileiro”, disparou.
Ele tem toda razão. O curioso é que, durante anos, a TV Globo fechou os olhos para as mazelas que atrasaram o desenvolvimento do nosso esporte, resultando em benesses para esses mesmos dirigentes. Por vezes, jornalismo e negócios foram colocados num mesmo saco na emissora, dando origem a uma relação promiscua em que que interesses comerciais se sobrepunham à informação e às demandas reais da comunidade esportiva.
É inesquecível a cobertura do Jornal Nacional quando Ricardo Teixeira, pressionado pelos escândalos, teve de deixar a CBF – foram longos minutos de elogios aos feitos do cartola, tratado como verdadeiro benfeitor do futebol nacional. Nas poucas vezes em que ficou de fora da transmissão de grandes eventos, a Globo simplesmente os ignorou. Agiu como se um Pan ou uma Olimpíada não existissem fora da telinha global. Não levou em conta o esforço dos atletas, coisa que hoje Galvão cita para justificar o apoio a eventos e práticas sob suspeita.
Quantas não foram as vezes em que dirigentes da emissora – inclusive do jornalismo - sentaram-se à mesa com cartolas impondo regras que nada tinham a ver com os interesses do esporte. Mas com própria agenda. Todo mundo tem o direito – e mais do que isso, o dever – de reconhecer seus erros. Antes tarde do que nunca. Que o desabafo de Galvão não seja apenas isso. Mas mostre, de fato, que os compromissos e o foco da emissora a quem ele empresta o rosto e a voz realmente mudaram de lado."