O Instituto Reação foi fundado em 2003, pelo ex-judoca Flávio Canto. Desde então, a organização foi responsável por revelar nomes como Rafaela Silva, medalhista de ouro na Rio 2016. O que pouco se sabe é que os atletas de alto rendimento têm um lugar especial no Instituto. Eles fazem a preparação física na "Caverna", espaço escondido e estreito - daí o nome - localizado no polo da Taquara, Zona Sudoeste do Rio de Janeiro.

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A Caverna nasceu em 2021, com mão de obra voluntária dos próprios atletas e funcionários, além do apoio do Reação. A ideia veio após os judocas sentirem necessidade de um local próprio para realizar a preparação física. Antes, ela era feita em academias ou clubes com os quais o Instituto tinha parceria ou em espaços menores de outros andares do polo.

Os atletas e preparadores físicos destacam o ambiente de acolhimento e de união que a Caverna agrega. Caíque Silva, de 23 anos, terminou os estudos e se formou na faculdade graças ao projeto de bolsa do Instituto. Também com dons artísticos, o judoca é autor dos grafites que levam cor à Caverna. Campeão brasileiro sub-21, Caíque caracteriza o espaço como um "a mais" na preparação, focada na explosão e em golpes de força.

— A Caverna é uma conquista para todo mundo, não só para mim. É um espaço nosso. Aqui a gente sabe que faça chuva ou faça sol, a gente vai poder treinar. Um ajuda e motiva muito o outro — expressou o atleta.

Caíque Silva é autor dos grafites que dão cor à Caverna (Foto: Andressa Simões/ Lance!)

A Caverna conta com aparelhos de musculação e pesos livres. Além disso, os atletas realizam também treinos com o peso do corpo e em duplas, simulando situações de luta. O tempo de treinamento é dividido entre alguns grupos, para evitar com que o espaço fique muito cheio e prejudique a qualidade da sessão.

Paulo Caruso, preparador físico do Instituto desde os seus primórdios, no polo da Rocinha, destaca que o tom dos treinamentos na Caverna segue as demandas do aluno. Sob o lema "Formando faixas-pretas dentro e fora do tatame", o profissional busca passar também valores de disciplina e de humildade aos seus atletas durante as sessões.

— Tentamos dar um tom mais moderno ao treinamento físico deles. Temos que fazer esse equilíbrio, entre tornar o atleta forte, flexível, coordenado e saber dosar o esforço na hora certa. Antes treinávamos muito, hoje treinamos mais certo — disse Paulo.

Paulo Caruso, preparador físico do Instituto Reação (Foto: Andressa Simões/ Lance!)

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Atletas do Reação de olho nas Olimpíadas

Em agosto deste ano, Ana Gabrielle Soares conquistou a medalha de bronze na disputa por equipes mistas do Mundial Júnior de Judô. Além disso, foi terceiro lugar no Pan-Americano Júnior, na categoria acima de 78kg. A atleta começou no judô aos 5 anos, por conta do diagnóstico de hiperatividade, e entrou no Reação em 2022.

Com uma crescente de bons resultados em competições recentes, Ana, de 18 anos, se aproxima cada vez mais dos Jogos Olímpicos.

— Sonho em disputar uma Olimpíadas desde pequena, mas quando comecei no Reação esse sonho se concretizou mais; eu vi que realmente posso chegar lá. Sei que tenho grande chance de disputar os Jogos Olímpicos. Tenho que buscar esse objetivo cada vez mais, o que já faço diariamente — disse a judoca.

Ana Soares em ação no Mundial Júnior de Judô (Foto: Reprodução/ Instagram)

No Reação desde os cinco anos, Matheus Guimarães está no último ano de Seleção Brasileira Júnior; agora, entra de fato na disputa pela vaga olímpica. Entre as principais conquistas do atleta, destacam-se o hexacampeonato brasileiro, o pentacampeonato pan-americano e o tricampeonato sul-americano, além de medalhas em edições do Aberto Europeu.

Matheus compartilha uma história emocionante com seu preparador físico, Maurício Miranda. Quando ainda tentava ser atleta profissional, Maurício ouviu de seu treinador que um dia ele acharia a vitória de um aluno mais importante que a dele. Encucado, o preparador só concretizou o sentido da frase muitos anos depois, na Taça Brasil, em Curitiba (PR), pelo Instituto.

Na ocasião, o Reação foi campeão na disputa por equipes. Após a vitória, Maurício desatou a chorar de felicidade e, quando levantou a cabeça, viu Matheus, um dos integrantes do time, sem hesitar, tirando a medalha dele e colocando no seu pescoço.

— Não tem como descrever isso em palavras. Ou você sente e experimenta o dia a dia, nas alegrias e nas tristezas, ou não tem como entender — disse Maurício, emocionado.

Maurício após receber a medalha de Matheus (Foto: arquivo pessoal)

Conselhos de um atleta olímpico

Victor Penalber entrou no Reação como atleta e, agora, é coordenador de artes marciais do Instituto, por onde também foi treinador. Nesse meio tempo, disputou as Olimpíadas do Rio em 2016, na categoria meio-médio (81kg). No dia a dia, tenta passar para os mais novos a experiência da trajetória olímpica.

— Tento iluminar esse caminho (até as Olimpíadas). Tenho a segurança de entender que eu cheguei lá, mas sempre tento deixar claro para eles que não existe nenhuma fórmula mágica. Cada um vai encontrar o seu caminho e sua própria fórmula de sucesso. Minha missão é tentar, de alguma forma, guiá-los nesses caminhos individuais — afirmou Victor.

Victor Penalber, ex-atleta e coordenador de artes marciais do Reação (Foto: Divulgação/ Instituto Reação)

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