O Palmeiras assumiu a liderança do Campeonato Brasileiro com uma vitória de virada no clássico contra o São Paulo, o que seria digno de comemoração se não fosse a contribuição da arbitragem. Assim como Grêmio, Vitória e Flamengo também foram afetados por erros de arbitragem na rodada. Enquanto dirigentes, influencers e torcedores lideram uma campanha de destruição dos árbitros, eu quero dizer: precisamos salvar a arbitragem brasileira.

Não há como considerar o jogo sem o papel preponderante dos árbitros. E como eles são tão importantes pro espetáculo (e pro business futebol), precisamos dar a eles as melhores condições possíveis de trabalho. Hoje em dia não é assim. Os árbitros estão bem aquém das possibilidades que os jogadores possuem. Quero abrir esse debate aqui na coluna e colher opiniões diversas

O jogo evoluiu, a arbitragem não

A intensidade e velocidade do jogo de futebol hoje é muito alta. Atletas são preparados em seus clubes com o que há de mais moderno na tecnologia e na metodologia. Além disso, o clube fornece a eles os melhores médicos, fisiologistas, preparadores físicos, dentistas e psicólogos. Nada disso sai do seu bolso. O atleta só precisa se preocupar em treinar e jogar bola.

Já o árbitro de futebol, pra apitar um jogo em alto nível e acompanhar a velocidade e intensidade do jogo, precisa bancar do seu próprio bolso tudo isso. O problema é que, como ele não é um profissional exclusivo da arbitragem, ele precisa dividir seu tempo, atenção e energia com outra profissão. Já imaginou se os craques do seu time tivessem que trabalhar em outras coisas para se sustentar e entrar em campo e ganhar campeonatos?

A profissionalização total e completa da profissão Árbitro de Futebol é algo pra ontem. Se quem vai pagar os salários é a Fifa, a Conmebol ou a CBF, aí vale uma discussão jurídico-trabalhista. Mas os árbitros precisam ter, no mínimo, as mesmas condições que os atletas. Não que ganhem os mesmos salários, mas que tenham um fixo mensal, direitos trabalhistas e condições de equipe e equipamentos

Malandragem contra a autoridade

Historicamente no Brasil, os jogadores são treinados e moldados para enganar a arbitragem. E a gente sempre gostou da “malandragem” disso. Basta lembrar quando Nilton Santos fez aquele pênalti contra a Espanha em 1962, mas com um passinho pra fora da área, o penal não foi dado aos espanhóis. Algum brasileiro se revoltou? Ao contrário, foi considerado mérito. Ou quando Rivaldo, ao cobrar um escanteio contra a Turquia em 2002, simulou uma bola no rosto, provocando a expulsão de um atleta turco que beneficiou a Seleção. Nesses e em tantos outros casos, nós celebramos a “malandragem" dos nossos jogadores, como se eles fossem heróis que enganaram a autoridade que só queria nos prejudicar.

A malandragem sempre foi vista como positiva no nosso futebol - Rivaldo contra Turquia em 2002

Então, como não vamos mudar nossa cultura - seguirão 22 jogadores em campo tentando enganar e ludibriar a arbitragem por 90 minutos - se queremos que os árbitros parem de errar tanto, precisamos dar condições a eles. Precisamos salvar a arbitragem brasileira. Com uma formação acadêmica técnica obrigatória, com testes, com cursos de atualização, mas principalmente, com uma profissionalização completa e que eles tenham as mesmas condições de trabalho que os atletas que jogam com eles. 

Enquanto isso não acontecer, toda semana teremos dirigentes indignados, influencers babando feito malucos e programas esportivos monotemáticos falando apenas dos erros de arbitragem. A escolha está clara. Precisamos salvar a arbitragem brasileira.

Pitaco do Guffo - leia mais colunas

Gustavo Fogaça escreve sua coluna no Lance! nas noites de segunda e quinta-feira. Leia outras publicações do colunista nos links abaixo:

➡️O detalhe tático da virada do Flamengo
➡️Quais os favoritos para vencer a Champions?
➡️O paradoxo do clube grande no Brasil

Siga o Lance! no Google News