O dia 31 de outubro marca o Halloween, celebração anual difundida em diversos países e reconhecida pelas suas histórias sombrias. No universo do futebol, a data pode ser associada às chamadas "maldições" que, segundo crenças populares, perseguem jogadores, clubes e até cidades, atribuídas à influência de forças sobrenaturais para justificar fracassos. Nesse contexto, o Lance! reuniu algumas das mais coincidências tenebrosas do futebol internacional — algumas já superadas, outras ainda presentes — que continuam a alimentar o imaginário e a paixão dos torcedores ao redor do mundo.
Maldições quebradas 🧩
❌🏆 Harry Kane 🦶🧊
Para abrir o hall das maldições já quebradas, nenhuma seria mais simbólica do que aquela associada a um dos maiores craques do futebol mundial na última década, que vive possivelmente o auge da carreira em 2025/26: Harry Kane. Durante anos, acreditou-se que o inglês carregava uma espécie de maldição que o impedia de conquistar qualquer troféu.
Kane passou 12 temporadas no Tottenham Hotspur sem erguer um título, apesar de levar o clube às finais da Copa da Liga Inglesa em 2015 e 2021, e à inédita decisão da Champions League em 2019 — todas terminadas em vice-campeonato. Maior artilheiro da história do Spurs, o centroavante também acumulou frustrações com a seleção da Inglaterra, chegando às semifinais da Copa do Mundo de 2018 e às finais da Eurocopa em 2020 e 2024, perdendo respectivamente para Itália e Espanha, além de desperdiçar um pênalti decisivo contra a França nas quartas de final do Mundial de 2022.
A crença na maldição se intensificou em 2023, quando Kane foi contratado pelo Bayern de Munique, clube que vinha de 11 títulos consecutivos da Bundesliga. Logo em sua estreia, perdeu a Supercopa da Alemanha para o RB Leipzig, e, ainda na mesma temporada, foi eliminado de forma precoce da DFB-Pokal e da Champions.
O Bayern ficaria sem conquistas pela primeira vez em 12 anos — coincidência que reforçou a narrativa negativa do camisa 9. O estigma, porém, chegou ao fim em 2024/25, quando o clube reconquistou o título da Bundesliga e, enfim, Harry ergueu o primeiro troféu de sua carreira profissional.
🔴⚫ Bayer "Neverkusen" ❌🏆
Ainda no futebol alemão, o caso do Bayer Leverkusen é igualmente emblemático. Conhecida por campanhas consistentes, mas por sucumbir nos momentos decisivos, a entidade rubro-negra ganhou fama por "amarelar" nas fases finais das competições.
A reputação tornou-se tão marcante que o time passou a ser apelidado de "Neverkusen" — um trocadilho com a palavra em inglês never ("nunca") —, em alusão às repetidas ocasiões em que o Leverkusen chegou perto, mas não conseguiu erguer a taça, consolidando essa imagem não apenas na Alemanha, mas também em toda a Europa.
A alcunha ganhou força especialmente após 2001/02, quando o time terminou em segundo lugar nas duas principais competições nacionais — Bundesliga e Copa da Alemanha — e também na Champions. No período entre 1998 e 2002, o clube ficou com o vice-campeonato nacional em três das quatro temporadas. O infortúnio foi agravado pelo fato de a seleção da Alemanha, vice-campeã da Copa do Mundo diante do Brasil, contar com cinco jogadores do Leverkusen.
Entretanto, o Bayer encerrou a maldição na histórica campanha de 2023/24, ao conquistar a dobradinha nacional de forma invicta. Em nível europeu, o clube ficou a um passo de uma temporada perfeita, mas acabou derrotado pela Atalanta por 3 a 0 na final da Europa League.
⚪🔵 Argentina em 1986 🤔
Antes da Copa do Mundo de 1986, o técnico da seleção da Argentina, Carlos Bilardo, escolheu a cidade de Tilcara como local de preparação e fez uma promessa à Virgem de Copacabana: caso a Albiceleste conquistasse o título, retornariam para agradecer. A equipe conquistou o torneio naquele ano, garantindo a segunda estrela mundial de sua história, com uma atuação magistral de Diego Armando Maradona ao longo da trajetória.
No entanto, Bilardo e o elenco não cumpriram o juramento. Logo, a maldição teria começado na Copa seguinte, em 1990, quando a Argentina avançou à final, mas foi derrotada pela Alemanha Ocidental. Nas edições seguintes, a seleção enfrentou repetidas decepções: eliminada nas oitavas de 1994 pela Romênia, nas quartas de 1998 pela Holanda, na fase de grupos de 2002, derrotada pela Alemanha nas quartas de 2006 e 2010 — além da final de 2014 — e caiu diante da França nas oitavas de 2018.
As campanhas na Copa América também foram frustrantes, incluindo vice-campeonatos em 2004, 2007, 2015 e 2016, terceiro lugar em 2019 e eliminação nas quartas de 2011 pelo Uruguai. Bilardo, por sua vez, negou envolvimento, mas a confirmação da visita a Tilcara irritou parte dos torcedores, que acusaram os campeões de 1986 de desonrar sua promessa.
Em março de 2018, alguns ex-jogadores do bicampeonato mundial retornaram a Tilcara para se redimir e pedir perdão, e a Argentina, posteriormente, conquistou quatro grandes títulos consecutivos: a Copa América de 2021, a Finalíssima de 2022, a Copa do Mundo de 2022 e a Copa América de 2024.
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🏆 Campeão do mundo em X, decepção em Y 🌍
A partir de 2002, estabeleceu-se um padrão nas Copas do Mundo: as seleções europeias campeãs da edição anterior foram frequentemente eliminadas ainda na fase de grupos do torneio seguinte. A França, vencedora de 1998, caiu precocemente em 2002; a Itália, campeã em 2006, teve o mesmo destino em 2010; a Espanha, que ergueu a taça em 2010, foi eliminada na fase inicial em 2014; e a Alemanha, campeã em 2014, repetiu o fracasso em 2018, tornando-se a terceira campeã mundial consecutiva e a quarta em cinco edições a não avançar.
O tabu dos campeões europeus foi finalmente quebrado em 2022, quando a França, vencedora de 2018 e responsável pelo início da sequência negativa, liderou seu grupo, avançou às oitavas de final e chegou até a decisão do torneio, encerrado com a Argentina como campeã. Por outro lado, a Itália, integrante do seleto grupo, não conseguiu avançar às fases eliminatórias desde 2006, tendo falhado até na classificação para as duas últimas edições.
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🔴🔴 Liverpool e o feiticeiro 🧙
Um dos clubes mais tradicionais da Inglaterra e do futebol mundial, o Liverpool enfrentou décadas de jejum no Campeonato Inglês. Os Reds voltaram a conquistar o título nacional apenas em 2019 — o primeiro na era Premier League —, após uma espera que se estendia desde a temporada 1989/1990. Entre as explicações para o longo período sem conquistas, muitos apontam o ex-goleiro Bruce Grobbelaar como o responsável. Com mais de 600 partidas, ele defendeu o clube entre 1981 e 1994.
O arqueiro declarou que a longa seca de títulos dos Reds na liga inglesa teria sido consequência de uma maldição lançada por um feiticeiro durante uma partida em sua homenagem, em 1992. Segundo ele, o suposto feitiço determinava que o Liverpool jamais voltaria a conquistar o campeonato, a menos que ele urinasse nas quatro traves de Anfield.
Em dezembro de 2019, Grobbelaar revelou ter cumprido o ritual após uma partida beneficente realizada em maio daquele ano, embora já tivesse sido flagrado urinando nas traves do estádio em 2014. A curiosa confissão veio à tona justamente quando o Liverpool encerrou o jejum na temporada 2019/2020, o 19º troféu da história da entidade no torneio.
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Eternos fantasmas? 👻
🔵⚪ Alianza Lima 🤝 Libertadores 🌎
A maldição do Alianza Lima tornou-se uma lenda no futebol sul-americano, inclusive entre clubes brasileiros. Isso porque, desde 1998, todos os clubes que caem no mesmo grupo da instituição peruana não conseguem ser campeões da Libertadores. O River Plate chegou próximo de quebrar o tabu, mas — nos minutos finais — foi derrotado pelo Flamengo por 2 a 1 na final de 2019.
O mais curioso é que o Alianza não apresenta um retrospecto expressivo em busca da Glória Eterna. Os peruanos chegaram a acumular um recorde negativo de quase 50 jogos sem vitória ao longo de sua história da competição continental.
⚪🔴 River Plate ⚔️ Europa 🌍
Se a maldição do Alianza Lima é amplamente conhecida na América do Sul, a atribuída ao River Plate ganhou notoriedade principalmente no Velho Continente. Segundo a crença, qualquer equipe europeia que enfrente os Millonarios em competições Fifa jamais vencerá qualquer torneio continental.
No histórico entre Copa Intercontinental e Mundial de Clubes, o River venceu o Steaua București na final de 1986, mas perdeu para a Juventus em 1996 e para o Barcelona por 0 a 3 em 2015. Desde então, o Barça não voltou a disputar uma final da Champions, o time romeno perdeu a final de 1989, e a Juve somou cinco derrotas consecutivas em finais europeias (1997, 1998, 2003, 2015 e 2017).
🟢🟡 Brasil ⚔️ Europa 🌍
A última e mais temida maldição para o torcedor brasileiro está ligada a um padrão persistente do Brasil em Copas do Mundo: todas as eliminações recentes ocorreram diante de seleções europeias. Desde o pentacampeonato de 2002 sobre a Alemanha, o Brasil foi eliminado nas edições seguintes por equipes europeias, incluindo tanto países que nunca foram campeões mundiais quanto carrascos históricos.
A Amarelinha perdeu para França em 2006, Holanda em 2010, Alemanha em 2014, Bélgica em 2018 e Croácia em 2022. Quatro dessas cinco derrotas ocorreram nas quartas de final, exceto em 2014, quando o Brasil sofreu a histórica derrota por 7 a 1 diante da Alemanha nas semifinais, em pleno território nacional.
