Democratizar o estatuto do Corinthians e ter a Fiel como voz atuante na reforma do estatuto do clube. Foram essas as ideias que motivaram torcedores do Timão a criar o "Coletivo Voz Corinthiana", iniciativa popular que pretende participar ativamente de mudanças estruturais do clube.

O coletivo nasceu de interações de torcedores das redes sociais e vem alcançando protagonismo na discussão da reforma do estatuto do Corinthians, projeto que tramita no Conselho Deliberativo e deve ser votado até dezembro deste ano, segundo declarações do presidente do órgão, Romeu Tuma Jr.

Philippe Rocha e Fábio Prudente debatiam melhorias para a política interna do Corinthians, que incluíam o direito a voto de membros do Fiel Torcedor, programa de sócios do clube, quando decidiram estudar a fundo o estatuto do clube.

- A ideia surgiu de uma discussão minha com o Fábio sobre esse tema do aumento do Fiel Torcedor, o Fábio tinha feito uma postagem no Twitter falando sobre isso, nós não nos conhecíamos, e aí eu comentei a postagem dele, e assim, sempre buscando propor alguma coisa, isso é fundamental, não era uma discussão vazia. Tivemos a primeira interação ali, começamos a nos seguir, a conversar, teve uma afinidade por ambos serem de São José dos Campos, e aí a gente… o Fábio tem uma base técnica, ele é advogado, tem pós em Direito Desportivo, então ele já tinha mais conhecimento do nosso estatuto e a importância de se adequar à Lei Geral do Esporte. Pelo meu lado, sempre tive algumas ideias do que seria bom ao Corinthians, e eu estava em um momento em que estava lendo o estatuto do clube, havia muita discussão, e eu estava lendo, e era muito difícil, as coisas que eu entendia estavam muito abertas, nada no nosso estatuto é amarrado, e eu já tinha essa vontade de olhar o estatuto e “isso aqui é completamente errado”, não faz sentido para o Corinthians, para aquilo que buscamos, e algo precisa ser feito - conta Phillipe em entrevista ao Lance!.

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(Foto: Reprodução/Coletivo Voz Corinthiana)

Como surgiu?

Após o primeiro contato, os torcedores entenderam que era hora de reunir quem também se incomodava com a situação do clube. Aos poucos, outros corinthianos se juntaram, e assim nasceu o Coletivo Voz Corinthiana, que hoje conta com 18 integrantes: Adriano de Santos, Augusto Becks, Cauê Fróes, Diogo Oliveira, Fábio Prudente, Felipe Brunieri, Fernando Domingos, Gabriel Pellegrini, João de Mattos, Lívia Corregio, Marcelo Scartezini, Matheus Modina, Philippe Rocha, Rafael Pacheco, Rodrigo Delecrode e Weslei Marinho. Entretanto, o objetivo do grupo não é se destacar individualmente, mas representar a Fiel Torcida e dar voz a quem acredita em um Corinthians mais democrático.

- O coletivo surgiu em um movimento independente na internet, somos torcedores comuns, não somos, tem no meio destes torcedores comuns sócios e não sócios, são pessoas de diferentes áreas de conhecimento, o que nos ajuda bastante a ter uma visão mais ampla, e diferentes opiniões, então temos pessoas de marketing, administração, economia, advogados, enfim, tem bastante áreas aqui dentro, até geógrafo tem. Esse movimento se deu início na internet, justamente com a pauta do Fiel Torcedor votar, o direito ao voto do Fiel Torcedor, a importância de se ter o aumento do colégio eleitoral, um clube do tamanho do Corinthians ter cerca de 2.400 votantes, mais ou menos a média da última eleição, é um absurdo, ainda mais se a gente contar com a história do Corinthians, de como o clube vem sendo construído há 115 anos é ainda mais absurdo - conta o torcedor.

- Em relação ao nome, foi muito difícil escolher, a gente não sabia muito bem, é muito difícil, desde sempre tivemos muita responsabilidade, muito respeito pela palavra democracia e o peso que ela tem dentro do Corinthians, por mais que tivéssemos uma ideia democrática, não queríamos trazer esse peso para um projeto novo, e é uma coisa: deixa na história as pessoas que construíram o Corinthians até aqui, vamos pensar em coisas novas. Uma coisa que sempre falamos é de dar voz ao torcedor, nossa proposta é para torcida, ela precisa ter voz dentro do Parque São Jorge, precisa entender o estatuto, e surgiu muito por falas de que o clube não é do torcedor, que o clube é do associado, então o que a gente quer é dar uma voz à nossa torcida, então surgiu o nome do Coletivo Voz Corinthiana - completou.

Principais bandeiras

A partir de formulários aplicados nas redes sociais e na internet, o grupo ganhou visibilidade e passou a reunir as principais demandas dos torcedores do Corinthians no processo de reforma do estatuto, com base em dois pilares: Democracia e Profissionalização.

- Os dois principais pilares que temos, toda a proposta foi elaborada sobre elas: Democracia e profissionalização. A democracia para revisitar a nossa história, voltar um pouco ao passado, e profissionalização porque precisamos e é o que queremos para o futuro. E aí, para não banalizar a palavra democracia apenas como uma narrativa, tínhamos que construir justamente com a torcida. O processo foi desenvolvido a partir de um formulário, feito no Google mesmo, em que as pessoas podiam mandar as ideias, e aí a gente fazia o trabalho de viabilidade dentro do Parque São Jorge, e também de legalidade, para estar dentro da Lei Geral do Esporte, um dos principais pontos teóricos que nos guiam. Então tudo que a gente desenhou e redesenhou gira em torno disso, e aí nascem as propostas - conta em entrevista ao Lance!.

Principais mudanças

Entre as propostas apresentadas pelo coletivo, estão a remodelação do organograma da diretoria, com o fim do cargo de vice-presidente e a inserção de um CEO profissional para comandar a gestão executiva. O documento também sugere a criação de um programa específico de sócios voltado exclusivamente para a participação política do clube, com tempo de carência menor para votação, e a realocação do Conselho de Vitalícios para uma função de caráter consultivo, reduzindo seu poder deliberativo.

- Para falar de Democracia, o voto amplo do Fiel Torcedor, e aí é para presidente e conselheiros, o voto proporcional e individual para o Conselho Deliberativo, que traz uma pluralidade maior dentro do próprio conselho. Hoje 43% dos votos dos associados não estão representados dentro do Conselho Deliberativo, então é uma situação muito complicada. Sobre profissionalização, buscamos trazer critérios objetivos para ocupação de cargo, entra naquilo que falei do estatuto ser aberto, hoje o Corinthians pode contratar um profissional, ele não é impedido, então tem o Fabinho Soldado, tivemos o Fred Luz que foi o CEO. Então a primeira coisa é estabelecer que precisa ser profissional, parece básico, mas tem que ser a prioridade. Mudamos todo o organograma para trazer mais esse lado profissional, então a substituição do secretário-geral para a figura do CEO, tirar o cargo de segundo vice-presidente, na nossa visão não faz sentido. Os diretores também seguem critérios pré-estabelecidos, contratação de CEO seria feita por via de uma empresa de headhunter. Então, a gente foi desenhando em torno desses dois pilares, e ajeitando a ideia dos torcedores em torno destes dois pilares - disse Philippe ao Lance!.

Nova classe de associados

- Pensando na urgência de aumentar o colégio eleitoral, fizemos o cálculo para redução do período de carência. Então, porque são cinco anos, entendemos a justificativa que deram, mas a gente não concorda com isso, precisamos de uma mudança rápida, ela tem que vir na próxima eleição, o que será difícil, mas na outra precisamos de um torcedor mais politizado com poder de voto. E aí entendemos que precisa reduzir essa carência, pensando que a situação precisa mudar rápido. Não dá para colocar um período de carência de um ano, porque daí alguém compra uma porrada de títulos e será presidente. Então, a próxima eleição, daqui três anos, seria interessante ter essa pessoa votando. Fizemos alguns cálculos e hoje, um título individual, para ter os direitos políticos, custa em torno de R$ 11.500, porque você gasta R$ 2 mil pelo título e depois cinco anos de parcelas de R$ 190. Ao todo, você chega neste valor. Quando abrimos uma enquete ao torcedor sobre os motivos de ele não ser sócio, um dos principais era o valor. E aí, uma forma de a gente conseguir diminuir esse valor, sem que haja uma debandada do Parque São Jorge, é manter o valor do título em R$ 2 mil - explicou ao Lance!.

Mudanças nos vitalícios

- Os conselheiros vitalícios vão de encontro com a viabilidade política do Parque São Jorge, a torcida, e a gente recebeu muita ideia de “tem que acabar com os vitalícios”, teve abaixo-assinado para acabar com os vitalícios, porém, a gente entende que a realpolitik é diferente, o poder está na mão destes caras, não tem como falar “fora os vitalícios”, porque isso não vai acontecer, e aí é dar murro em ponta de faca, vender uma ilusão ao torcedor. Mas concordamos que é uma estrutura que não faz sentido, então a gente pensou em uma norma de transição, não é tirar os vitalícios, é criar um novo órgão, no qual eles fazem parte, vão seguir fazendo parte da vida política do Corinthians, porém eles não têm direito ao voto mesmo, eles são um órgão de aconselhamento institucional, até para respeitar quem está lá há anos, e que viveu muita coisa, e essa experiência pode ser utilizada para algo bom ao Corinthians. Pensamos desta forma, não simplesmente tirar os vitalícios, mas redesenhar e trazer um novo significado a eles - disse ao Lance!.

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