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Posse de bola, contexto e importância do volante: como jogam as equipes de Luís Castro, na mira do Botafogo

Português 'não vende' a ideia de construir pelo chão e com toques curtos, tem o volante como centro de todo o jogo mas é adaptável quanto esquema e forma de se comportar

Luís Castro pelo Shakhtar Donetsk, da Ucrânia (Foto: Divulgação/Shakhtar)
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Se contratado, Luís Castro deve causar uma mudança estrutural na equipe do Botafogo. O nome dos sonhos de John Textor para o lugar de outrora foi de Enderson Moreira, demitido nesta sexta-feira, é o do português, atualmente no Al Duhail, do Qatar. O clube já iniciou conversas com os empresários do profissional e tem expectativa por um final feliz.

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Do trabalho de base que revolucionou o Porto à chegada no Qatar, Luís Castro também soma uma passagem de destaque no Shakhtar Donetsk. Na Ucrânia, conquistou um campeonato nacional e foi semifinalista da Liga Europa em dois anos no comando do time. Também levou o Vitória de Guimarães a uma vaga na Europa League com a 5ª colocação no Campeonato Português em 2018-19.

Resultados à parte, Luís Castro leva o contexto em que está inserido e as relações humanas como prioridades. A formação tática preferida do técnico é o 4-2-3-1 variando ao 4-3-3. Por vezes, adota a linha alta na defesa e tenta pressionar a saída de bola, mas nem sempre as equipes têm esse perfil, tudo depende das características do plantel. Não há uma ideia presa.

A única característica 'inegociável' de Castro é a valorização da posse de bola. O português busca ataques apoiados, buscando chegar ao campo ofensivo por meio de passes curtos e triangulações - seja lá por quanto tempo seja necessário para criar o espaço. Vítor Severino, auxiliar do comandante, compartilhou um pouco das ideias em seu perfil no Twitter.

– É um treinador que valoriza bastante a posse de bola, prefere ligar o jogo desde trás e dominar o adversário sempre que possível. O sistema preferido é o 433. Importante ter jogadores com alguma qualidade técnica para iniciar a construção - explicou Tomás da Cunha, jornalista português do "Eleven Sports", ao LANCE!.

– Fez grandes trabalhos em clubes de média dimensão, como o Rio Ave e o Chaves, praticando esse estilo de futebol e valorizando muitos jogadores. No Porto, teve uma experiência no time principal, sucedendo o Paulo Fonseca. Depois substituiu-o outra vez no Shakhtar. A vitória mais impactante foi contra o Real Madrid, na Espanha - completou Tomás.

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TUDO PASSA PELO VOLANTE

​O volante talvez seja a figura principal do jogo de Luís Castro. Pela valorização da posse de bola, é consequência que zagueiros e até mesmo o goleiro saibam sair jogando com a bola no chão, mas o movimento de toda a equipe é guiado pelas ações do primeiro volante.

Em todas as equipes que passou - seja lá com qual esquema adotou - os times tinham um primeiro volante responsável por se apresentar no setor em que a bola estava, se mostrar como uma opção de passe e guiar o time rumo ao ataque. O próprio Luís explicou a filosofia no programa "The Pitch Invaders", o podcast do Footure.

– O volante é determinante na equipe, é um farol. Quando a equipe está perdida ou em apuros tem que procurá-lo. A equipe tem um coração e são os jogadores que estão no meio, que decidem os caminhos que vão a bola. O volante é o jogador que faz jogador, o jogador que equilibra, que faz rupturas, que dá apoio ao triângulo... é tudo. Tem que perceber onde estão os espaços para entrar e roubar. O jogo é uma constante conquista de espaços. Eu quero conquistar e roubar o do adversário para que ele não jogue. Tem que ser um jogador muito cerebral.

Marcos Antônio, do Shakhtar (Foto: Divulgação/Shakhtar)

No Rio Ave esse jogador foi o sérvio Radosav Petrovic, atualmente no Almería-ESP; no Chaves, a responsabilidade foi do canadense Stephen Eustáquio, hoje no Porto; o Vitória de Guimarães foi guiado por Pêpê, hoje defendendo as cores do Famalicão; no Shakhtar a responsabilidade foi alternada entre Taras Stepanenko e o brasileiro Marcos Antônio. No Al Duhail a função é de Assim Madibo. Diferentes jogadores, a mesma função.

Muito da crença pelo jogo apoiado no toque de bola passa pelo gosto pessoal de Luís Castro, que acredita que o futebol também é um meio de espetáculo. Na mesma entrevista, o português explicou que uma das intenções ao comandar um time é que todos os atletas façam parte da engrenagem.

– Gosto que todos os meus jogadores participem do jogo. Nós hoje temos ativos que compramos 5 milhões e temos que vender por 20, outros que compramos por 20 e temos que vender por 50. Tenho que ter um jogo estético, de qualidade e inclusão permanente dos meus jogadores. Até posso ser mais eficaz no jogo direto, mas nem todos vão participar. O modelo do futebol é desenvolver e vender. Um treinador é contratado para ser campeão da maneira que seja. Eu também quero ser campeão. Mas além de ser campeão, eu tenho que desenvolver meus jogadores e a administração precisa ter rentabilidade financeira. Tenho que apresentar um jogo de qualidade e inserção. Valorizo muito a estética do jogo mas também porque sei da rentabilidade.

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CONTEXTO IMPORTA

Luís Castro leva a parte mental do futebol muito a sério. Para o português, o jogador se desenvolverá nos jogos se tiver na cabeça de forma repetida o que deve ser feito em campo. Muito disso, contudo, parte do próprio atleta e das respectivas habilidades de improviso. O comandante acredita que tudo isso pode ser treinado e colocado no dia a dia.

– Claramente é treinado (improviso/capacidade mental). No treino temos uma equipe em mãos que não sufoca tanto, perde o foco ao longo. Se mesmo nessa transição de treino obrigamos o jogador a estar ligado a nós ou se pedimos para continuar com a equipe agarrada, sem deixar desligar a nenhum momento em conversar entre eles, podemos criar isso. São exercícios em alta intensidade, sem nenhuma quebra, sem conversas, com os jogadores ligados o tempo inteiro. Tudo prova que é treinável. O treino tem que andar muito próximo do jogo. Quando um jogador entra em frustação porque eu gritei na frente de um colega é alguém que está em déficit de atenção. Um jogador que não aguenta a crítica de um treinador em um treino não vai aguentar a pressão dos torcedores em um estádio - explicou o português.

– Só indicamos caminhos, não obrigamos caminhos. Não podemos ter a tentação de transformar jogadores em robôs. O jogo de futebol nunca será o meu PlayStation. Quando temos jogadores criativos é fundamental que os outros percebam e entendam o que está passando. É importante percebemos que a decisão está sempre na crença dos jogadores. A tomada de decisão é algo que nos jogadores mais criativos podemos indicar caminhos. O jogador não é uma máquina, não é comandado por nós ali no banco por um controle. Os jogadores mais criativos são aqueles que trazem o lado mais instável, aquilo que ninguém espera - completou.

Shakhtar de Luís Castro venceu o Real Madrid (Foto: OSCAR DEL POZO / AFP)

Como se comportam as equipes de Luís Castro? Bom, tudo depende daquilo que está por vir. Não há uma ideia presa ou uma "receita de bolo" do que o time precisa necessariamente seguir para correr atrás da vitória. Há crenças no estilo de jogo, claro, mas o contexto adaptável traz múltiplas alternativas.

– É totalmente diferente jogar um jogo de campeonato e logo depois enfrentar um City, um Real Madrid. Temos que mudar os jogadores em muito pouco tempo e aí entramos em uma área que é decisiva, a cultura desportiva do jogador, a forma como o jogador se movimenta dentro do jogo para ter a dimensão de rendimento. Muitas vezes olhamos o jogador pelas dimensões técnica, tática e física, esquecemos da dimensão mental - afirmou Luís.