Há cerca de três meses no Palmeiras, Mendieta já se tornou um dos principais jogadores da equipe. Porém, o que pouca gente sabe é que há dez anos ele teve uma passagem por São Paulo, mas não teve o seu sonho de ser atleta realizado.
Após disputar um torneio na cidade de Marília, em 2003, aos 14 anos, foi convidado por uma pessoa que se dizia do Juventus para atuar pelo clube. Após retornar ao Paraguai, aceitou o convite e voltou ao Brasil.
A parte mais esquisita da história aconteceu quando ele chegou ao país. Naquele ano, o Moleque Travesso não tinha time nas categorias de base até o sub-20. Mendieta diz que treinava com a camisa da equipe, e hoje reconhece a cor grená e o símbolo. Mas ele nunca chegou a treinar nas dependências do clube e nem sequer passou perto do estádio na Rua Javari. Também não assinou contrato, ficha ou qualquer documento que o ligasse de fato à equipe e não recebia nenhum dinheiro.
Também não houve jogos. Apenas treinamentos – que não aconteciam na Mooca – e alguns amistosos. A moradia era na casa de um empresário, chamado de Adelmo. Ele e mais vários garotos viviam no local, em uma casa grande, no bairro da Bela Vista. Mas Mendieta ficou apenas quatro meses, por não ter escola para estudar e pela saudade da família. Quando foi embora, indicou Ivan Piris, ex-São Paulo e hoje no Sporting (POR), que era seu amigo em Assunção. Ele confirmou que viveu a mesma situação, sem nunca ter entrado no Juventus (veja abaixo).
Hoje, cerca de dez anos depois, a situação do meia é totalmente diferente. Possivelmente aquela que ele sonhava quando morou no Brasil. Famoso, estabelecido em um grande clube e se firmando cada vez mais. Mas uma coisa continua igual: a dificuldade na adaptação a na língua.
– Complicado, né? (risos) Eu entendo mais, mas falo muito pouco, alguma coisa quando se fala muito rápido eu fico perdido. Eu peço para que falem devagar, ou pergunto para o Valdivia, para alguém falar em espanhol – contou ele, ao LANCE!Net.
A experiência no passado ajudou Mendieta a conhecer o Brasil. Após a passagem “estranha” por aqui, o retorno definitivo tem sido triunfal.
Confira uma entrevista exclusiva com Mendieta:
LANCE!Net: Como tem feito para aprender português? Está fazendo aulas?
MENDIETA: Não, no dia a dia estou aprendendo, todo mundo está me ajudando para falar também, os companheiros ajudam, quando estou concentrado eles ficam pedindo para eu falar português, então estou aprendendo. Creio que em pouco tempo já vou conseguir falhar melhor.
L!Net: O grupo está ajudando?
M: Sim, todos estão ajudando muito a falar e entender português, tenho amigos que estão ajudando a compreender mais rápido. Todos são boas pessoas, sabem que sou de outro lugar, eles todos me ajudam a me adaptar rapidamente ao Brasil.
L!Net: Valdivia é o que mais lhe ajuda?
M:Desde que cheguei foi ele quem se aproximou para me ajudar. Idioma é complicado, é um parceiro que está me ajudando sempre para aprender o português e me adaptar aqui. Ele me ajuda bastante fora daqui, sempre fala como está a cidade, fazemos almoço ou jantamos junto com nossas famílias. É muito importante.
L!Net: Tem gostado de São Paulo?
M: É muito bom, uma cidade muito grande, trânsito é difícil, tem de tomar cuidado para ir a algum lugar. Estou gostando muito daqui. Já vim a São Paulo antes jogar com outros times, já sabia como era aqui, já morei aqui antes.
L!Net: E o trânsito?
M: Aqui é complicado (risos). Já perdi voo por causa do trânsito. Saí muito antes, mesmo assim perdi. Quando vou a algum lugar saio três horas antes, porque é difícil. Assunção é complicado, mas a cidade é menor. Aqui é bem mais difícil.
Confira um "Com a palavra" de Fabricio Crepaldi, repórter do Núcleo Palmeiras:
"Tenho a mesma idade de Mendieta, ambos nascemos em 1989. Joguei no Juventus dos 5 aos 13 e saí em 2002, justamente quando acabaram todos os times da base do clube.
Havia uma empresa que bancava as equipes e saiu exatamente do final de 2002 para o começo de 2003. Com isso, as atividades nas categorias inferiores acabaram, já que não havia dinheiro suficiente para mantê-las, e só voltaram para a temporada de 2005.
Dessa forma, são grandes as chances de o tal empresário ter se aproveitado desse momento para usar o uniforme do clube de alguma maneira e ter os jogadores.
Seria impossível atletas serem ligados ao Juventus de maneira oficial sem nunca terem sequer visto ou entrado na Rua Javari e nem falado com algum diretor do clube. Além disso, o clube não deixaria os meninos sem estudar. Em 2001, Hernanes foi dispensado por não acharem uma escola.
Confira um "Com a palavra" de Ivan Piris, lateral do Sporting (POR), que jogou no "suposto Juventus" a convite de Mendieta:
"Cheguei ao Brasil assim que o Mendieta saiu, éramos amigos em Assunção e quando ele foi embora me chamou para o lugar dele. Eu fiquei apenas três meses, porque se eu estudasse não conseguiria voltar todo mês para o Paraguai.
Era com a roupa do Juventus, mas nunca cheguei a ir ao estádio ou ao clube e os treinos eram em outro lugar. Morávamos na casa do empresário, perto da Nossa Senhora de Achiropita, muitos meninos moravam lá. Não recebíamos nenhum dinheiro lá, ele só pagava a moradia e comida.
Nós jogávamos apenas alguns amistosos, nunca cheguei a assinar contrato ou qualquer documento e nem falei com nenhum diretor do clube. Nunca disputamos nenhum campeonato.
Eu só treinava, fiquei pouco tempo, então nunca pensei que estava sendo enganado. Me ajudou por conhecer o Brasil, não cheguei a passar necessidade."
Vida em São Paulo
Família
Mendieta mora perto do Palmeiras, com a esposa Karina e as filhas Karen e Camila. Para o jogador, ter a família ao lado o ajuda muito na adaptação. Segundo ele, quando está de folga costuma ficar com as crianças, que sempre pedem para ir em um lugar para brincar. Almoços e jantares com a família de Valdivia também são muito comuns no dia a dia deles.
Trânsito e GPS
Mendieta tem sofrido com o trânsito em São Paulo. Como mora perto do Palmeiras, tem de atravessar toda a cidade para chegar ao aeroporto de Guarulhos. Por conta disso, já perdeu um voo. Na outra vez, o culpado foi o GPS, que o mandou para um lugar errado quando ia buscar a família. Chegou uma hora depois. Agora, diz que sai cerca de três horas antes dos compromissos.
Problemas do português
A língua tem sido o grande empecilho, principalmente na hora de pedir comida. Segundo ele é difícil entender quando falam muito rápido. Certa vez, tentou pedir uma pizza de presunto e queijo, falando em espanhol: jamón e queso. Porém, o que chegou à mesa foi algo diferente, que ele não conseguiu identificar. Após algumas dificuldades na comunicação, conseguiu trocar.