Alcides dispara contra presidente do Flu |
Assim que soube da demissão, no último sábado, o ex-vice de futebol do Fluminense Alcides Antunes convocou coletiva para, segundo ele, "esclarecer algumas coisas". Mas, nesta terça-feira, em longa conversa com a imprensa numa pomposa churrascaria na Zona Oeste do Rio, nenhuma luz foi colocada à sombria crise que toma conta das Laranjeiras.
Chateado com a forma com que fora informado de seu desligamento, disse que se sentiu desrespeitado por não ter recebido sequer um telefonema. Admite torcer para o sucesso do novo presidente tricolor, Peter Simsen, (que anunciou sua saída por meio de uma coletiva de imprensa), mas pede para que este deixe de conduzir seu trabalho apenas sob a ótica da Flu-Sócio. O grupo político, vitorioso nas últimas eleições, é apontado como o responsável pela pressão que culminou na sua retirada do deparmento de futebol.
Alcides também garantiu que tinha um "relacionamento de amigo" com o ex-técnico do Flu, Muricy Ramalho, e afirmou que sua saída influenciou na decisão tomada por ele de deixar o clube. Outra razão apontada pelo cartola que teria aumentado a insatificação de Muricy seria a interferência da presidência no seu trabalho.
Confira os principais trechos da entrevistas:
DEMISSÃO NO SÁBADO
Fui demitido oficialmente na quinta-feira à noite. Recebi um telefonema do Celso Barros dizendo que o Peter (Siemsen) havia me demitido. Tínhamos um jogo muito importante no domingo, um Fla-Flu, e pediram para que eu ficasse até o fim e saísse na segunda.
Gostaria de receber um comunicado via telefone. Tenho uma história no clube. Merecia um pouco de respeito. Bastaria me chamar para conversar. Agora, armar uma coletiva para me demitir, com o pessoal da Flu-Sócio dando gargalhadas e pazendo piadinha? Isso é falta de respeito.
Mas não foi privilégio meu. Todas as últimas demissões têm sido assim.
SAÍDA DE MURICY RAMALHO
A estrutura que o Muricy teve no Fluminense, não teve em clube algum. Foi blindado o tempo todo. Só eu mandava no futebol e era isso que ele gostava. Quando soube que eu iria sair, fico chateado. Já vinha acumulando a questão da falta de estrutura. Mas não foi apenas isso. O Muricy saiu porque sabia que não teria mais condições de conduzir o trabalho que ele tinha em mente.
Sobre suas reclamações quanto à estrutura física, o único defeito grave do campo é o nivelamento. Durante a última obra tivemos problemas. O vestiário também não é o ideal: não é um Mercedes, mas também não chega a ser uma carroça. Sobre as lesões, o Fred, o Emerson e o Diguinho se machucaram no Engenhão, e não nas Laranjeiras. Ano passado, fizemos uma sala de fisiologia. O Muricy tinha consciência de que um CT não nasceria da noite para o dia.
Espero que quem chegue possa dar continuidade ao trabalho. Desejo sorte aos que entrarem, irão encontrar um grupo comprometido.
RELAÇÃO COM O PRESIDENTE DO FLU
Em maio, o Peter apertou minha mão e disse que, se fosse eleito, deixaria continuar com nosso trabalho no futebol. Mas assim que ele se elegeu, começou a pressão do grupo Flu-Sócio, que não queria a minha permanência. Mas o doutor Celso (Barros), os jogadores e o Muricy batalharam e eu continuei.
Demorou para ele me indicar para o Conselho. E fui aprovado por 129 votos contra 30. Não sei por que eles (Flu-Sócio) não gostam de mim. Se fosse alguma coisa errada, até procuraria esclarecer, mas não fiz nada de errado. Ninguém é unanimidade. Mas a Flu-Sócio não gosta de mim e, automaticamente, o presidente não gosta.
É um rapaz novo. Se tiver vontade, consegue. Mas ele tem que esquecer as dívidas do passado. Já sabia que iria encontrar quando se candidatou. Não encontrou um real a mais do que sabia. Torço para que o Peter possa transformar as coisas. Porém, se for para ser novo dessa forma, ninguém vai querer. O velho é muito melhor. O que domina a vida desse grupo é o ódio. Se não for da Flu-Sócio, não presta. Peter não pode ser refém desse grupo. Eles têm ódio no coração. O presidente tem que tomar as atitudes por ele e não temer o grupo. Vai ser muito mais forte se conseguir quebrar o compromisso que tem com a Flu-Sócio.
BOATOS SOBRE BRIGAS COM MURICY
Começaram a aparecer notícias no jornal. Queriam encontrar um motivo para justificar minha saída. Começaram a procurar esses motivos. Apareceu que eu tinha brigado com o Muricy, mas eu não respondia nada e o próprio Muricy tratou de desmentir. Sempre tivemos um relacionamento correto, com repeito. Passei a compreender o jeito do Muricy: rabugento, aqui e ali - o que não era motivo para desentendimento algum. Nunca houve motivo para caracterizar brigas. Fora do futebol, tínhamos relacionamento de amigos.