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Gustavo Loio
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 11/09/2025
10:20
Atualizado há 4 minutos
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Para um dos esportes que mais crescem ao redor do mundo, o pickleball, somar forças, teoricamente, deveria ser regra para seguir em evolução. Mas, pelo menos em São Paulo, o panorama não é esse, e um dos alvos desse boicote, liderado pela Confederação Brasileira, em conjunto com a Federação Paulista, é a Liga Supremo, lançada no início de 2025 e que, nas cinco primeiras etapas, investiu mais de R$ 1 milhão. Quem faz a denúncia é Luca Cirenza, atleta que veio do tênis e que já acumula bons resultados nessa nova modalidade.

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- Joguei tênis profissionalmente, trabalhei com esse esporte nos EUA, onde também jogava pickleball. Voltei há pouco tempo dos EUA. Após jogar o primeiro evento da Liga Supremo, em Gaspar, fui um dos destaques, vice-campeão de duplas, e teve uma vontade por parte da Confederação Brasileira para me convocar para a seleção que vai disputar o Mundial. Esse contato primeiro veio através do Juca e do Paulo André, um dos presidentes da Confederação, juntamente com a Fernanda. Eles me chamaram para fazer um treino da seleção. Fui lá, tive uma performance boa, e falaram que queriam contar comigo para a seleção - revela o atleta, que já participou de exibições de pickleball com lendas do tênis americano, como Ivan Lendl, André Agassi (ex-líderes do ranking mundial) e John Isner.

Luca Cirenza e o americano Ivan Lendl, ex-número 1 do mundo no tênis (Arquivo pessoal)


De acordo com Luca, após esse interesse inicial e de todas as exigências (a principal delas, abandonar a Liga Supremo e entidades semelhantes), ele só poderia jogar os eventos da Confederação.

- Eles queriam que eu deixasse de jogar em Belo Horizonte (em um evento da Liga Supremo), mas eu já tinha me comprometido. Aí, a princípio, disseram que eu poderia jogar em BH e, a partir dali, não mais. Um dia antes da etapa da Liga Paulista, eles me ligam e dizem que eu não poderia mais jogar em BH. Se não abandonasse, não estaria mais nos planos deles. Falei que já tinha dado minha palavra e não daria para abandonar. Eles me disseram para escolher entre eles e a Liga. Eles ficaram bastante chateados comigo, por eu ter negado - recorda Cirenza.

No evento da Liga Paulista, após a recusa em abandonar a Liga Supremo, Luca foi punido:

- Ganhei os dois primeiros jogos contra atletas deles e, no terceiro jogo, contra João Pedro Agulha, que é o queridinho da Confederação, que eles acham que é o melhor jogador, foi tenso, a arbitragem era da casa. Teve muita discussão de bola, o árbitro olhava para a torcida, que sempre falava que era fora, contra mim. O árbitro tomava decisão pela torcida. Durante o jogo, a torcida fazia barulho, tentava me desconcentrar, rolou o jogo inteiro. Ao vencer a partida, olhei para trás, meu pai estava ali, vibrei na cara de todo mundo, foi um desabafo. E um torcedor, ligado à Confederação, o Cadu, me xingou. Meu pai ouviu, bateu boca com ele, que foi para cima. Eu reagi mal, agredi ele verbalmente - prossegue o atleta, que acabou punido após o bate-boca ao final do jogo:

- Eles decidiram me desqualificar do torneio e, além disso, aplicaram um W.O., como se não tivesse ido ao torneio. Apresentei um recurso para a Federação, encaminhei para a Confederação, há quase um mês, não tive resposta. Me baseei pelo regulamento deles, que diz: você pode ser desclassificado durante uma partida, porém precisa tomar uma advertência, para perder um ponto, depois, um game e, aí, sim, é desclassificado da partida. Após o término não tem como desclassificar. E não tem como me desclassificar e colocar como se eu não tivesse ido ao torneio - conta Luca.

Segundo Cirenza, o W.O. foi proposital:

- Eles quiseram esconder os resultados dos atletas deles, porque cairia a máscara de muita gente. Eles já não passam a ser os melhores, e eu incomodei pessoas que não gostam de ser incomodadas. O W.O. foi por isso, é inacreditável, e eles estão demorando para tomar uma decisão, por causa da Copa das Federações, e eles sabem que vou jogar pelo Rio Grande do Sul. Não ficaria surpreso se eles me dessem uma punição para me tirar. Outros atletas já devem ter vivido isso. Se quiser fazer parte do time deles, vai ter que seguir as regras deles, custe o que custar, e não compactuo com esse tipo de coisa.

Bernardo Andrade e Luca Cirenza foram vice-campeões em BH (Reprodução)


Em fevereiro, durante uma reunião da Confederação com as federações estaduais, um representante da entidade nacional deu o recado: "A Liga não nos cabe e não nos serve. Então, vocês, presidentes de federações, não permitam que essa liga apareça. Aqui em São Paulo, ela não entra."

Além de Luca, Marcela Donatoni, líder do ranking da Liga e uma das melhores da América Latina, também não foi chamada para a seleção.

Desabafo do CEO da Liga Supremo de pickleball

Ao Lance!, o CEO da Liga Supremo, Paulo Cantoli, fez o desabafo:

- Eu vejo que a Confederação tem agido por interesse próprio, buscando beneficiar apenas aqueles que estão ao seu redor. Não haveria problema se isso fosse feito dentro da iniciativa privada, como nós fazemos na Liga Supremo. Mas uma Confederação ou Federação, que deveria zelar pelo desenvolvimento do esporte de forma ampla, não pode adotar essa postura.

- O que acontece hoje é que estão minando a única empresa que até agora se propôs a investir e construir um circuito organizado para os atletas. Isso vem acontecendo desde o início do ano, e nós suportamos calados até agora.

Procurada pelo Lance!, a Confederação não respondeu se há alguma restrição em relação à participação de atletas em outras ligas de pickleball.

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