Em Assembleia Geral dos Credores (AGC), realizada nesta quarta-feira (19), os credores do Paraná Clube aprovaram o Plano Modificativo da Recuperação Judicial (RJ). Com a aprovação, contudo, um investidor interessado na Sociedade Anônima do Futebol (SAF) retirou a proposta de R$ 212 milhões por 90% das ações.

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O encontro aconteceu após duas suspensões, em 24 de outubro e 6 de novembro, e definiu alterações no plano de pagamento da RJ. As mudanças foram, principalmente, em relação à garantia da quitação das dívidas.

A NextPlay Capital Ltda, empresa que fez a oferta pela SAF, não queria pagar o passivo da recuperação judicial (R$ 89,92 milhões) e nem uma eventual diferença financeira da negociação da sub-sede da Kennedy, que serviria para esse fim. O preço mínimo definido para a venda ou leilão do terreno é de R$ 70,8 milhões.

O principal ponto de desconfiança é pelo impedimento do patrimônio ser vendido ou leiloado, de acordo com a lei municipal nº 1550/1958, por ser um terreno doado para fins esportivos e sociais. Além disso, existe a multa de R$ 13 milhões pela quebra de contrato com o Espaço Torres, que tem direito a explorar os salões sociais até 2032, que diminui a quantia a ser recebida.

Outra exigência dos credores era a garantia dos recursos prometidos que, segundo o Tricolor, poderia chegar até R$ 687 milhões. A Nextplay, constituída em outubro de 2024 e com capital social de R$ 500, em dados públicos, não mostrou quem eram os investidores brasileiros e estrangeiros 'por trás'.

Com as mudanças aprovadas na RJ, a empresa optou por desistir da SAF paranista. Em nota, o Paraná lamentou a saída da Nextplay e a decisão dos credores.

- O Paraná Clube, no papel de recuperanda, deixa claro sua posição contrária ao plano aprovado na Assembleia Geral de Credores. O texto aprovado gera insegurança jurídica relevante à independência da UPI SAF, afasta potenciais investidores, inviabiliza a construção de qualquer proposta séria e compromete, de forma direta e objetiva, a estabilidade e o desfecho regular do Processo de Recuperação Judicial - diz o texto.

Credores mudam plano de pagamento da RJ

O plano de pagamento da Recuperação Judicial, iniciada em setembro de 2023, foi modificado com cinco cláusulas novas. A formalização será feita pelo administrador judicial da RJ, Maurício Obladen, dentro do processo.

  1. cota de reserva garantida de R$ 70,8 milhões na venda ou leilão da sub-sede da Kennedy;
  2. cota de reserva de pagamento aos credores extraconcursais (após a RJ) caiu de R$ 12 para R$ 10 milhões, pagos com a venda ou leilão da sub-sede da Kennedy;
  3. cotas da SAF serão a garantia dos credores até a venda ou leilão da sub-sede da Kennedy;
  4. inclusão de previsão do pagamento de dívidas da Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) sem desconto (valor não informado)
  5. pagamento dos tributos junto ao Banco Central do Brasil (Bacen) será efetuado com os recursos provenientes da venda da SAF

Com a aprovação do novo plano da RJ, por 61,54% dos credores, a SAF do Paraná passa a ter novamente um modelo-base para possíveis interessados. A venda das ações será feita através de leilão judicial, de maneira inédita no futebol brasileiro, ainda sem data definida.

Vale destacar que a juíza da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, Mariana Gluszcynski Fowler Gusso, ainda vai apreciar o documento nos próximos dias para aprovar ou solicitar novas alterações.

Assim, caso não negocie as ações da SAF até fevereiro de 2026, data prevista para uma nova assembleia, o Tricolor corre o risco de ter a falência decretada - alguns credores apoiam esse movimento.

Enquanto o futuro segue incerto, o Paraná tem a Segundona do Campeonato Paranaense como calendário no ano que vem. O torneio está previsto para começar em abril.

O 'modelo-base' da SAF do Paraná Clube

Investimento no futebol

  1. valor mínimo: R$ 212 milhões
  2. R$ 10 milhões para a construção de Centro de Treinamento na sub-sede do Boqueirão (até 2028)
  3. R$ 60 milhões para a Vila Capanema
  4. R$ 10 milhões anuais para o futebol (sem divisão)
  5. R$ 21,9 milhões (Série D)
  6. R$ 28 milhões (Série C)
  7. R$ 46,8 milhões (Série B)
  8. R$ 85 milhões (Série A)

Dívidas

  1. R$ 42 milhões para dívidas com a Receita Federal do Brasil e o Banco Central do Brasil (Bacen)
  2. pagamento da Recuperação Judicial (RJ) em R$ 89,9 milhões
  3. cota de reserva garantida de R$ 70,8 milhões na venda ou leilão da sub-sede da Kennedy
  4. cota de reserva de pagamento aos credores extraconcursais de R$ 10 milhões, na venda ou leilão da sub-sede da Kennedy
  5. cotas da SAF como garantia dos credores até a venda ou leilão da sub-sede da Kennedy
  6. pagamento da dívida na Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) sem desconto (valor não informado)

Veja a nota oficial do Paraná Clube sobre a SAF

"O Paraná Clube vem a público informar que, diante da não concordância dos credores em relação aos termos construídos ao longo dos últimos meses, a NextPlay Capital comunicou a retirada de sua proposta de aquisição da UPI Futebol (SAF Paraná Clube).

A proposta da NextPlay Capital contemplava investimentos mínimos de R$ 210 milhões, que poderiam chegar a R$ 687 milhões conforme os gatilhos de desempenho e expansão previstos no plano apresentado. Essa composição representava um dos maiores avanços já obtidos no contexto da recuperação judicial, resultado direto do esforço conjunto de negociações entre clube, investidora e diversos representantes da massa credora.

Aos credores, a proposta chegou a mais de R$ 130 milhões em valor econômico, incluindo o pagamento integral do passivo fiscal pelo investidor, além da destinação da Sede da Kennedy — avaliada em mais de R$ 88 milhões — para o pagamento dos credores concursais, extraconcursais e ilíquidos.

O clube reconhece que os credores detêm o direito legítimo de deliberar sobre o processo, e respeita integralmente essa prerrogativa. No entanto, mesmo após um amplo ciclo de negociações, prevaleceu uma divergência significativa entre os próprios credores quanto aos pontos essenciais da proposta, o que impediu a formação de uma posição comum. Alguns representantes — inclusive aqueles com influência sobre algumas classes — haviam sinalizado concordância preliminar, optando posteriormente por não manter o alinhamento inicialmente construído.

O Paraná Clube, no papel de recuperanda, deixa claro sua posição contrária ao Plano aprovado na Assembleia Geral de Credores realizada na data de hoje (19/11/2025). O texto aprovado gera insegurança jurídica relevante à independência da UPI SAF, afasta potenciais investidores, inviabiliza a construção de qualquer proposta séria e compromete, de forma direta e objetiva, a estabilidade e o desfecho regular do Processo de Recuperação Judicial do Paraná Clube.

Com a retirada da proposta, o processo seguirá seu curso regular, dentro das normas da recuperação judicial e das responsabilidades de cada parte envolvida".

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