A reta final da Série B do Brasileirão confirma a marca registrada do nosso futebol: equilíbrio extremo. G4 e Z4 mudam a cada rodada, pontos viram ouro e a arrancada de quem “encaixa” pesa muito. O Athletico-PR virou protagonista nessa reta final, sustentado pela força da sua camisa e poderio financeiro, brigando na parte de cima da Série B.
Como em todo ano, aparecem surpresas e decepções. O Mirassol, caçula da elite, virou símbolo de superação e robustez competitiva. O Remo chegou a flertar com uma campanha acima das projeções na Série B. Do outro lado, o Paysandu viveu um dos piores recortes de sua história recente na Segundona e o Santos atravessa uma Série A turbulenta, com goleada sofrida, troca de comando e luta contra a parte baixa da tabela.
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Se algo não muda é a dança das cadeiras no banco. Já são 19 demissões de treinadores na Série A em 2025, um retrato fiel do imediatismo que corrói qualquer projeto.
O campeonato de 40 clubes
Penso que, na prática, o Brasil já joga um campeonato de 40 clubes, organizado em cinco níveis e duas divisões de elite:
- A++: Flamengo e Palmeiras, hoje um degrau acima em receita, elenco e protagonismo. Ambos estiveram sete e oito vezes entre os quatro primeiros colocados nos últimos 10 anos.
- A+: Atlético/MG, São Paulo, Botafogo (nos últimos três anos), Fluminense, Grêmio e Internacional, com força para disputar títulos e vagas internacionais.
- A-: os demais da Série A, oscilando entre campanhas seguras e risco real de queda.
- B+: os dez melhores da Série B, prontos para competir na elite sem complexo de inferioridade.
- B-: os demais da Série B, na luta pela sobrevivência esportiva e financeira.
Alerta para gigantes do Brasileirão
Alerta para três gigantes. O Corinthians teve presença pouco frequente no G4 na última década, aquém da sua dimensão. O Cruzeiro não voltou ao G4 nesse período, apesar do seu tamanho histórico. O Vasco da Gama, quatro vezes campeão nacional, não figurou uma única vez no pelotão de elite do nosso futebol. O mapa de forças mudou e o acaso não é a resposta.
Calendário e pirâmide competitiva
A CBF promete apresentar nesta quarta, 1º de outubro, um novo calendário para 2026. A expectativa é reduzir datas dos estaduais, ajustar Copa do Brasil e ampliar a Série D, criando melhores condições para planejamento nas Séries C e D. Se vier com coragem, o efeito pode ser imediato em competitividade, organização e investimento para baixo da pirâmide.
Gestão como condição de sobrevivência
Sem infraestrutura, austeridade financeira, governança e processo, o médio prazo sempre pune. Uma boa fotografia de hoje não garante o filme de amanhã. Projetos consistentes atravessam oscilações, mantêm ideia de jogo e método de trabalho, e só trocam quando trocam para melhor.
Provocação final. Já somos a liga mais pesada do continente, isso é fato. Para a comparação fazer sentido, olhemos a Europa: quando somamos as duas ou três primeiras divisões, os ecossistemas de referência operam com 40, 50, 60 clubes em alto nível organizacional. O Brasil tem base demográfica, mercado e talento para, em uma década, projetar uma elite de 60 clubes, mantendo duas divisões de elite fortes e sustentáveis. O desafio não é geográfico, é de gestão. Queremos ser grandes na foto ou na estrutura?
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Felipe Ximenes escreve sua coluna no Lance! todas as quartas-feiras. Confira outras postagens do colunista:
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