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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 24/01/2023
15:46
Atualizado em 24/01/2023
16:38
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Gilmar Dal Pozzo está em busca de um clube para comandar em 2023. E conta como aliado os conhecimentos que adquiriu ao conviver com o ex-técnico da Seleção Brasileira, Tite. Os treinadores são amigos de longa data e isso facilitou o intercâmbio, que contribuiu para o início da carreira de Gilmar.

Mas os fatores que estão ao lado de Gilmar Dal Pozzo vão muito além de informações. O técnico também conta com experiência e conquistas, representadas por títulos e diversos acessos. Em exclusividade ao L!, Dal Pozzo fala da trajetória até os dias atuais e compartilha os planos para esta temporada.

Gilmar Dal Pozzo  (Anderson Stevens/Sport)

- A gente discutia o que ele ia aplicar naquele determinado dia, na véspera do jogo, pré-jogo e pós-jogo. E depois eu acompanhava na prática. Tinha o pré-treino também. Em casa a gente falava de futebol. A gente tomava café falando de futebol, almoçava falando de futebol e jantava falando de futebol. As nossas esposas pediam: "Pelo amor de Deus, parem um pouquinho de falar de futebol". A gente parava meia hora e depois continuava de novo. Então foi um intercâmbio de forma integral. Acompanhei todos os processos da parte teórica, o durante e o pós - disse Gilmar Dal Pozzo.

Além dos títulos da Série C do Campeonato Brasileiro do Campeonato do Interior Gaúcho, a carreira Gilmar Dal Pozzo também é pautada pela conquista de acessos. Ao todo foram dois consecutivos pela Chapecoense e um com o Náutico.

- Eu disputei duas vezes a Série C e subi campeão. Em 2012 com a Chapecoense e em 2019 com o Naútico. Me orgulho muito desses dois acessos. O Náutico foi o mesmo caminho. Conseguimos o acesso que era o objetivo principal em 2019 e depois a gente queria mais. Era um desejo do clube, porque não tinha um título brasileiro. Fomos para a final contra o Sampaio Corrêa e conquistamos o título, que é importantíssimo para o Náutico e para a minha trajetória também - pontuou o técnico. E completou:

- No ano seguinte começa todo um trabalho de novo e eu pensava que seria a mesma trajetória da Chapecoense. Conquistar o acesso para a Série A do Campeonato Brasileiro. Veio a pandemia e tivemos muitos problemas de lesão. Foi uma situação fora da curva. Jogadores importantes como o Kieza e outros. Cinco lesões gravíssimas de ligamento cruzado. Isso interferiu diretamente no desempenho e resultado da equipe. Começou o Campeonato Brasileiro, fiz três rodadas e de novo sobrou para o técnico. Ali foi uma frustração, porque eu apostava muito numa retomada na minha carreira. Entendia que era só um começo e ia passar aquele momento crítico por conta das lesões. E aí, um empate que tivemos em casa com o Operário, na terceira rodada do Campeonato Brasileiro, eu fui demitido e rompeu um sonho e uma sequência do Náutico também. Infelizmente, na sequência do Náutico nos outros anos, nós vimos que voltou para a Série C.

Gilmar Dal Pozzo está sem clube desde a campanha que culminou com a permanência da Chapecoense na Série B. O técnico lida com o fato como se fosse uma conquista, uma vez que a Chape tinha grandes chances de ser rebaixada para a Série C do Campeonato Brasileiro. Agora, o treinador quer se desafiar e trabalhar no eixo Rio-São Paulo, porque é o centro do futebol brasileiro.

- Estou louco para ir para o Rio. Como atleta eu também não joguei nos times do Rio nem de São Paulo. É um desejo, é o centro do país. Tudo gira em torno de São Paulo e Rio de Janeiro. É um dos meus objetivos, como é também trabalhar fora do país. O fato de ter jogado em Portugal, as portas lá estão sempre abertas. Me considero um técnico novo, mas com experiência, maturidade e pronto para novos voos. Quem sabe no Rio de Janeiro ou em São Paulo também. Não tem nada. Seria até antiético conversar com algum clube se estão outros profissionais por lá. Fico monitorando.

CONFIRA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA COM GILMAR DAL POZZO:

EXPERIÊNCIA COM TITE
- A minha história com o Tite é muito longa. Seguramente, sou o atleta que mais trabalhou com ele. Por seis anos. Duas temporadas no Veranópolis, no Guarani de Garibaldi, na época que o Veranópolis estava Série A do Campeonato Gaúcho e depois no Caxias. Fechamos com aquele título histórico no Caxias. Criamos um vínculo muito próximo. Uma conexão de família. Inclusive, ele é meu padrinho de casamento. Casei em 1994 e convidei ele. Depois ele seguiu a vida dele no Caxias e eu fui para o Marítimo, de Portugal. Ele foi para o Grêmio, Corinthians. Nesse período que eu estava em Portugal, eu resolvi que eu queria ser técnico e comecei a me preparar. Então, de 2000 até 2007, que eu fiz a minha transição eu já me preparei. Toda vez que eu estava de férias eu fazia um estágio e visitava o Tite. Fui ao Internacional várias vezes quando ele passou por lá. Depois no Corinthians fiz três visitas. E no período da Seleção, quando ele foi jogar em Natal contra a Bolívia. Ele me incentivou muito. Aprendi muito e tenho acesso aos trabalhos dele. Além da amizade, o lado profissional ficou muito evidente na nossa trajetória.

PERÍODO NO INTERNACIONAL E NO CORINTHIANS
- Quando a gente tem esse tipo de amizade, o acesso é muito fácil. Inclusive, eu ficava na casa dele e a minha esposa ia também. As minhas filhas estudavam junto com o Matheus e a Gabriela, que são filhos do Tite. Estudaram juntos na época do Caxias. Então, nós éramos visitas na casa dele e eu aproveitei para fazer meus estudos e aprendizados. Foi bem tranquilo. Também sou muito amigo do Fernando Carvalho, que na época era o diretor de futebol do Internacional. Depois no Corinthians e na Seleção foram da mesma forma. Por conta dessa amizade familiar facilitou. Sou um privilegiado por conta dessa amizade e acabei tirando proveito desses ensinamentos do Tite.

INÍCIO DE CARREIRA VITORIOSO
- Foi muito bom, porque em 2007, eu jogava no Veranópolis. O Veranópolis ficou em terceiro colocado no Campeonato Gaúcho, como atleta. Inclusive, ganhei um prêmio particular e fui eleito o melhor goleiro daquele Campeonato Gaúcho e, no ano seguinte, por eu ter feito uma preparação, eu assumi como técnico. Essa transição demora um pouquinho para vários técnicos, independente de qual clube estão. Para autoestima, você conquista um título, eu achei que era um bom técnico. No primeiro ano, uma responsabilidade muito grande. Normalmente, tem uma ruptura de três ou quatro anos. O atleta para, espera e faz uma preparação para começar como técnico. Como eu tinha me preparado ainda quando era jogador e, inclusive, lá em Portugal eu acompanhava os trabalhos do Jorge Jesus, do Mourinho. Fiz uma preparação e me condicionei para já começar no Veranópolis. Terminar o ano, encerrar a carreira e, em seguida, começar como técnico. Foi uma sensação maravilhosa, porque ela veio com uma conquista de título.

PRIMEIRA VEZ NA SÉRIE A
- Isso é uma grande diferença do nosso futebol brasileiro para o europeu. Joguei no Marítimo-POR e o presidente, Carlos Pereira, ficou por lá durante 40 anos. O Pinto da Costa, do Porto-POR, acho que está lá até hoje. Mais de 50 anos. Então, o grande problema do futebol brasileiro também é o tempo de gestão da diretoria. Dois anos para um presidente é humanamente impossível fazer algo por um clube. Consequentemente estoura para o técnico e para os atletas. Dois anos não dá para fazer nada. Nos dois primeiros anos precisam de título, às vezes contratam de forma desesperadora e deixam o clube endividado. Porque eles só têm aqueles dois anos para conquistar títulos e deixar um legado e uma herança. O grande problema do futebol brasileiro é essa questão do tempo dos presidente.

- Tenho essa convicção que a continuidade é importantíssima para qualquer profissional. Mas se os presidentes ficarem dois anos, consequentemente os técnicos vão ficar pouco tempo. Teria que trocar por no mínimo cinco anos e, aí sim, acredito que o futebol brasileiro iria mudar e teríamos mais tranquilidade para conseguir fazer o nosso trabalho. Foi isso que aconteceu na Chapecoense. A gente conseguiu o acesso da Série C para a Série B e, consequentemente, a gente foi para a Série A. Mas encontramos muita dificuldade por questões de estrutura, financeira e a falta de experiência de todos. A minha ascensão foi muito rápida, fiquei quatro anos no Veranópolis e no quinto ano já estava na Série A contra o Corinthians, Internacional e Flamengo. Foi muito rápida essa ascensão. Então, entendi que faltou algo para mim como técnico e a experiência e continuidade para a diretoria.

TEMPORADA DE 2022
- No ano passado, o Joinville lutou para não cair para a Série B do estadual de Santa Catarina. Conseguimos esse objetivo. Foi uma retomada minha. Em seguida, veio o convite do Sport. Meu início no Sport foi muito bom. Mas com uma rejeição muita acima da média, porque recentemente eu estava trabalhando no rival, o Náutico. E tinha conquistado um título. Ficou muito marcado para a torcida. Em Pernambuco tem uma rivalidade muito grande. Como todos os clubes do Brasil. Isso me prejudicou muito, a aceitação não foi muito boa. A gente ia para o jogo, tinha uma rejeição por parte da torcida e realmente foi muito difícil trabalhar. Mas foi desafiador. Na vida a gente tem que pagar o preço. Fomos bem na Copa do Nordeste. Disputamos o título contra o Fortaleza.

- Iniciamos o Campeonato Brasileiro e fiquei 14 rodadas na Série B. Das 14, 13 delas eu permaneci no G4. E era o objetivo do Sport: subir. Na 14ª rodada, que jogamos contra o Brusque e, empatamos em casa, rolou a cabeça do técnico. Depois que eu saí, o Lisca e o Claudinei assumiram e nunca mais o Sport voltou para o G4. A gente tinha dificuldade no setor de ataque. Ia abrir a janela de transferências e o Sport ia contratar jogadores importantes, que com um pouquinho mais de paciência a gente também ia passar a fase de oscilação, que a equipe dá. Não é por conta só do técnico, é um momento de oscilação.

- O Vasco passou isso no ano passado e a convicção que eu tenho é que só o Cruzeiro manteve uma regularidade. O próprio Grêmio teve dificuldade, o Bahia. O Sport estava sempre na cola e com dificuldade. Quando abrisse a janela, o Sport ia ao mercado contratar jogadores de qualidade para qualificar o setor de ataque. E isso aconteceu. Eu saí, abriu a janela e chegou o Vágner Love, Wanderson e jogadores que fizeram a diferença. Mas não conseguiu retomar o acesso, que era o objetivo principal. Considero meu trabalho no Sport muito bom em termos de aproveitamento. Objetivo também, porque depois de quatro anos se chegou às finais da Copa do Nordeste.

ÚLTIMA PASSAGEM PELA CHAPECOENSE
- Sinceramente eu não queria voltar naquela condição. Eu gostaria de começar um trabalho, com investimento, para ganhar títulos, buscar o acesso à Série A de novo. Mas eu não podia virar as costas para a Chapecoense naquele momento. Que era um momento muito difícil do clube. Mexeu no meu coração. Uma questão de sentimento, porque depois do acidente eu não tinha mais voltado a Chapecó. Naquele acidente eu perdi 23 pessoas que eram meus amigos e trabalharam comigo. Era um sentimento muito forte de que eu não podia virar as costas para a Chapecoense. Fomos para lá e de início vencemos o jogo contra a Ponte Preta, que foi um jogo difícil. Em seguida tivemos uma regularidade muito boa nos jogos em casa. Atingimos o nosso objetivo, que era a permanência. Considero esse trabalho praticamente um acesso. A Chapecoense estava numa condição muito ruim e com probabilidade muito grande de cair para a Série C. Foi um ano de retomada com bons trabalhos e bons números.

Gilmar Dal Pozzo e Tite (Arquivo Pessoal)

O QUE FALTOU PARA O HEXA?
- Foram várias coisas. A Argentina mereceu ser campeã. Inclusive, um técnico que me chamou muita atenção foi o (Lionel) Scaloni, técnico da Argentina. Iniciaram a competição perdendo. Depois se encontraram, se fortaleceram e chegaram até a conquista do título. O Scaloni foi determinante, porque mudou bastante a equipe. Teve momentos que jogou com três zagueiros, momentos com três volantes, inverteu o Di María de lado, uma variação tática com pouco tempo de trabalho. Para mim, esse foi o maior ensinamento técnico. A questão da Seleção Brasileira foram vários motivos, que a gente tem que ter muito cuidado ao falar. A responsabilidade sempre sobra para o técnico. Culturalmente é assim. O Felipão tinha tomado 7 a 1 na Copa do Brasil e dizíamos que era ultrapassado. E agora, recentemente, o Felipão disputou a Libertadores pelo Athletico-PR.

- O Tite é um ótimo treinador. Claro que ele tem parcela de culpa e os atletas também. Foi de uma forma geral que veio o resultado negativo. Um jogo ruim, contra a Croácia no primeiro tempo. No segundo tempo, espetacular e aqueles cinco, seis minutos depois do gol, que tomamos aquele gol. Fugiu do controle. Já conversei com o Tite, mas não em detalhes. Procurei não mexer na ferida. É difícil a gente falar disso. Procuramos falar de outras coisas: família e hobby para descontrair um pouquinho. Com certeza ele deve ter passado orientações no finalzinho. Principalmente, quando ele botou o Fred para ter uma postura mais conservadora. No final, o Fred deu o combate lá nos zagueiros, o Casemiro teve que sair e o Alex trocou de lado para fazer uma cobertura e mexeu em toda uma estrutura. Naquele lance fugiu do controle do técnico e a gente tomou o gol de empate.

TÉCNICO ESTRANGEIRO NA SELEÇÃO
- Não tenho preferência. Eu gostaria e como patriota e técnico eu vou defender sempre os técnicos brasileiros. Mas é uma coisa que eu falo muito e uso muito nos meus discursos: "Merecimento". Para mim tem que ser o melhor. E às vezes pode ser melhor que seja um estrangeiro e que esteja no Brasil. Vou torcer para que eles tenham a luz para escolher o melhor, façam um bom trabalho e que a gente retome a conquista de títulos. Se for com técnico brasileiro, é melhor ainda. Porque para nossa classe seria muito bom. Todos nós estávamos torcendo muito para o Brasil, mas estávamos torcendo para o Tite. Porque aí abre o mercado de trabalho fora do país. E na perda do título, os estrangeiros que estão vindo para o Brasil e, consequentemente, acabam tirando espaço.

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