Futebol Internacional

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Luiz Fernando Gomes: ‘Os hermanos renascem’

Futebol argentino reage com mudança no direito de transmissão e clubes têm se reforçado com grandes nomes. Tevez está de volta ao Boca Juniors e Pratto chegou ao River Plate

AFP
Escrito por

Em poucos lugares no mundo, o futebol e o poder cultivam uma relação tão próxima e promiscua como na Argentina. Desde os tempos que antecederem ao peronismo – movimento surgido na segunda metade dos anos de 1940, com a ascensão do general Juan Domingos Perón à presidência da República, e que até hoje norteia o cenário partidário do país – a política marcou a história dos clubes e cooptou a cartolagem, manobrada ao sabor de interesses, ideológicos algumas vezes, eleitoreiros quase sempre.

Foi durante a ditadura militar que essa relação viveu o período mais nebuloso. Embora a Argentina tenha conquistado o direito de sediar a Copa de 1978 antes da chegada ao poder da junta liderada pelo general Jorge Rafael Vidella, o Mundial da Fifa foi o que os homens de farda precisavam para ocultar a face macabra de um regime que torturava, sequestrava crianças e eliminava toda e qualquer manifestação de direito civil. Era vencer ou vencer naquela copa, custasse o que que custasse. A controversa vitória de 6 a 0 dos hermanos sobre o Peru – que resultou na eliminação do Brasil – e episódios em torno da final contra Holanda, dentro do campo e nos bastidores, são componentes de uma história recheada de suspeitas.

Os militares caíram​ ​mas​,​ anos depois da democratização​,​ o jogo de interesse dos políticos continuou a influenciar os rumos do futebol portenho. Na guerra que travou durante seu governo contra o grupo Clarín, que edita entre outros o diário esportivo Olé, a ex-presidente Cristina Kirchner usou o futebol como uma arma. Numa canetada​ só​, cassou os direitos de TV que a empresa detinha e estatizou a transmissão dos torneios apertura e clausura. Sob a alegação de que o futebol era um bem público​ - o Clarín privilegiava os canais de TV fechada -, a emissora estatal era a única a passar as partidas. Nos fins de semana, eram jogos sucessivos, um após o outro, de manhã à noite, já que o compromisso era de que todos fossem mostrados.

A medida pode ter rendido votos ao kirchernismo, mas custou caro. Foi desastrosa especialmente para River ​Plate ​e Boca ​Juniors ​que viram suas receitas desabarem com a distribuição igualitária das cotas de TV, independentemente dos critérios técnicos, da popularidade ou dos investimentos que cada clube fazia. E o resultado se refletiu em campo, com eliminações sucessivas na Libertadores​ ​e um abismo ​ que se abriu ​em relação à capacidade de investimento do​s​ maiores clubes brasileiros, dos mexicanos e até dos colombianos.

Cristina foi sucedida pelo atual presidente Maurício Macri, não por acaso um político que construiu sua carreira a partir do futebol. Entre 1995 e 2007, ele presidiu o Boca, o que lhe deu notoriedade e o levou à câmara dos deputados e à prefeitura de Buenos Aires, antes de chegar à Casa Rosada. Ao assumir o governo, Macri pôs fim ao programa Fútbol para Todos e privatizou outra vez as transmissões. Enfrentou reações iniciais – o rompimento do contrato estatal foi um dos motivos da greve dos jogadores que atrasou o início do campeonato do ano passado – mas os clubes conseguiram, de fato, um valor que praticamente dobrou o que vinha sendo pago pelo governo. A Fox e a Turner ofereceram luvas de 1,2 bilhão de pesos (R$ 243 milhões), e garantiram outros 3,2 bilhões de pesos (R$ 650 milhões) por ano do contrato. As duas emissoras dividem as partidas, de novo centradas nas TVs por assinatura.

O efeito da mudança foi imediato e o futebol argentino reage. Lucas Pratto trocou o São Paulo pelo River e Tévez voltou da China para sua terceira passagem pelo Boca.As contratações caras, algo impensável há dois ou três anos, causaram espanto e surpresa por aqui. Mas são apenas a face mais visível de um novo tempo que começa por lá. Os dois atacantes se apresentaram essa semana com um discurso nacionalista e falando em vencer a Libertadores. Pode não acontecer desse modo, mas, como há anos não ocorria, os ​gigantes argentinos virão com força total para reconquistar a América. Palmeiras e Flamengo, adversários de Boca e River já na fase de grupos que se cuidem.