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Thiago Braga
São Paulo (SP)
Dia 12/07/2025
04:15
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O calor extremo foi uma das marcas do Mundial de Clubes que chega ao fim neste final de semana. E a onda quente que assolou os Estados Unidos tem se consolidado como uma das principais ameaças ao esporte de alto rendimento — especialmente ao futebol, que se desenvolve em campo aberto e frequentemente em horários de pico solar.

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E a preocupação agora recai sobre a Copa do Mundo de 2026, que vai acontecer, além dos Estados Unidos, sede do Mundial de Clubes deste ano, também no México e Canadá. As temperaturas elevadas podem não apenas prejudicar o desempenho dos atletas.

A Copa será disputada em pleno verão do Hemisfério Norte, entre junho e julho, e várias das cidades-sede apresentam índices críticos de calor e umidade, criando um ambiente hostil ao esporte.

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Segundo relatório da FIFPRO, sindicato global dos jogadores de futebol, o calor extremo afeta diretamente a saúde dos atletas por meio do estresse térmico, que pode evoluir de uma exaustão moderada até casos graves de insolação, com danos neurológicos e risco de morte. A elevação da temperatura corporal acima de 37,8°C já representa risco fisiológico considerável, e temperaturas internas superiores a 40,6°C configuram emergência médica.

— Eu acredito que a gente deveria repensar algumas questões, priorizar o bem-estar dos jogadores e do público, acima da questão dos horários comerciais e de venda de direitos de TV, porque a gente corre um sério risco de ter alguma tragédia, algum evento, não só com os jogadores, mas também com o próprio público no estádio, porque a gente viu um calor extremo, inclusive de paralisação de jogos, não só calor, mas várias questões climáticas acontecendo, e eu acho que a gente pode mitigar ajustando horários, ajustando um calendário — afirmou Ricardo Calçado, diretor do Terra FC, projeto cujo objetivo é impulsionar ações positivas em prol da natureza e do clima.

Para mensurar esses riscos, é utilizada a Temperatura de Bulbo Úmido (WBGT), que combina calor, umidade, radiação solar e vento. A FIFPRO alerta que uma WBGT superior a 28°C já exige ações preventivas, e acima de 32°C, partidas e treinos devem ser adiados.

Durante o Mundial de Clubes, cidades como Filadélfia (29,3°C de WBGT), Charlotte (29,0°C) e Miami (28,7°C) registraram níveis de calor classificados como “extremos”, exigindo pausas para resfriamento e atenção redobrada.

O cenário para a Copa de 2026 é ainda mais preocupante. Seis das 16 cidades-sede – Atlanta, Dallas, Houston, Kansas City, Miami e Monterrey – foram classificadas como de “risco extremamente alto” para estresse térmico. Em Dallas e Houston, por exemplo, a WBGT poderá atingir até 36°C e 37°C, respectivamente. Embora alguns estádios nessas cidades contem com cobertura e sistemas de ar condicionado, os riscos não desaparecem: o aquecimento antes e depois dos jogos, além da exposição do público e equipes fora das arenas, continua elevado.

A FIFPRO propôs uma série de recomendações que vão além das diretrizes atuais da Fifa, consideradas insuficientes. Hoje, a Fifa prevê pausas obrigatórias para resfriamento aos 30 e 75 minutos se a WBGT passar de 32°C, mas não exige mudança de horário ou cancelamento da partida. A entidade sindical defende que, se a WBGT ultrapassar 28°C, essas pausas já devem ser implementadas, e, acima de 32°C, jogos e treinos sejam remarcados.

Entre as medidas sugeridas pela FIFPRO estão a ampliação do intervalo para 20 minutos, pausas de hidratação a cada 15 minutos de jogo, e melhorias na infraestrutura dos estádios, como áreas sombreadas e acesso mais fácil à hidratação. A entidade também propõe a adoção obrigatória de monitoramento em tempo real com tecnologia WBGT, para que árbitros e equipes médicas possam reagir rapidamente a variações de risco.

Além dos efeitos fisiológicos, o calor afeta a qualidade do espetáculo. Estudos transversais conduzidos pela FIFPRO apontam que jogadores e treinadores relataram piora no desempenho técnico e físico em partidas realizadas sob altas temperaturas. Cãibras, fadiga precoce e dificuldades cognitivas são relatadas com frequência, e isso compromete o desempenho esportivo, a segurança dos atletas e a experiência do torcedor.

— Para além de ações pontuais para lidar com o calor, é preciso pensar em soluções de médio e longo prazo para enfrentar ou minimizar os efeitos da crise climática – o que deve envolver clubes, federações, empresas, governos e a sociedade. É essencial debater políticas públicas, desenvolver ações para reduzir as pegadas de carbono dos clubes, repensar a infraestrutura no entorno dos estádios e promover práticas sustentáveis nas operações diárias. Também acreditamos que os clubes podem engajar seus torcedores usando a voz dos craques e influenciadores, mostrando que cada um pode fazer sua parte — explicou Ricardo Calçado, do Terra FC.

Apesar da gravidade da situação, a Fifa ainda hesita em alterar os horários das partidas, principalmente devido a acordos comerciais com emissoras e patrocinadores.

Com base em dados meteorológicos desde 2014, o relatório climático da FIFPRO apresentado à Fifa revela que sete das 11 cidades do Mundial de Clubes de 2025 já apresentaram condições perigosas, reforçando que a ameaça é concreta.

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