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João Brandão
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 10/09/2025
05:45
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Ex-treinador de Alexandro, da Seleção Brasileira, Bruno Dias revelou os segredos na formação dos técnicos portugueses. Em entrevista ao Lance!, o profissional de 38 anos explicou duas vias essencialmente fundamentais que existem e as filosofias existentes que os diferenciam no mercado.

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- Não temos uma escola de treinadores portugueses, como se houvesse uma única via. Existem várias vias. Existe a via acadêmica. Temos a capacidade de distribuir conhecimento, refletir sobre o futebol e aprofundar vários temas no que diz a respeito as nossas faculdades esportivas. Existe uma ideia global do que é o treino, que tem uma priorização tática. Colocamos no centro do jogo, o entendimento do jogo, as decisões do jogo e as formas como somos capazes de ajudar o jogador a cada momento. E existem as vias dos ex-jogadores, que não vieram da via acadêmica, mas pela prática enquanto jogadores e, depois como treinadores. Como Jorge Jesus, que tem um conhecimento tão grande adquirido que já possui uma capacidade de transmitir suas ideias aos atletas. No contexto português, por não sermos um mercado com uma capacidade financeira grande e onde tem uma competitividade muito grande entre os treinadores, temos que ter uma capacidade de adaptação muito grande. E a capacidade dos treinadores portugueses colocarem o homem no centro. Olham muito para a relação com o jogador, a intenção que o jogador tem em cada momento do jogo, no convívio no vestiário, na sua ética profissional.

Uma das principais características de Bruno Dias é olhar com carinho para a formação de atletas e as categorias de base. Essa relação o fez ajudar no desenvolvimento de Alexsandro quando o zagueiro era apenas um jovem que havia deixado o Praiense para o Amora. O treinador explicou a responsabilidade dos jovens e como funciona essa relação.

- Em Portugal, houve um momento em que se olhou para a formação por necessidade. Não tínhamos capacidade financeira, era preciso apostar na formação. Creio que hoje é diferente. Temos necessidades, mas cada vez mais há uma visão de ter uma porta sempre aberta para os jovens chegarem a equipe principal e a formação ter a capacidade de alimentar a equipe de cima. E os jogadores sentindo que tem capacidade de dar resposta, podem ter a oportunidade de jogar na equipe principal. Isso é importante por vários motivos. O primeiro é que quem está chegando da base traz uma irreverencia, uma vontade, uma fome diferente do que os jogadores que já estão estabelecidos. Depois, muitos deles tem características que não temos no nosso plantel. E em terceiro lugar, é fundamental que sejamos capazes de entender que cada um tem a sua etapa, tem seu desenvolvimento e não temos que comparar uns com os outros. Teremos casos como os do Alexsandro, mas temos outros que demoram mais tempo para se desenvolverem. Infelizmente, existem outros Alexsandros que não têm oportunidade. A exigência é muito importante. A capacidade de sermos claros com o que eles podem melhorar. E entender que não é um processo fácil. É pilar ter a formação como prioridade, mas creio que o futebol global é assim, porque esses jogadores serão capazes de fomentar uma cultura desportiva que todos querem que seja melhor.

Atualmente n'O Elvas, Bruno Dias contou que quase veio trabalhar no Brasil nos últimos meses, embora não tenha revelado o clube que o procurou. O treinador explicou o motivo de sua decisão, mas deixou portas abertas para o futuro.

- Antes de ter aceitado O Elvas, tive praticamente com os pés no avião para trabalhar no Brasil. Não aconteceu, porque conseguir entrar no curso Uefa Pro, que é o último nível de treinador da Uefa e optei por ficar em Portugal. E depois surgiu a proposta d'O Elvas. Não aconteceu nesse momento, mas quem sabe no futuro possa acontecer. É um país que acompanho o futebol e que em Portugal acompanhamos. Estamos sempre observando os campeonatos, porque o talento está multiplicado de uma forma exacerbada - disse Bruno Dias.

Em quatro partidas no comando d'O Elvas, Bruno Dias conquistou três vitórias, inclusive avançando de fase na Taça de Portugal. No entanto, a prioridade do clube é conquistar o acesso para a Liga 3 e subir de divisão.

Veja outras respostas de Bruno Dias

Filosofia de futebol

- É fundamental. Sou discípulo de Manuel Sergio, que tinha uma frase que era chave que nos diz: "Não adianta entendermos os chutes, sem entendermos a pessoa que chuta. Não existem jogos, existem pessoas que jogam". É fundamental perceber qual a intenção de cada ação dos jogadores. Temos que estar atentos ao perfil de cada jogador, a forma como cada jogador interage consigo e com os outros. Temos que extrair o melhor de cada jogador e, para isso, temos que criar o contexto certo. Sabemos que tem jogadores que necessitam de uma palavra mais carinhosa para se poder tirar o melhor. Há outros que precisam de uma maior distância para gerar mais rendimento para sua equipe. Existem vários perfis, mas é fundamental ser capaz de entender cada pessoa, cada motivação para os treinos, para os jogos e fazer com que todos tenham a intenção certa.

Formação de jovens jogadores

- Eu creio que a formação de outros Alexsandros não depende exclusivamente de um treinador ou do contexto em que ele está inserido, mas sim de um conjunto de circunstâncias. Mas depende da pessoa. O que nós, treinadores, fazemos é dar o melhor de nós para suportar o crescimento dos jogadores. Nós fazemos isso diariamente e acreditamos muito nas oportunidades que estamos gerando aos nossos jogadores. Cada um tem a sua etapa de desenvolvimento e nós queremos que sejamos importantes, impactantes nos momentos em que estamos com eles, mas sabendo que a trajetória é deles, o mérito é deles e a responsabilidade é deles. No final da história, a vida é deles e eles têm que transformar as suas vidas e ajudar aqueles que são mais próximos. É muito gratificante para um treinador. É ganhar um título participar um pouquinho ajudar um jogador a chegar em um patamar elevado. Nem todos vão chegar a uma Seleção Brasileira. Felizmente temos a possibilidade de trabalhar com jogadores que chegaram a diferentes seleções, mas nenhuma tão midiática quanto a Seleção Brasileira. Ajudamos atletas a transformarem suas vidas e passarem a ser profissionais do futebol. Mas isso será sempre um mérito dos jogadores. Para nós, é muito gratificante pelo fato de ter contribuído um pouquinho e ter dado ferramentas para que eles possam ultrapassar os desafios que vão tendo.

Trabalho n'O Elvas

- A expectativa é muito clara. Subir de divisão. Essa é a ideia. Todos n'O Elvas tem esse foco de colocar o clube na Liga 3. Todos no clube tem uma noção do que é necessário para conseguirmos concretizar. Chegamos no fim da temporada passada e acreditamos que a continuidade do trabalho vai permitir alcançar esse objetivo, que o clube e a cidade merecem. Um dos pilares é o desenvolvimento de ter as portas abertas para a formação. São vários jogadores jovens que tem um espaço de crescimento muito grande. Quem for ver nosso jogo, vai se divertir, tenha gosto de nos assistir, porque gostamos de ter a bola, olhar para o gol adversário, ser agressivos com e sem bola, que nossos jogadores sejam protagonistas e que sejam capazes de o estádio ter cada vez mais pessoas com orgulho em vê-los jogar. Vamos lutar para ganhar todos os jogos e conquistar o que não foi conquistado.

Referências

- É impossível não falar em José Mourinho, foi vital no que foi o início da minha carreira. E a forma como optei desde cedo ainda com 18 anos por ser treinador e não ir pela via de jogador porque a paixão pelo futebol era grande. E nessa altura surgiu José Mourinho, que criou um impacto muito grande. Mas existem outras referências, como Luís Castro, Rui Vitória, vários treinadores que já conquistaram muitos objetivos e que me vejo com o que são seus valores. O próprio Abel, mas tenho várias referências que também não são portugueses, como por exemplo o Jurgen Klopp.

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