Mesmo a milhares de quilômetros de Salvador, o volante Flávio mantém uma forte ligação com a capital baiana. Natural de Santos, interior paulista, o atleta de 29 anos começou a construir sua carreira no Vitória antes de chegar a um dos pontos altos com a passagem de sucesso pelo rival Bahia, que o levou para a Arábia Saudita ainda antes do país oriental se tornar um dos epicentros do futebol mundial.

➡️Tudo sobre os maiores times e as grandes estrelas do futebol no mundo afora agora no WhatsApp. Siga o nosso canal Lance! Futebol Internacional

Em entrevista exclusiva ao Lance!, o agora jogador do Al-Taawoun, time comandado pelo baiano Péricles Chamusca, explicou sua conexão com o futebol baiano.

— Cara, eu tenho um carinho especial por todos os clubes que eu passei. Desde o Vitória, onde eu iniciei. Depois ainda tive um empréstimo rápido para Ferroviária, de São Paulo, antes de ir para Portugal, mas também não tive muita oportunidade lá. Voltei para o Santo André para jogar o Paulistão. Em seguida fui para o Bahia, depois para a Turquia.

Flávio começou a carreira no Vitória (Foto: Felipe Oliveira/AGIF)

Clique aqui e siga o canal do Leão no WhatsApp para ficar por dentro das últimas notícias

Flávio começou sua carreira profissional em 2015, justamente no Vitória, clube que defendeu até o início de 2017. Foram, ao todo, 64 jogos com a camisa vermelha e preta, um gol e quatro assistências. Depois de toda essa peregrinação no futebol, ele voltou a Salvador para vestir a camisa do rival. E foi no Bahia que ele realmente se identificou. De 2018 a 2020, o volante entrou em campo 95 vezes, com direito a três assistências neste período e atuações que ficaram na memória.

— Todo mundo sabe que minha minha identificação foi muito forte com o Bahia, né? Um clube que eu tenho um carinho, um amor. E sempre acompanho todos os clubes que eu passei. Eu acompanho, logicamente que o horário da Arábia é diferente do Brasil. Mas mas estou sempre ligado ali nas redes sociais, sempre acompanhando e torcendo bastante, mas é inegável que minha ligação hoje é mais forte com Bahia. Não tem jeito. É um clube que eu realmente virei torcedor e estou sempre torcendo pelo sucesso. Tenho amigos lá, funcionários que eu tenho contato até hoje — completou Flávio.

Flávio faz oração antes de entrar em campo pelo Bahia (Foto: Jhony Pinho/AGIF)

Um dos jogos que ficaram na memória de Flávio, inclusive, foi um Ba-Vi, que, claro, não podia deixar de ser tema nesta matéria. Afinal, o clássico terá um novo capítulo a partir das 21h30 da próxima quinta-feira (horário de Brasília), no Barradão, pela 28ª rodada do Campeonato Brasileiro.

— Ba-Vi sempre foi especial para mim, até porque eu joguei dos dois lados. Pude sentir essa essa emoção, essa atmosfera dos dois lados. Então é um clássico que tem muita rivalidade e foi muito importante no meu começo. Mas se tiver que frisar um mais importante, eu acho que o primeiro, né? O primeiro eu nunca me esqueço, parece que foi hoje. Um Vitória e Bahia lá no Barradão, estádio literalmente entupido. Naquela oportunidade ainda tinha torcida as duas torcidas no estádio. Nunca esqueço, aquele jogo foi empate, 1 a 1. E foi uma atmosfera assim muito legal, muito marcante — recordou.

Os oito Ba-Vis disputados por Flávio:

Clique aqui para seguir o canal do Esquadrão no WhatsApp e ficar por dentro de tudo!

Flávio comemora gol pelo Bahia na Copa do Nordeste 2020 (Foto: Walmir Cirne/AGIF)

A volta por cima na Arábia Saudita

O sucesso de Flávio no Bahia levou ele à Turquia e, logo em seguida, à Arábia Saudita, um país que começava a se abrir na temporada 2022/23 e trilhava os primeiros passos para se tornar a potência que é hoje no futebol mundial.

Já são quatro temporadas no Al-Taawoun, um dos principais times da primeira divisão saudita, com direito a protagonismo ao longo dos 70 jogos que disputou até aqui, adaptações e uma lesão recente que marcou a carreira de Flávio.

— Cara, foi o momento mais difícil da minha vida. Nem quando eu machuquei o joelho foi tão complicado. Porque, quando machuquei o joelho, eu sabia que seriam seis meses. Não tinha muito o que fazer, era seguir o protocolo, fazer a cirurgia e voltar. E consegui voltar com seis meses e vinte dias. Mas essa lesão agora foi diferente, foi mais difícil. Era uma lesão muscular que foi se agravando, e eu não tinha previsão de volta. Isso mexeu muito com o meu psicológico. E tiveram outras coisas também que me abalaram, como o nascimento do meu filho, que eu não consegui acompanhar. Tive que ver tudo pelo celular. Fiquei longe da minha esposa, longe da minha família… — destacou.

— Eu estou aqui há 4 anos. Confesso para você que eu vim no primeiro ano de empréstimo e não imaginaria que eu estaria aqui hoje. As coisas foram acontecendo, me adaptei muito bem, minha família, minha esposa. A gente se sente bem na Arábia, fomos abraçados. Tratam a gente muito bem no clube, dão todo o suporte, todo o apoio. E isso facilitou muito na nossa adaptação. Lógico que é uma coisa muito diferente do que estamos habituados no Brasil. Costumes, religião... No começo foi um pouco difícil, mas logo a gente se adaptou.

Flávio em celebração ao Dia Nacional da Arábia Saudita (Foto: reprodução)

Leia outros trechos da entrevista exclusiva com Flávio

L!: Como tem sido a relação e adaptação ao técnico Péricles Chamusca? Ficou mais fácil por ele ser brasileiro?

Flávio: É, eu sou suspeito pra falar do professor Chamusca. Foi ele quem me trouxe pra Arábia há quatro anos. Trabalhamos juntos nos meus dois primeiros anos aqui, sob o comando dele. Dispensa comentários, os números não mentem. Não é à toa que hoje ele é o maior vencedor da história da liga. E isso sem contar as copas e a Yellow League do ano passado, quando ele teve o acesso com o Neom e foi campeão também. Então, é um cara muito vitorioso. Com certeza o Al-Taawoun acertou muito nesse retorno dele.

O clube vem crescendo ano após ano, isso é notório. Para liga, ainda é um pouco difícil brigar com potências como o Al-Hilal, o Al-Nassr, o Al-Ittihad e o Al-Rayyan. São clubes muito fortes, e a gente reconhece que estão à frente. Mas a gente almeja muito a Copa do Rei. É um torneio de tiro curto, e sabemos que temos grande possibilidade de fazer história, é isso que a gente busca.

L!: Quais as principais dificuldades que encontrou quando chegou ao país?

Flávio: Cara, foi difícil o começo. Como eu falei, é muita diferença. De tudo, de costumes, de comida, de religião, então foi difícil. Eu costumo dizer que para o homem é mais tranquilo, mas pra mulher é mais é mais fechado, mais rígido, né? Tem a abaya, que é uma roupa típica aqui da da Arábia que não é obrigado a usar, mas você tem que ter o bom senso. E eu lembro como hoje teve um episódio quando a gente chegou, eu e minha esposa, a gente foi numa loja e a gente não tinha essa abaya. No caso, ela não tinha ainda a abaya e acabou que parecia que a gente tinha matado alguém.

Entramos em uma loja de comprar coisas de casa, de pratos, talheres e a gente no meio da compra, todo mundo olhando, uma sensação horrível. Deixamos as compras lá no carrinho e fomos embora, porque a gente realmente não estava se sentindo bem. Acho que essa foi a maior dificuldade no início. E o calor também. O calor foi para mim nos treinos. Dentro de campo, nos jogos, foi difícil, mas hoje, como eu falei, a gente está feliz, 100% adaptado e queremos continuar muitos anos aqui na Arábia.

L!: Flávio, você está em sua quarta temporada no futebol saudita, tempo suficiente para vivenciar essa mudança de posicionamento do país em relação aos esportes, com investimentos pesados, principalmente no futebol. Como essa nova postura da Arábia Saudita tem impactado os atletas dentro e fora de campo?

Flávio ao lado de Cristiano Ronaldo na Liga Saudita (Foto: reprodução)

Flávio: Minha minha quarta temporada, né? O tempo passa, cheguei aqui com o empréstimo de um ano e já estou no meu quarto ano. É muito importante e fico feliz de estar vivenciando esse crescimento desde a minha chegada aqui.

O mundo todo está acompanhando a potência que a Arábia Saudita vem se tornando em todos os aspectos, tanto fora de campo, como dentro de campo. Com todos os nomes que estão vindo para cá, que foram especulados e nomes que vão vir ainda. Acredito que até a Copa de 2034 que vai ser sediada aqui, a Arábia Saudita só vai continuar crescendo e todo mundo está acompanhando isso.

L!: Se surgir a oportunidade, você teria interesse em voltar ao futebol brasileiro?

Flávio: Eu costumo dizer que eu sou da bola. Quem é da bola não fica escolhendo muito. A oportunidade aparece, eu vou, mas com certeza eu tenho vontade de voltar para o Brasil um dia. No tempo que eu estive aí, eu fui muito feliz. Tive um grande crescimento, mas eu acredito que minha história não acabou ainda no futebol brasileiro.

Mas quem sabe eu possa voltar um dia, ninguém sabe o dia de amanhã, mas eu não fecho as portas para nenhum mercado. Eu costumo dizer que eu sou da bola, e se tiver uma oportunidade boa, um projeto bom, uma oportunidade boa para mim e para minha família, a gente com certeza vai estar disposto a estar voltando, seja no futebol brasileiro ou em outro país também.

Siga o Lance! no Google News