Seis mortes ligadas à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, entre 2021 e 2024, fizeram a Polícia Federal e a Polícia Civil paulista abrirem frentes de investigação que, segundo inquéritos e peças do Ministério Público de São Paulo e da PF, apontam para um esquema de lavagem de dinheiro por meio do agenciamento e da intermediação de jogadores profissionais de futebol. O esquema é atribuído a integrantes da facção com o apoio de policiais civis sob investigação por corrupção — grupo apelidado por investigadores de “outro PCC”.

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Ao longo das investigações sobre as mortes, a revelação de mensagens em um grupo de WhatsApp levou promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MP-SP, e investigadores da PF a descobrir que integrantes do PCC consultavam Danilo Gabriel de Andrade (Danilo) — ex-jogador com passagens por Corinthians (campeão mundial em 2012), São Paulo, Goiás, Kashima Antlers (Japão) e Vila Nova, e que também atuou como treinador nas categorias de base do Corinthians — para avaliar tecnicamente e indicar jovens atletas que deveriam ser priorizados para abordagem e eventual agenciamento por empresas ligadas aos investigados.

Segundo as apurações e documentos, a opinião de Danilo — técnico do Sub-23 (jan/2021 a jan/2022) e do Sub-20 (jan/2022 a jun/2024) do Corinthians — era citada como referência técnica nos diálogos. À frente do Sub-20, Danilo comandou o time na conquista da Copa São Paulo de 2024. Em abril de 2023, ele dirigiu o time principal do Corinthians contra o Palmeiras, pelo Campeonato Paulista.

o há, até aqui, indício da participação direta de Danilo nas transações de agenciamento sob apuração, nem de que os atletas citados soubessem da origem dos recursos que circularam por empresas de agenciamento conectadas aos investigados pela lavagem de parte do dinheiro da facção no futebol profissional.

O método: crivo técnico”, procurações e valores

Fato é que ao menos um atleta formado na base do Corinthians, o meio-campista Du Queiroz, referendado por Danilo, passou a constar publicamente como representado pela FFP Agency em 2021 (segundo registros do mercado).

Os diálogos do grupo de WhatsApp Sports! , travados em 28 de junho de 2021, expõem a lógica de aproximação dos investigados: primeiro, a busca por uma referência institucional (“já pedimos referência pro Duílio [presidente do Corinthians entre 2021 e 2023]”) e, em seguida, a validação técnica com Danilo — à época treinador do Sub-23 do Corinthians.

Nas mensagens, Filipe de Lucca Morais Tancredi, dono da FFP Agency, relata ter falado com Danilo e afirma que o atleta discutido seria “o melhor” do time e teria “pegada do Paulinho” — referência ao meio-campista Paulinho, ídolo do Corinthians e ex-Seleção Brasileira. A citação a “Paulinho” aparece como comparação de estilo, não como identificação de pessoa ligada às tratativas, e o jogador indicado era o meio-campista Du Queiroz.

A conversa também trata de procuração e de uma pedida de 100k frente a uma oferta de 50k, sem que fique claro a que se referem os valores (entrada, comissão, luvas) ou a moeda.

O interlocutor de Tancredi, Rafael Maeda Pires (Japa) — apontado em investigações da Polícia Civil como integrante do PCC com atuação na zona leste de São Paulo — endossa a importância do “crivo” de Danilo (“melhor jogador que ele tem no elenco do 23”) antes de avançar.

Transcrição literal (28/6/2021)
12:20 — Filipe Tancredi: “Boa tarde meus amigos / Estamos fechando mais um jogador do Corinthians / Já pedimos referência pro Duilio, mas seria bom falar com o Danilo antes / Será que conseguimos? / Valeuuu / Boa semana pra nós”
12:24 — Japa – Rafael Ma: “Boa tarde”
12:24 — Japa – Rafael Ma: “Qual jogador é que vou falar com o Danilo”
12:25 — Filipe Tancredi: “Du Queiroz volante”
12:25 — Filipe Tancredi: “10 anos de Corinthians”
12:26 — Japa – Rafael Ma: “Ok”
12:26 — Filipe Tancredi: “O Danilo é o treinador dele”
12:26 — Japa – Rafael Ma: “Ok”
12:26 — Filipe Tancredi: “Valeu mestre 👊👊👊”
12:35 — Japa – Rafael Ma: “Como está a negociação com ele?”
12:35 — Filipe Tancredi: “Falei com Danilo agora.”
12:35 — Filipe Tancredi: “Falou que é o melhor jogador que ele tem lá no time.”
12:36 — Filipe Tancredi: “É o próximo Paulinho.”
12:37 — Filipe Tancredi: “Tá na mão, acertando valores com eles só.”
12:37 — Filipe Tancredi: “Pai pede 100k nos oferecemos 50k” [sic]
12:45 — Japa – Rafael Ma: “Por toda a procuração?”
12:46 — Filipe Tancredi: “Sim irmão 100%.”
12:46 — Japa – Rafael Ma: “O Danilo falou que é pegada do Paulinho.”
12:46 — Japa – Rafael Ma: “Melhor jogador que ele tem no elenco do 23.”
Notas de edição: número de telefone suprimido por privacidade; a transcrição preserva ortografia e pontuação das mensagens originais.

Esse timing é coerente com a trajetória de Du Queiroz, volante formado no Corinthians (cerca de dez anos de base), promovido ao profissional em 2021. Em julho de 2023, ele foi vendido ao Zenit (Rússia) por € 6 milhões. No ano seguinte, foi emprestado ao Grêmio (fev/2024), retornou ao Zenit (dez/2024) e, em 2025, passou por empréstimo ao Sport (fev–ago/2025), antes de voltar ao Zenit e ser repassado ao Orenburg, também da Rússia, por empréstimo até junho de 2026.

Essa sequência ilustra por que o jogador já despertava apetite de agenciamento em 2021: atletas às portas do profissional tendem a se valorizar rapidamente, gerando comissões recorrentes e novas intermediações a cada movimentação — um terreno fértil para quem tenta mascarar a origem de recursos por meio de contratos e repasses entre empresas.

Em 13 de julho de 2021, o mesmo grupo “Sports! ⚽” registra foto de um maço de cédulas acompanhada da mensagem “Du Queiroz tá separado”; na sequência, surgem “Fechou”, “Vou marcar com o pai dele hoje”, “Top” e “Assina tudo” — o conteúdo sugere preparação para encontro e assinatura de documentos ligados a representação, sem detalhar finalidade, valores ou moeda, tampouco comprovar entrega de dinheiro.

Em 16 de julho de 2021Filipe Tancredi compartilha a imagem de um boleto bancário (arquivo “Boleto_Queiroz.pdf”) e escreve “Registro do Du Queiroz na CBF”, seguido de “Grandes novidades pra essa semana”. A troca — antecedida dois dias antes por foto de camisa do Corinthians e mensagens como “estamos com o pessoal aqui” — sugere que os interlocutores tratavam de burocracia junto à CBF (Confederação Brasileira de Futebol): pagamento de taxa/registro.

13 de jul. de 2021
17:00 — Japa – Rafael Ma: [Foto] (maço de cédulas sobre uma mesa)
17:01 — Japa – Rafael Ma: “Du Queiroz tá separado”
17:01 — Filipe Tancredi: “Fechou”
17:01 — F: “Vou marcar com o pai dele hoje”
17:02 — Picanha: “Top”
17:02 — (remetente não identificado): “Assina tudo”

14 de jul. de 2021
(remetente não identificado): “Já te ligo aí”
21:34 — F: “Estamos com o pessoal aqui”
21:34 — Picanha: “Fechou”
21:34 — F: “Ja compra mais um ai agora”
21:48 — Japa – Rafael Ma: (encaminhou de Filipe Tancredi) [Foto] (camisa do Corinthians nº 37)
21:48 — J: “Tooop!”

16 de jul. de 2021
18:03 — Filipe Tancredi: [Imagem de boleto bancário]
18:03 — (anexo) Boleto_Queiroz.pdf — 1 página · 6 KB · pdf
18:03 — Filipe Tancredi: “Boa noite galera”
18:04 — Filipe Tancredi: “Tudo certo?”
18:04 — Filipe Tancredi: “Registro do Du Queiroz na CBF”
18:04 — Filipe Tancredi: “Grandes novidades pra essa semana galera”

Em 28/07/2021Filipe Tancredi comunica ao grupo que Du Queiroz pediu uma chuteira, e se dispõe a providenciar o item “se derem o ok”. Na sequência, Picanha autoriza (“Manda chuteira”), questiona “Pagamento” e diz que retornará. Isoladamente, o fornecimento de equipamento é prática comum no ambiente do futebol e não comprova vantagem indevida; porém, no contexto do grupo — que buscava procuração e usava o crivo técnico de Danilo para priorizar atletas — o gesto funciona como aproximação relacional. O chat não esclarece se a chuteira foi de fato entregue.

15:44 — Filipe Tancredi: “O Du Queiroz pediu uma chuteira também pra nós, se derem o ok já resolvo isso pra ele aqui”
16:26 — Picanha: “Manda chuteira” / “Tarde” / “Pagamento” / “Ja te falo”

Quase dois anos depois dessas mensagens, em 4 de maio de 2023Rafael Maeda Pires, considerado por investigadores como sócio oculto da FFP Agency, foi encontrado morto, dentro de um carro, na garagem de um prédio comercial no Tatuapé, zona leste de São Paulo, com um tiro na cabeça.

Essa foi uma das seis mortes de envolvidos com o PCC que também chamou a atenção da polícia para o esquema de agenciamento de jogadores por parte de membros da facção — leia mais abaixo. Parte dos policiais sustenta a hipótese de suicídio (inclusive sob coação) de Rafael Maeda; outra linha trabalha com homicídio encomendado pela facção criminosa.

Outros atletas citados e o caso Igor Formiga

Durante as tratativas sobre Du Queiroz, as mensagens do “Sports! ⚽” mostram que Rafael Maeda e os demais membros do grupo também miravam Igor Formigão” (grafado assim no chat; trata-se do lateral Igor Formiga, então na base do Corinthians). Hoje no JuventudeFormiga é representado pela FFP Agency (registros públicos).

No dia 22 de junho de 2021, os interlocutores celebram Igor Formiga: circula um link do YouTube intitulado “IGOR FORMIGA – LATERAL DIREITO / CORINTHIANS”, seguido de “Mais um, galera!!”, aplausos e felicitações. Japa – Rafael Ma escreve “Toooop, irmão” e, na sequência, “Parabeeeens!!!”. O perfil F.Pfelipe Futebol agradece (“Obrigado ❤️👊”) e arremata: “7 anos de contrato”.

O diálogo indica entusiasmo por um acerto envolvendo o lateral e sugere a existência de um contrato de longa duração — sem especificar se é representação/agenciamento ou vínculo esportivo com clube. Depois, Rafael Maeda volta ao chat com três emojis de palmas, aplaudindo a “contratação” de mais um jogador do Corinthians.

Outros nove atletas profissionais foram citados nas conversas do grupo de WhatsApp da FFP Agency rastreado pela Polícia Federal e pelo Gaeco. Desses, Gustavo Scarpa (meio-campista do Atlético-MG), Caio Matheus (atacante revelado pelo São Paulo, hoje sem clube) e Felipe Negrucci (volante do São Paulo) são, de fato, representados pela FFP Agency e tiveram seus nomes debatidos para contratação quando Rafael Maeda Pires ainda tinha poder de decisão dentro da empresa. Até aqui, não há indícios de participação criminosa por parte dos atletas.

Danilo, o policial suspeito e o outro PCC”

Na mesma trilha que apurou as seis mortes ligadas ao PCC (2021–2024) e o uso do agenciamento de atletas para lavar dinheiro, as quebras de sigilo telefônico pedidas pelo Gaeco e cumpridas pela PF abriram um segundo eixo de investigação: o de policiais civis sob suspeita de dar cobertura a aliados e membros da facção — o braço que investigadores chamam de outro PCC”, em referência a policiais civis investigados por corrupção.

Entre os nomes sob escrutínio está o do investigador Marcelo Roberto Ruggieri, o Xará”. Em arquivos digitais atribuídos a ele, peritos da Polícia Federal localizaram uma sequência de fotos com armamento longo e, em uma dessas imagens, Ruggieri aparece ao lado de Danilo Gabriel de Andrade, então jogador do Corinthians, com uma arma em punho.

Os documentos não esclarecem local, circunstância ou a regularidade do armamento, e não imputam crime a Danilo pelo simples fato de estar na foto; o registro, porém, aproxima personagens centrais das duas frentes da investigação. Os peritos descobriram que a fotografia foi feita em 2013, quando Danilo ainda era jogador do Corinthians.

Para o Gaeco e a PF, esse material visual ajuda a dimensionar as conexões entre o ambiente policial investigado e o circuito de agenciamento/valorização de atletas — o mesmo em que, anos depois, Danilo passaria a ser citado nos chats como referência técnica para a contratação de atletas por parte de empresas de agenciamento. A hipótese sob análise é que o “outro PCC” não atuaria apenas nas ruas, mas também na proteção e facilitação de negócios que orbitam o futebol.

Gritzbach: delatou esquemas do PCC, até no futebol, e foi fuzilado

A mesma perícia realizada pela PF no celular do policial Ruggieri revelou a existência de uma fotografia que ajudou a explicitar a conexão dele com o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach — executado com dez tiros de fuzil, a mando do PCC, em 8 de novembro de 2024, no Terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Outra imagem, descrita no laudo, mostra Gritzbach ao lado de Ruggieri e de Robinson Granger de Moura (Molly). O documento aponta data, hora e coordenadas associadas ao arquivo, fixando o local do encontro; os peritos ressalvam que a extração traz imagens e documentos, sem diálogos que expliquem o contexto. Ainda assim, a foto reforça a proximidade entre XaráGritzbach e Molly — personagens que transitaram, segundo a investigação, entre o núcleo policial sob suspeita e o circuito de negócios associado à facção.

Molly é concunhado do policial civil Ruggieri e, segundo relatórios sigilosos da PF, teria apresentado a Gritzbach diversos integrantes e aliados do PCC para negócios financeiros e imobiliários — entre eles Rafael Maeda (Japa), apontado como sócio oculto da FFP Agency, e Anselmo Becheli Santa Fausta (Cara Preta), liderança do tráfico apontada por MP e polícia.

Anselmo foi morto a tiros, em dezembro de 2021, ao lado de seu braço direito, Antonio Corona Neto, o Sem Sangue. Enfurecidos com o assassinato da dupla, peças importantes no fornecimento de cocaína para o PCC, integrantes da facção começaram uma investigação paralela e rastrearam quem tinha interesse em matá-los. Assim, os membros do PCC chegaram ao nome do executor da dupla, o ex-detento Noé Alves Schaum.

Após sequestrar Schaum, em janeiro de 2022, membros do PCC o interrogaram em um “tribunal do crime” e ele acabou esquartejado. Sua cabeça foi deixada em uma sacola na praça mais movimentada do bairro do Tatuapé, na zona leste de SP, perto de onde Cara Preta e Sem Sangue foram mortos, no mês anterior.

A partir das informações obtidas durante a tortura de Schaum, o PCC também descobriu que um agente penitenciário havia o contratado para matar Anselmo e Antonio.

Na sequência, tanto a polícia quanto o PCC descobriram que o empresário Gritzbach tinha ligação com o agente penitenciário e interesse em mandar matar Anselmo e Antonio. A partir daí, Gritzbach virou inimigo mortal do PCC.

O motivo: Anselmo havia investido milhões do lucro com o tráfico de drogas com Gritzbach e, durante muito tempo, foi enganado por ele sobre possíveis lucros obtidos em criptomoedas. Quando Anselmo tentou reaver sua fortuna de aproximadamente R$ 200 milhões, Gritzbach, segundo a polícia e o MP-SP, armou o plano para executá-lo. O braço direito de Anselmo, Sem Sangue, foi morto porque o acompanhava quando Schaum cometeu o atentado.

Ao perceber-se na lista de alvos da facção e, segundo investigadores, sob constante extorsão de bens por integrantes do “outro PCC” — núcleo de policiais civis sob suspeita —, Gritzbach firmou acordo de colaboração premiada com o Ministério Público de São Paulo para relatar o que sabia sobre a lavagem de dinheiro praticada pela facção.

A colaboração de Gritzbach ao MP-SP — proposta no fim de 2023 e homologada em 2024 — descreve, em linhas gerais, um circuito de lavagem que usaria o agenciamento de jogadores de futebol e outros ramos (empresa de ônibus, “banco digital”, varejo e criptoativos) para misturar recursos do tráfico com receitas lícitas.

Ao MP, Gritzbach entregou mensagens, contratos e comprovantes que, segundo os autos, apontam Rafael Maeda (Japa) como sócio oculto da agência de atletas FFP Agency, além de elos operacionais com Robinson Granger de Moura (Molly)Danilo Lima de Oliveira (Tripa) e Anselmo Becheli Santa Fausta (Cara Preta). Ele também narrou, em depoimentos e anexos, como o “outro PCC” teria exigido dinheiro e imóveis dele

Policial Xará e Japa no tribunal do crime”

Em janeiro de 2022, após a execução do ex-detento Noé Alves Schaum, membros do PCC com atuação na zona leste de São Paulo submeteram o empresário Gritzbach a um tribunal do crime” — chamado pelos criminosos de tabuleiro”.

De acordo com a investigação, quem conduziu Gritzbach até o local do tribunal paralelo, também no bairro do Tatuapé, foi o policial civil Ruggieri, em parceria com Rafael MaedaDanilo Lima de Oliveira e Cláudio Marcos de Almeida (Django).

No ambiente do “tribunal”, a pressão escalou. Em relatos que embasam a apuração, Danilo Lima — agente de jogadores investigado — foi apontado como o mais agressivo, com ameaças físicas e simulação de que Gritzbach seria esquartejado, durante uma sessão que durou horas. O objetivo era quebrar a resistência do empresário e forçar a entrega de ativos ligados à facção.

O desfecho imediato daquela noite foi o que os investigadores descrevem como uma absolvição”Gritzbach entregou um token (chave eletrônica) que dava acesso a R$ 27 milhões, valor que, segundo a denúncia, foi repassado a Django. Com isso, saiu vivo do julgamento interno.

Há também uma segunda versão registrada nos autos: a de que ele teria sido inocentado por falta de prova sobre participação nos homicídios de Cara Preta e Sem Sangue — tese explorada por policiais civis para, depois, extorqui-lo.

Após o “júri”, Molly acompanhou a recondução de Gritzbach ao prédio onde morava e minimizou o episódio como um “desentendimento” que seria resolvido. Na garagem do prédio onde o empresário viviaJapa recebeu documentação e informaçõesnaquele momento ocorreu a entrega do token de R$ 27 milhões. O tom de “acordo” explica por que Gritzbach foi libertado.

Nos meses seguintes, dois pivôs do sequestro foram encontrados mortos na zona leste: Django apareceu enforcado (jan/2022) e Japa foi achado com um tiro na cabeça — mortes que a investigação relaciona a acertos de contas internos do PCC após o duplo homicídio de Cara Preta e Sem Sangue e a “absolvição” de Gritzbach. Os registros reforçam o caráter disciplinar e letal da justiça paralela da facção.

Um aspecto central da trama é o papel do policial Ruggieri: além de participar da condução de Gritzbach ao “tribunal”, a perícia aponta nculos pretéritos dele com Cara Preta (inclusive conversas) intermediadas por Japa; e há uma sentença judicial que o condenou por usar o cargo de investigador para emitir a 2ª via do RG do traficante.

Xará foi condenado por ajudar Cara Preta a tirar RG

Ruggieri — citado em documentos que também mencionam Danilo (inclusive uma foto de 2013 ao lado do ex-jogador) — foi condenado, em novembro de 2024, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, por advocacia administrativa (usar o cargo público para defender interesse privado) por ajudar Anselmo a tirar a segunda via de seu RG.

Ao ajudar Anselmo na emissão do RG, Ruggieri o apresentou no órgão público emissor do documento como um parente que precisava do documento para viajar. A condenação foi substituída por uma multa de quatro salários mínimos, e o policial pôde recorrer da sentença.

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