Durante o Cardiofut, evento de cardiologia esportiva com apoio do Fluminense, que aconteceu nesta sexta-feira (17), Ganso falou pela primeira vez sobre o problema no coração que teve no início do ano. O jogador perdeu o início da temporada com o clube por conta do tratamento da miocardite.
No meio do depoimento, o jogador detalhou alguns processos que passou com Dr. Fabrício Braga, cardiologista do Fluminense. Ganso ainda não tinha dado qualquer relato público sobre sua luta contra miocardite.
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Fala de Ganso
— Depois de seis anos, este foi o sétimo ano dentro do Fluminense, fazendo sempre os acompanhamentos e os procedimentos lá no LPH, com o doutor Fabrício. Sempre fui de carro, sempre sozinho para fazer os exames. E, justo nesse ano, falei para minha esposa: "Vamos lá comigo, você não está fazendo nada. Coisa rápida, vamos lá.” Chegamos lá, comecei a fazer o exame de bicicleta, com a máscara, me sentindo bem. Mas depois cheguei lá no LPH e o Dr. Fabrício, com uns dez minutos de exame, falou: “Para, para, para.” Eu meio que não entendi o porquê, mas quem estava ao redor na sala já percebeu. Ele falou: “Vai fazer agora o ECO para a gente ver como está, o exame já está tranquilo, mas vamos verificar alguma coisa aqui.” Eu estava bem tranquilo, mas quem estava na sala percebeu a agilidade com que ele conduziu tudo.
— Em seis anos, nunca tinha passado por aquilo. Na hora, ele falou: “Você vai fazer o ECO e depois uma ressonância.” Quando ele falou da ressonância, foi que me assustei um pouco, porque nunca tinha feito esse exame depois do teste da bicicleta. Mas enfim, pensei: vamos ver o que vai acontecer, porque a saúde está em primeiro lugar. Depois da ressonância, ele me deu a notícia. A primeira pergunta que fiz, foi: “Vou poder voltar a jogar futebol? Vou poder fazer o que amo?” E ele respondeu de forma neutra, sem dizer nem sim, nem não. Foi nesse momento que senti maior medo, de tudo que estava acontecendo e de começar a entender pelo que estava passando. Depois, ele disse: “Você não vai poder fazer nada, não vai poder correr, não vai poder subir escada, não vai poder carregar os teus filhos no colo, não pode jogar bola com teu filho, não pode brincar de cavalinho com tua filha.” Isso foi o que mais pesou para mim. Mas eu tinha confiança nele, que o doutor Fabrício me passou: confiava que eu ia conseguir me recuperar. Não sabia se voltaria a jogar, mas tinha confiança.
Para entender mais sobre o processo vivido pelo camisa 10, o Lance! conversou com Creuza Lima, também conhecida como Dona Creuza, mãe da Ganso. Creuza mora no Pará, cidade natal do ídolo do Fluminense, que para ela é "Henrique". Mas quando o filho recebeu o diagnóstico, estava no Rio de Janeiro, e não pensou duas vezes em ficar na cidade até que as coisas se resolvessem.
Dona Creuza não conteve as lágrimas durante seu relato sobre o episódio. Veja abaixo o depoimento completo:
Mãe de Ganso chora ao revelar bastidores de luta do filho contra miocardite
— Nós tínhamos acabado de chegar de uma viagem, e à noite já estávamos preparando a bagagem para viajar no dia seguinte, quando o Henrique chegou lá, às 8 horas da noite, e disse: “Mãe, pai, eu tenho uma coisa para dizer para vocês.” Aí eu perguntei: “O que é, meu filho?” Ele respondeu: “Deu problema no meu coração.” Eu respirei fundo, e meu esposo também. Então eu disse: “Meu filho, o que aconteceu? Você nunca teve problema de coração.” Ele explicou: “Eu estava fazendo os exames e aconteceu isso.” Eu falei: “Filho, eu não vou mais embora, vou ficar aqui esperando os resultados dos exames e vou aguardar o que vai acontecer. Mas vamos com calma, que Deus é mais importante, que Deus está bem presente na sua vida.” Quando eu falo, me emociono. Ficamos um mês com ele.
— Quando fomos lá, o doutor Fabrício fez os exames novamente e falou que ele já estava apto a jogar. Isso nos aliviou muito. Aí disse: “Então, já que voltou tudo certo nos exames, vamos voltar para Belém.” Quando estávamos em Belém, fazia uma ou duas semanas, Giovanna ligou para nós dizendo que o Henrique ia fazer outro exame. Eu falei: “Minha nora, eu estou indo viajar.” Ela respondeu: “Não é preciso, desde que a gente resolva isso.” Então não fomos, mas nos falávamos todos os dias pelo telefone, e eu o via diariamente. Sofremos muito. Coração de mãe.
O Lance! também falou com Giovanna Costi, esposa de Ganso. Junto com o craque desde o primeiro momento do diagnóstico, a companheira do craque detalhou o processo da família.
Relato da esposa de Ganso sobre afastamento
— A gente mora na Barra, veio para a Zona Sul, e fomos juntos conversando. Mas também foi o que ele falou: na sala ficou um clima, deu para sentir na hora do exame. Eu acho que até eu senti antes dele. Enfim, foi um baque. Na cabeça dele, a maior preocupação, óbvio, era a vontade de jogar, mas eu, como esposa e mãe dos filhos dele, na hora só pensava: meu Deus, meu marido, o pai dos meus filhos, como é que o Henrico e a Stella vão reagir? E os meus sogros estavam em casa, né? Então eu não sabia como eles reagiriam também. Minha preocupação era com o ser humano, com a pessoa dele. E, óbvio, ver ele realizando os sonhos dele, jogar futebol, que é o que o move, é uma das minhas maiores alegrias. Mas eu queria saber da saúde dele. Como ele falou, fomos muito bem assistidos: Fluminense, o Dr. Fabrício… isso fez toda a diferença para termos calma, tranquilidade e até chegar à liberação para ele voltar a jogar.
Relembre como foi o tratamento do camisa 10
Diagnosticado com uma miocardite nos exames de pré-temporada, o meia ficou 30 dias afastado, realizando novo exame ao fim deste prazo, quando então voltou aos treinos. No entanto, a equipe de cardiologistas que acompanhava o jogador viu a necessidade de realizar um procedimento que o deixou fora por mais sete dias. O craque voltou a treinar no dia 22 de março, com trabalhos específicos de transição.
Ganso voltou a entrar em campo no dia seis de abril, na partida contra o Bragantino, pelo Brasileirão. O meia entrou aos 23 minutos do segundo tempo, ovacionado pela torcida no Maracanã.
Apesar de não possuir histórico de problemas cardíacos, o departamento médico do Fluminense investigou que a razão mais provável para o diagnóstico foi uma gripe contraída pelo atleta em novembro de 2024. Isso porque qualquer infeccção viral pode acarretar em uma miocardite.
Nestes primeiros meses de retorno, os médicos utilizarão um eletrocardiograma portátil para acompanhar os dados cardíacos de Ganso em tempo real. Com o dispositivo, a equipe médica poderá monitorar as informações à distância e de forma mais completa. Embora esteja recuperado, o meia do Fluminense será monitorado até o fim de sua carreira.
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O que é miocardite?
A miocardite é uma inflamação do músculo do miocárdio no coração e pessoas de diferentes faixas etárias podem ser acometidas com o problema. A inflamação da miocardite é viral e acontece como diversas outras inflamações causadas por um vírus, seja ela por uma gripe mais aguda, covid-19, dengue e outras viroses gastrointestinais ou respiratórias. ➡️ Entenda mais sobre o problema clicando aqui
Cardiofut
O Cardiofut, promovido pelo Laboratório de Performance Humana (LPH) e pela Dadoteca, reuniu grandes nomes da medicina esportiva, no Fluminense, na sexta-feira (15). O evento, contou com o apoio da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, Academia Nacional de Medicina, Sociedade Brasileira de Cardiologia, CBF e outros orgãos. Mário Bittencourt, Ganso e Washington Coração Valente também marcaram presença no evento. ➡️ Veja tudo sobre o evento