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Devoto da Seleção Brasileira, Osorio tem chance de mostrar que seus métodos vão além de caneta e papel

Treinador do México moldou estilo arrojado inspirado no Brasil de 1970, tricampeão justo no país norte-americano. Agora, tem a Amarelinha pela frente no desafio da vida

(Foto: HECTOR RETAMAL / AFP)
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Em 1970, quando a Seleção Brasileira encantava o mundo com show de Pelé e Cia. na Copa do México, em Santa Rosa do Cabal, pequena cidade do interior da Colômbia, um garoto de nove anos assistia a tudo maravilhado e com a certeza de que não poderia haver algo maior do que aquele futebol praticado pelo esquadrão verde e amarelo. Esse garoto era Juan Carlos Osorio, atual treinador do México, adversário da Seleção na próxima segunda-feira nas oitavas de final do Mundial em Samara, na Rússia. O destino colocou o Brasil novamente no caminho de Osorio, algo que o honra, e lhe concede a oportunidade de mostrar ao mundo que seu estilo, reprovado por muitos no país do futebol há três anos, vai muito além de bilhetinhos e canetas coloridas.

Osorio é, antes de tudo, um apaixonado por futebol e pelo jogo bonito, ofensivo, tal qual o praticado pela Seleção de 70. Tudo o que faz e pensa para seus times estão pautados nestes princípios. Volta e meia, lembra das célebres atuações do Brasil no México, curiosamente o país do qual carrega o sonho de milhões de apaixonados agora. Não abre mão de suas convicções, nem que isso o coloque na mira dos críticos ou causem derrotas amargas, como a histórica goleada de 7 a 0 sofrida para o Chile na Copa América de 2015 nos Estados Unidos. Antes de tudo, o Profe, como é conhecido, enxerga o esporte como instrumento para a satisfação humana. Por isso não vê a hora de a bola rolar em Samara para o duelo mais importante de sua vida.

- Será uma honra competir com o Brasil. Jogo muito difícil, o Brasil é um super time - afirmou o treinador, em contato rápido com a reportagem. 


Em maio de 2015, Osorio realizou o sonho de trabalhar no Brasil. Chegou empolgado com o projeto que o São Paulo oferecera. Saiu quatro meses depois, por conta do conturbado momento político do clube e um tentador convite mexicano para levar a seleção ao Mundial na Rússia. Deixou tantos fãs quanto críticos. Experimentou grandes realizações e dissabores.

O maior desgosto veio de Carlos Miguel Aidar, então presidente do São Paulo. Após uma partida, o treinador recebeu em seu celular uma mensagem do dirigente: "Pare de inventar!", motivada pelas constantes mudanças na equipe, uma de suas marcas. Aquele recado o partiu o coração. O Profe não conseguia absorver como uma crítica a algo tão íntimo poderia vir daquela forma, por uma mensagem de texto no celular, algo tão impessoal. Logo ele, afeito ao trato olho no olho. Está sempre disposto a uma conversa, principalmente sobre futebol, mas com Aidar, a partir daquele momento, nunca mais. Não demorou muito para ele dizer que não confiava na diretoria, e pegar seu boné rumo ao México. 

Mas Osorio também foi feliz no Brasil. Durante quatro meses, conquistou a admiração de boa parte da torcida, que ele considerava um pouco fria nos jogos. Queria mais apoio, mais paixão. É importante ressaltar que o clube não vivia uma boa fase e há três anos não conquistava um título. O técnico pensa um dia em voltar a trabalhar no país, e o São Paulo estará sempre entre suas prioridades pelo carinho que tem com o clube, mas não descarta treinar outro. Criou admiração pela energia da torcida do Corinthians, grande rival do Tricolor.

No período no Brasil, fez aulas de português e tentou se aprofundar na sociedade brasileira. Para isso, mergulhou na literatura de Nelson Rodrigues, após receber da reportagem do LANCE! um exemplar de "A vida como ela é", obra-prima do escritor pernambucano que fez vida no Rio de Janeiro. 

Trocou experiências com profissionais de imprensas interessado em conhecer mais seu trabalho e manteve relação intensa com funcionários do São Paulo, entre eles Rogério Ceni, em quem deixou marcas. Logo de cara, uma das maiores lendas da história do clube disse que o Profe tinha condições de ser uma espécie de Guardiola ou Mourinho do futebol brasileiro. Mais tarde, contou que a convivência com o técnico o fez repensar seus conceitos sobre futebol. Não à toa o ex-goleiro passou um período observando os treinamentos do México em seu período sabático antes de se tornar treinador. Eles mantêm contato até hoje.

- Foi aí que eu vi que não estava tão preparado quanto imaginava. O que vi de treinadores durante a carreira me fazia sentir preparado para ser treinador. Osorio mudou isso - afirmou Ceni, hoje técnico do Fortaleza, no qual aplica conceitos em que a influência de Osorio está presente.

Com os jogadores, a mesma coisa. Não foi unanimidade, mas quase. Em sua despedida, grande parte do elenco do São Paulo postou mensagens emotivas agradecendo o período de trabalho com Osorio. Um dos pontos fora da curva foi Michel Bastos, meia do Sport que costumava ser escalado pelo técnico na lateral esquerda e não gostava. Nos bastidores, Michel fazia críticas ao colombiano. Os demais, porém, vinham como uma atitude de quem estava colocando seu desejo acima do grupo. O zagueiro Rodrigo Caio foi um dos mais entusiastas do trabalho do Profe. A ele, o técnico fez pomposos elogios. Um deles tratava sobre Fair Play, que depois pautou até Tite na Seleção quando o são-paulino teve uma atitude assim em clássico contra o Corinthians no ano passado. Osorio dizia que Rodrigo poderia jogar rugby, tamanha a disciplina e jogo limpo.

- Realmente, aprendi muito com ele. Primeiro a forma intensa de treinar e se preparar para o jogo. Jogar em linha alta, a construção do jogo pela condução de bola dos zagueiros e sempre procurar passes entre as linhas. Vejo esses fatores os principais - afirmou o zagueiro do São Paulo, em entrevista ao LANCE!.

Rodrigo, porém, reconhece que o estilo arrojado do treinador gerava certos calafrios nos zagueiros.

- Isso acontecia às vezes mesmo. Em alguns momentos era tenso (risos), mas tínhamos que dar nosso jeito e a confiança dele em nós era muito grande, pois tudo era muito treinado. Mas tinha também o outro lado, nós zagueiros participávamos bastante com a bola, construindo as jogadas lá de trás e tínhamos bastante domínio do jogo - analisou.

No México, Osorio chegou à Copa com os mesmos princípios e cenário vistos no Brasil. Amparado pelo grupo, que comprou sua ideia, mas muito criticado pela imprensa, principalmente por nunca manter o time. As cornetas, porém, diminuíram na Rússia com a vitória histórica sobre a campeã Alemanha por 1 a 0 na fase de grupos. Não havia como bater no Profe. Até que veio o confronto com a Suécia para encerrar a primeira fase e uma acachapante derrota por 3 a 0 voltou a colocar dúvida sobre o trabalho do treinador e sua comissão técnica. 

Osorio tem a chance de novamente reverter esse cenário nesta segunda-feira em Samara. Para isso, porém, terá de bater a Seleção Brasileira, aquela que provocou seus sonhos de crianças e moldou sua forma de ver futebol. As famosas canetas azul e vermelha estarão prontas para escrever os bilhetinhos entregues aos jogadores durante os jogos. A esperança é de que o final seja escrito em verde, vermelho e branco, as cores da seleção mexicana.