O clássico entre Roma e Lazio sempre é uma partida com características próprias. No duelo deste domingo a carga emocional ficará ainda maior, principalmente para o torcedor laziale. É o primeiro derby desde que os restos mortais do ídolo Chinaglia chegou à capital italiana no último dia 6 de setembro.
Personagem controverso, de personalidade forte e polêmica, Chinaglia foi o principal jogador do primeiro Scudetto conquistado pela Lazio, na temporada 1973/74. O atacante foi artilheiro daquele campeonato, com 24 gols.
– Era uma pessoa incrível. Mas, às vezes, ele defendia o seu ponto de vista de forma tão veemente que tomava atitudos violentas – lembrou ao LANCE!Net o ex-goleiro da Lazio, Felice Pulici.
Depois de sete anos defendendo o clube italiano, Chinaglia jogou outros sete pelo New York Cosmos. Carlos Alberto Torres lembrou com carinho do ex-companheiro.
– Foi um dos caras que mais me ajudou quando eu cheguei nos Estados Unidos. Uma pessoa extraordinária. Tanto é assim que, quando morreu, o Steve Ross cedeu a ele todos os direitos da marca Cosmos. Ele não quis – disse Torres.
Chinaglia morreu nos Estados Unidos, em abril do ano passado, aos 66 anos. Os seus ex-companheiros de Lazio conseguiram depois de três meses de burocracia levar os restos mortais do artilheiro de volta a Roma.
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Uma das imagens marcantes de Chinaglia é a foto dele apontando, em direção à torcida adversária, após anotar o gol da vitória sobre a Roma por 2 a 1. A imagem, registrada na temporada do título, virou um ícone entre os laziali e uma enorme bandeira mostrada pelos torcedores no Estádio Olímpico.
– Chinaglia é a imagem personificada da Lazio. Por isso o clássico deste domingo é tão especial. Um vitória seria comemorada mais do que qualquer outra. Por outro lado, a Roma está motivada para vencer em um momento histórico de seu rival – analisa Pulici sobre o derby.
Quem foi Giorgio Chinaglia?
Infância em Gales
Chinaglia era filho de um casal de mineiros italianos, que emigrou para o País de Gales para trabalhar em minas de carvão. Iniciou a carreira como profissional pelo Swansea
Série B
Chegou à Lazio em 1969. Na temporada 1971/72 foi artilheiro da Série B, com 21 gols, feito que o levou a ser convocado pela seleção italiana em 1972.
Rivalidade
Tinha uma rivalidade enorme com um companheiro de equipe na Lazio, o meia Re Cecconi. Ambos organizavam às sextas-feiras rachões no CT do clube, onde se enfrentavam sempre o time de ambos. Não raro as partidas terminavam em discussões e algumas lesões.
Nos Estados Unidos
Em 1976, Chinaglia vai para o New York Cosmos. Conquista quatro títulos da NASL (North American Soccer League), a antiga liga norte-americana.
O dia que Pelé chorou
A relação entre Pelé e Chinaglia no Cosmos teve um episódio marcante. Após uma partida, o Rei criticou o italiano por ele chutar a gol de qualquer maneira. Irritado, o atacante explodiu gritando: “Posso marcar de qualquer lugar do campo, eu sou Chinaglia”. Abalado, Pelé deixou o vestiário chorando.
A última vitória
Chinaglia fez o gol que garantiu a última vitória do antigo New York Cosmos, em 1982. Foi anotado na final da NASL, nos 3 a 2 sobre o Seattle Sounders.
Morte
Morreu vítima de enfarto, em 1º de abril de 2012, em Naples, Flórida. Seus restos mortais foram depositados no mesmo mausoléu onde Tommaso Maestrelli, seu treinador na Lazio está enterrado.
Bate-Bola
Felice Pulici
Goleiro da Lazio entre 1972 e 1977, e 1981/82 ao LANCE!Net
Como surgiu a ideia de trasladar o corpo de Chinaglia para a Itália?
Um outro companheiro nosso, Oddi, visitou o túmulo de Tommaso Maestrelli. Lá viu uma foto de Chinaglia e perguntou à família Maestrelli se eles aceitavam que Giorgio também descansasse ali. Eles aceitaram imediatamente, assim como a família Chinaglia.
Chinaglia era um tipo de personalidade complexa...
Muito. Lutava pelo que achava ser o certo, e por vezes exagerava. Mas era um tipo disponível e sempre disposto a ajudar.
A rivalidade naquele time da Lazio era enorme, internamente, como o treinador Maestrelli conduzia isso tudo?
Ele era mais um psicólogo que um treinador. Os treinos às vezes havia disputas ríspidas. Mas essa raiva era toda descontada nos adversários nos fins de semana.
Hoje em dia causaria espanto um time onde praticamente todos os jogadores andassem armados...
Eram outros tempos. A sociedade era outra, na nossa cabeça o uso de armas era para defesa pessoal. Havia o risco de sequestro por parte do grupo Brigada Vermelha.
Com a palavra
Carlos Alberto Torres
Jogou com Chinaglia no Cosmos
Foram seis anos de uma relação incrível
Chinaglia foi um grande amigo. Tive com ele seis anos de boa relação, e até hoje a família dele me trata com o maior carinho. Um cara incrível.
Sobre o episódio envolvendo o Pelé, isso deve ter ocorrido antes de eu chegar. Mas confesso, sinceramente, que quando estive lá não vi nenhum problema entre os dois. Em campo eles jogaram, fizeram gols e ganharam títulos.