Há exatos 20 anos, o Palmeiras encerrava seu jejum de 17 temporadas sem títulos, com a goleada sobre o Corinthians por 4 a 0, na final do Campeonato Paulista de 1993, dia 12 de junho.
O feito tem como um de seus principais personagens o atacante Evair. Além de marcar no tempo normal, foi dele o gol, de pênalti, já aos 9 minutos da prorrogação, que garantiu a conquista do Estadual e iniciou uma dinastia vitoriosa do clube. A convite do L!, o matador alviverde visitou o Morumbi e se alegrou ao lembrar dos momentos antes do título.
– É uma emoção diferente quando se fala deste assunto. Já estive aqui (no Morumbi) outras vezes, até jogando, mas para falar deste assunto é raro. É o título mais importante da minha vida. O Palmeiras precisava dele. Foi um dia especial – relatou Evair.
Assim como para o time não foi fácil a conquista (o Corinthians venceu a ida por 1 a 0, gol de Viola, que depois imitou um porco na comemoração), a trajetória no clube também não foi tranquila para Evair. Contratado em 91, foi afastado em 92 pelo técnico Nelsinho Baptista – que foi o comandante do Timão naquela final de 93 – por deficiência técnica.
Em evento, ídolos comemoram com torcida 20 anos do Paulista de 93
O atacante não esquece do sofrimento durante esta fase. Nelsinho saiu do Verdão e o jogador voltou ao grupo com Otacílio Gonçalves. Mas ele também deixou o cargo e o jovem Vanderlei Luxemburgo assumiu.
– Não sabíamos o que podia acontecer, só que a decisão era muito importante e queríamos o título. Foram dias intermináveis. Chegava o domingo, mas não o sábado, dia do jogo. Foi difícil e marcante – recorda o ex-atacante, orgulhoso por saber antes de todos que o Palmeiras sairia da fila.
– Fui o primeiro a saber que seria gol, porque quando fui para a bola o Wilson já tinha pulado e bastou virar o pé, eu sabia que a bola iria entrar. Corri para me ajoelhar aqui. Não sabia que marcaria tanto, é algo que guardo com carinho – lembrou, no momento em que foi levado pelo L! ao escanteio em que celebrou o quarto gol.
De encostado a ídolo, Evair considera que conseguiu este carinho por conta do feito em 93.
– O que mais o torcedor faz é me agradecer. Para mim, não tem dinheiro que pague. É a sensação de dever cumprido, pois eles sabem o quanto eu sofri no Palmeiras e reconhecem que a luta valeu a pena. Eu teria feito de novo, foi algo que ficou para história – completou.
Evair em visita ao Morumbi (Foto: Ari Ferreira/LANCE!Press)
FICHA TÉCNICA
PALMEIRAS 4 X 0 CORINTHIANS
LOCAL: Morumbi, São Paulo (SP)
DATA: 12/6/1993
JUIZ: José Aparecido de Oliveira (SP)
GOLS: 36’ 1ºT Zinho (1-0); 29’ 2ºT Evair (2-0); 38’ 2ºT Edílson (3-0) e 9’ 1ºT da prorrogação Evair (4-0)
RENDA/PÚBLICO: Cr$ 18.154.900.000,00, 104.401 pessoas
CARTÕES VERMELHOS: Tonhão (Palmeiras), Henrique, Ronaldo e Ezequiel (Corinthians)
Palmeiras: Sérgio; Mazinho, Antônio Carlos, Tonhão e Roberto Carlos; César Sampaio, Daniel Frasson, Edílson (Jean Carlo) e Zinho; Edmundo e Evair (Alexandre Rosa) T: Vanderlei Luxemburgo
Corinthians: Ronaldo; Leandro Silva, Marcelo, Henrique e Ricardo; Ezequiel, Marcelinho Paulista, Paulo Sérgio e Adil (Tupãzinho (Wilson)); Viola e Neto T: Nelsinho Baptista
Bate-Bola: Evair - Ex-atacante, em entrevista ao L!
L!Net: O que mais passa pela cabeça quando fala sobre este título?
Evair: O sofrimento que passamos. Quando lembro do título, não lembro só daquele jogo. Foi o mais marcante, mas o sofrimento para minha vida, para o grupo, tudo o que acarretou, o que levou à conquista, as dificuldades.
Qual sofrimento foi esse?
O meu, por ter sido afastado, ficado meses fora do futebol no clube. O Palmeiras e o torcedor pelo jejum de 17 anos. Isso se juntou naquele momento.
Como foi a chegada ao estádio? Estava nervoso?
No caminho víamos a torcida do Corinthians, eles prontos para outra vez dizer que a fila ia seguir. E nós convidávamos eles para ir ao Morumbi, para ver o que aconteceria. Estávamos prontos para acabar com esse tabu.
Quebrar o tabu foi o que tornou o título tão marcante?
Sim, isso e o fato de ser contra o maior rival. Parecia história de livro ou filme, sobretudo para minha vida, por tudo o que passei. Era o momento de escrever outro final e o final foi diferente.
O que mudou depois disto?
Tudo. Nós éramos rejeitados nas ruas, mal tratados pelos palmeirenses, não tínhamos muita liberdade de sair com a família, e de repente mudamos de lado. Mudou a forma das pessoas olharem para nós.
Consegue lembrar como estava o estádio naquele dia?
Quando eu estava no vestiário, anunciaram meu nome, eu ouvia o torcedor gritando meu nome. Isso me marcou demais. Quando fui bater o pênalti, os torcedores estavam de mãos dadas. Muitas vezes lembro isso.