Dia 01/03/2016
04:22
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O maior vexame da história da Seleção Brasileira completa um ano no próximo dia 8 de julho. Desde o dia 2, em sete capítulos, o LANCE! publica matérias, análises e opiniões sobre a inesquecível goleada da Alemanha. A equipe do L!, claro, seguiu a equipe de Felipão do início ao fim da Copa do Mundo de 2014 e um dos jornalistas presentes no Mineirão conta suas lembranças:

"Bernard!?", foi o que mais se ouviu entre os jornalistas brasileiros, já nas tribunas do Mineirão, quando a escalação da Seleção Brasileira foi confirmada por Luiz Felipe Scolari. Falar depois, é fácil. Neste caso, a grande maioria questionou (e muito!) antes de o maior vexame da história do futebol brasileiro começar. Óbvio que o garoto, hoje "sumido", não é o responsável pelo massacre alemão. Jamais saberemos se seria diferente com Neymar, ou outra escalação, contra a Alemanha. Mas Felipão já começou de forma errada o que terminou de maneira trágica.

Scolari teve de escalar o Brasil pela primeira vez sem o craque em um ano e meio de Seleção. Bernard era quem mais vezes tinha saído do banco para entrar no lugar de Neymar com o técnico. Mas foi o que menos treinou antes da semi na Granja Comary. O óbvio era reforçar o meio de campo, com a volta de Luiz Gustavo (vinha de suspensão) ao lado Fernandinho e Paulinho, diante do fortíssimo adversário.

A Seleção perderia de qualquer jeito. Talvez não fosse humilhada. Jamais saberemos. O que sabemos é que até hoje é difícil descrever e explicar a sensação de quem estava no Mineirão em 8 de julho de 2014. Até o primeiro gol, nada de tão anormal. Apenas o esperado se confirmando: Alemanha na frente. Com o segundo já veio a sensação de "já era". Desorganização total, chutões da defesa ao ataque, falta de atenção dos jogadores e um técnico tão paralisado quanto a torcida era o que se via em verde e amarelo no campo.

Do terceiro gol em diante... Jornalistas se olhavam, incrédulos. A ficha de que realmente estávamos presenciando algo histórico só caiu com o respiro do intervalo, com o placar em 5 a 0. Àquela altura, todos quebravam a cabeça: o que escrever diante do massacre que será lembrado eternamente? Ao menos, tempo não faltava. Era esperar o tamanho do placar final com os 45 minutos restantes. Vi menos revolta, e mais espanto, nos torcedores. Era difícil entender o que se passava a cada bola na rede, a cada reinício de jogo. Não parecia real. Por mais diferenças que existissem entre os times, não cabe um 7 a 1 em nenhuma semifinal de Copa. Não caberia nem entre Coreia do Sul x Alemanha.

Foram dias de cobertura, em minha segunda Copa do Mundo seguindo a Seleção Brasileira. Fui até a final, no Rio de Janeiro, antes de voltar para casa, em São Paulo. Perdi as contas de quantas vezes revi os primeiros 29 minutos fatídicos nos meus dias de folga. Aquela atuação não existe. Em campo, continua sendo inexplicável tantos erros em tão pouco tempo. Fora dele, é bem fácil entender Brasil 1x7 Alemanha...


(David Luiz, um dos piores em campo, eternamente marcado - foto: AFP)

Resolvi buscar o que escrevi e publiquei na edição história do LANCE! de 9 de julho. Escalado para fazer a "visão do vexame", foi o que saiu:

Tragédia de 50 perde espaço para a vergonha de 14

Barbosa (descanse em paz, definitivamente), Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo, Bigode, Friaça, Zizinho, Ademir Menezes, Jair da Rosa Pinto e Chico. A 11 minutos do fim o uruguaio Alcides Ghiggia transformou em tragédia uma final de Copa do Mundo para este time. Lutaram, perderam bravamente. A história, escrita, não muda. Mas 64 anos depois, quando se falar em Copa no Brasil, é de 8 de julho de 2014 que lembrarão primeiro.

Os lutadores de 16 de julho de 1950 não foram vingados, porém, estão todos mais do que perdoados.

Julio Cesar, Maicon, David Luiz, Dante, Marcelo, Luiz Gustavo, Fernandinho, Oscar, Hulk, Bernard e Fred e, principalmente, Felipão, já carregam a partir de hoje o peso do maior vexame da história do futebol brasileiro. Não estarão vivos para apagar isso em território nacional.

Estarão nos livros de história que contarão como foi a aula de futebol que se viu no Mineirão.

O tempo talvez explique ainda o que foi difícil de compreender nos 29 minutos de uma surra alemã – o jogo terminou de vez nos 5 a 0. Adultos x crianças, quatro gols em seis minutos. Um time que tocou a bola como quis do início ao fim. Um baile que fecha um trabalho ruim do técnico pentacampeão nesta Copa de 2014.

Felipão pouco trabalhou variações táticas. Morreu abraçado com seu 4-2-3-1 engessado até o fim. Fiel ao esquema, com o inoperante Bernard, que não treinou entre os titulares, no lugar do craque Neymar – este vai poder dizer aos netos que ficou fora de campo neste massacre.

O Brasil só chegou até a semi porque é grande, pois sempre faltou bola. Há crise táticas e técnicas na equipe. A cabeça sempre esteve fora do lugar – muito por conta da onda do “já somos campeões” e “uma mão na taça” da comissão técnica e da CBF antes da Copa. Que vergonha…


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