Dia 27/10/2015
22:41
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As mesmas mãos usadas na adolescência para furtar moto, hoje, conferem os materiais que chegam em uma transportadora, na cidade de Osasco, na Grande São Paulo.

Mas foi com os pés que Clóvis  dos Santos Junior, de 28 anos, escreveu uma história  diferente à da maioria dos menores infratores.

E com o auxílio de Zé Maria, ídolo do Corinthians e da Seleção Brasileira nas décadas de 60 e 70 – e cujo trabalho realizado na Fundação Casa (ex-Febem) vem sendo mostrado pelo LANCE! nesta série de reportagens que se encerra hoje.

O Super Zé (apelido da época de jogador), que luta para recuperar internos da antiga Febem por meio do esporte, ajudou Clóvis a entrar no Juventus, em 2000, depois de um amistoso entre o clube da Rua Javari e o time da Fundação.

Assim, começou a carreira futebolística do garoto, então com 18 anos e ainda interno da Febem. Ele chegou a perambular por vários clubes até decidir largar a vida de jogador, em 2009, para cuidar de perto das três filhas, ao lado da esposa, colocando a mão na massa.

– Hoje, tenho casa própria, carro, tudo graças ao futebol, além da cabeça boa, que é o mais importante – orgulha-se Santos Júnior.

O salário ganho atualmente com o mesmo suor da época de jogador é pelo menos cinco vezes menor do que tirava no seu último clube, o Madre de Deus, da Bahia.

O rapaz, porém, não se faz de rogado e se joga no futebol de várzea nos fins de semana para complementar a renda. Segundo ele, no fim do mês consegue pôr mais
R$ 650 na conta, em média.

Agora, o sonho  é voltar a jogar por uma equipe profissional que o permita morar perto da família. Ele chegou a ir para o Tupã, no interior paulista, mas diz não ter ficado lá devido ao salário não compensar a distância das filhas. Por isso, aproveita e faz a sua propaganda.

– Minha principal característica é a velocidade. Além disso, tenho uma boa finalização. Estilo parecido com o do Edilson – afirma.

Enquanto ele fala com o LANCE!, os companheiros da empresa lhe pedem autógrafo, às gargalhadas. Diante da cena, reconhece:

– Aqui também sou muito feliz, é sempre essa zoeira toda!

Bate-Bola com Clóvis dos Santos Jr. - Ex-atacante

Como surgiu essa oportunidade de emprego?
Eu tinha voltado da Bahia, estava jogando só na várzea, então pedi para o treinador do time arrumar uma vaga para mim.

Quanto tempo você passou internado na Febem?
Um ano e dois meses, por assalto a mão armada.

Sofreu algum preconceito no início da carreira?
Nenhum tipo de preconceito. Pelo contrário. Me ajudaram muito. Falavam para eu erguer a cabeça.

E qual a participação do Zé Maria nessa reviravolta?
Foi fundamental na minha mudança. Ele colocou na minha cabeça que o esporte era uma saída e que eu poderia sair de lá diferente do que como eu estava.

Outros garotos devem ganhar uma chance

Neste ano, a história de recuperação de jovens infratores pelo futebol deve ganhar mais capítulos.

Com o encerramento da Copa Casa, no último dia 26 de março, Zé Maria selecionou 18 jogadores, que devem fazer amistosos com alguns clubes, dentre eles o Olé Brasil, de Ribeirão Preto (SP).

Pelo menos dois garotos da unidade de Rio Pardo mostraram talento acima da média na competição, ao terminarem como artilheiros, inclusive fazendo gol na final.

– Eu até já estava treinando no Olé antes da Copa, e agora devo voltar para lá. Zé sempre fala para aproveitarmos as oportunidades e levantar a cabeça – afirmou D., camisa 10 da equipe campeã.

Zé crê que cinco meninos da sua seleção devam ser observados de perto pela equipe de Ribeirão. Ele ainda tem outros times na manga, como o Juventus e o Nacional.

– Alguma coisa vamos conseguir para eles – previu o SuperZé.

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