Dia 01/03/2016
00:32
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A Espanha se tornou a melhor seleção do mundo após ser conhecida como “o time do quase” por décadas. Sempre chegava como favorita, mas esbarrava em seus próprios problemas táticos, com esquemas ofensivos e desequilibrados. Chegou-se a falar até em “maldição das quartas de final”. No entanto, essa história começou a mudar com a escola da posse de bola e domínio de jogo. E nesta quinta-feira a Fúria quer colocar isso em prática contra a Itália, no Castelão, às 16h, pela semifinal da Copa das Confederações.

Em 2008 teve início uma era de títulos e de mudanças no estilo de jogo que até hoje é copiado por muitos. O então técnico Luís Aragonés colocou em prática o jogo coletivo, com muitos toques, rápidos, em espaços curtos. Pediu que não chamassem mais o time de Fúria, pois era um apelido dado por conta do ímpeto ofensivo desenfreado.

A equipe passou a ter o domínio total dos jogos, controlando a bola, o tempo e os adversários. Sempre definia as jogadas após muitas trocas de passe. Era um novo estilo, muito baseado na escola catalã do Barcelona, que produziu para a seleção nomes como Xavi e Iniesta. Como foi dito na imprensa espanhola, na altura, deixou de ser o "touro" para ser o "toureiro".

Resultado: dois títulos da Eurocopa (2008 e 2012) e uma Copa do Mundo (2010) no currículo.

Vontade de vencer
A Espanha ganhou o mundo após vencer as principais competições. Para o técnico Vicente del Bosque, não há uma fórmula mágica para o sucesso deste grupo.

– É a motivação dos jogadores (o segredo). Não há uma receita única e uma fórmula universal. Mas sei que é fundamental manter o espírito crítico que nos trouxe até aqui – afirmou ontem o treinador espanhol.

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ADEUS, CATENACCIO
Apenas dez dos 23 jogadores que participaram do fracasso da Itália na Copa da África, em 2010, estão no Brasil, disputando a Copa das Confederações. O processo de reconstrução da Azzurra comandado pelo técnico Cesare Prandelli, no entanto, foi mais profundo que a simples troca de peças. A mudança principal aconteceu na mentalidade e nos objetivos traçados. A Itália, enfim, começou a preocupar-se com a qualidade de seu futebol e decidiu tratar melhor a bola, ao contrário do que prega a escola italiana, tetracampeã mundial baseada na força de sistemas defensivos eficientes, e que ficou conhecida como catenaccio.

Jogadores como os meio-campistas Marchisio e Montolivo e os atacantes Balotelli e El-Shaarawy ganharam espaço, em detrimento de jogadores essencialmente raçudos como Gattuso e Camoranesi.

– O objetivo no começo do trabalho, de fato, foi reunir jogadores de qualidade no passe, principalmente no meio de campo, para termos mais posse de bola. Acho que nos saímos bem. O objetivo é sempre dominar as ações em campo – afirma Prandelli.

A nova Azzurra obteve resultados rapidamente. O vice-campeonato na Eurocopa-2012 foi uma surpresa agradável e nem a goleada sofrida por 4 a 0 na final contra a Espanha ameaçou interromper o trabalho de Prandelli. Nesta quinta, a Itália enfrenta a Fúria de novo, sem se atormentar com a pressão de ter de vencer para chegar à final.

Para os italianos, há a certeza também de que a renovação vai continuar. Principalmente com os destaques da seleção sub-21, vice-campeã da Eurocopa da categoria (também contra a seleção espanhola), casos dos meias Verratti e Florenzi e dos atacantes Borini e Destro.

– Nós estamos melhorando. Chegamos à final da Euro, à final da (Euro) Sub-21, com um futebol de qualidade. A diferença (para a Espanha) já não está tão grande assim – diz o volante De Rossi, um dos remanescentes do fiasco de 2010.

Nesta partida, o lateral-direito Abate e o atacante Balotelli, que, machucados, já voltaram à Itália, serão substituídos por Maggio e Gilardino.

Gilardino é o substituto de Balotelli contra a Espanha

COM A PALAVRA
Roberto Assaf
Colunista do LANCE!
O inglês Herbert Chapman foi o homem que criou a retranca, na década de 1920, no Arsenal. O austríaco Karl Rappan a aperfeiçoou, dirigindo a Suíça na Copa de 1938, chamando o método de ferrolho. Mas foi o italiano Nereo Rocco que tornou o esquema famoso no pós-guerra, com o nome de catenaccio. Imaginar a Azzurra sem o hábito era impossível até 2010, quando Cesare Prandelli assumiu o seu comando, para adotar um estilo ofensivo, que até agora tem sido satisfatório.

O Real Madrid teve participação efetiva na consagração do 4-2-4, na década de 1950, sob a direção de quatro técnicos distintos, José Villalonga, Luis Carniglia, Fleitas Solich e Miguel Muñoz. Mas a Seleção da Espanha jamais obteve o mesmo êxito com o esquema. Não seria exagero afirmar que a equipe só passou a ter uma identidade própria após adotar a prática da troca de passes objetiva que o Barcelona foi resgatar de grandes esquadrões do passado, como o Santos de Pelé.

ESTILOS BEM DIFERENTES
O "catenaccio puro", célebre na Inter dos anos 1960, baseava-se em marcação individual feita por cinco ou mais jogadores. O contra-ataque era organizado pelo fantasista e pelos meias. A Juventus de duas décadas depois atualizou com a marcação por zona, e apenas o líbero se preocupava com o craque do rival. O ataque era semelhante.

Nova geração da Itália

Marco Verratti
Meia de 20 anos, destaque da seleção na Euro Sub-21, atua no PSG (FRA). Já foi chamado por Prandelli para a seleção principal.

Fabio Borini
Tem uma convocação para a principal. Com 22 anos, é atacante do Liverpool (ING) e esperança para a Copa-2014.

Mattia Destro
Também já foi convocado para a principal. Atacante de 22 anos, foi do Siena para a Roma.

DE FÚRIA PARA ROJA
O Real dos anos 1950 tinha dois jogadores no meio e quatro na frente, que rondavam a área. Di Stéfano era o cérebro, e depois, Puskas chegou para dividir as atenções.

Mudança na Fúria
Posse de bola
Um dos principais fatores do sucesso espanhol. Há jogos em que a Fúria tem até 70% de posse, envolvendo por completo o adversário.

Bola nos pés
Na Espanha, não há “zagueiros zagueiros”. Todos sabem sair jogando, e os homens de defesa também avançam.

Movimentação
Por mais que esteja sendo pressionada, o time não perde o ritmo. Roda a bola e as posições em campo.

FICHA TÉCNICA
ESPANHA X ITÁLIA

Local: Castelão, em Fortaleza (CE)
Data-Hora: 27/06/2013, às 16h (de Brasília)
Árbitro: Howard Webb (ING)
Auxiliares: Darren Cann (ING) e Mike Mullarkey (ING)

ESPANHA: Casillas, Arbeloa, Piqué, Sergio Ramos e Alba; Busquets, Xavi, Iniesta e Fàbregas; Pedro e Soldado (Torres). Técnico: Vicente del Bosque
ITÁLIA: Buffon, Barzagli, Bonucci e Chielini; Maggio, De Rossi, Pirlo e Giaccherini; Marchisio e Candreva; Gilardino. Técnico: Cesare Prandelli

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