Dia 28/10/2015
01:39
Compartilhar

Décio Perin pode ser considerado uma cara nova entre os torcedores do Palmeiras. Apesar de sua participação política no clube vir de longa data, afinal, já foi vice-presidente do Conselho de Orientação e Fiscalização (COF), ele nunca concorreu à presidência do clube.

Até por isso, Perin está cheio de ideias novas. A principal delas é lutar pela profissionalização do clube, principalmente quando o assunto é o futebol. E por falar em futebol, ele tem até uma inspiração: o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio.

Confira as principais ideias de Décio Perin, em entrevista exclusiva ao LANCE!Net:

Por que você se sente preparado para ser candidato à presidência?

Por que não me julgava preparado? Por razões da minha própria natureza. Tinha responsabilidade com a família, filhos que necessitavam de mim. Trabalhava na ativa. Mais ou menos há dois anos, me aposentei. Assim, liberei espaço de tempo que estava comprometido. E parei de dar aula. Ser presidente demanda tempo. É um amador com demandas de profissional. Tudo passa por sua assinatura. Hoje, estou preparado porque tenho esse tempo para dar para o Palmeiras.

O que você gostaria de mudar?

Se eu pudesse remover 25% a 30% da legislação para permitir o profissionalismo... Gostaria de dotar o clube social e o futebol de uma estrutura 100% profissional, onde não há desculpa para não alcançar metas. Dinheiro é importante para manter a estrutura viva e com saúde, mas nossos dividendos são os títulos. Algumas coisas podem ser mudadas mesmo sem mexer na legislação. O futebol tem de ser profissionalizado. Não posso esperar até o dia 21. Tenho de ter contatos com possíveis administradores. E já fiz isso. Já busquei essas pessoas, já conversei com o (Gilson) Kleina. Estou em busca de possíveis parceiros para entrarem com recursos financeiros. Mexeria agora no futebol e, no marketing, certamente. Tem de ser estrutura poderosa de fora. Precisamos ter gente de nível internacional. E no financeiro.

Você pretende manter o Rodrigo Geammal, diretor de marketing recém-contratado?

Não sei. Aqui e fora do Brasil, sigo critérios de várias empresas internacionais: se ele atingir os objetivos aceitáveis e possíveis para trabalhar no nosso projeto, se tem suporte técnico e abertura junto aos possíveis clientes... Se tiver a qualificação necessária, vai ficar. Se não tiver, vai ser um problema ele ficar. Aí, lamento o que o Tirone fez. E fez à revelia do COF, já que tinha sido notificado que não poderia assumir despesas. E ele contratou. Assim, o Palmeiras vai ter de tomar uma providência, idenizando, pagando... E o jurídico teria de responsabilizar quem fez isso. Ele fica se passar na avaliação de ser capacitado de cumprir o que o nosso planejamento tem.

Tem ideia de como vai formar a chapa?

Não pode colocar o cara porque já foi vice-presidente. Tem de rejuvenescer e exigir até que o cara já tenha experiência na área. Por xemplo, o vice-financeiro e o diretor precisam ter conhecimento da área financeira. Como presidente, não posso cuidar do boliche, dá bocha, do futebol, disso e daquilo. Tenho de dar apoio ao vice, e ele para seus diretores. Ter sido vice não é importante. Isso é uma outra coisa que as novas gerações foram muito judiadas no clube. O jovem não tem chance. Se você promove troca de votos, ele não vai ter votos. Os velhos caciques tem vantagem. Por isso, as coisas não são implantadas. Tenho uma ideia de ter uma diretoria jovem. É pegar jovens conselheiros ou pessoas que pensam em ser conselheiros de uma certa faixa etária e colocar em algumas diretorias. De tempos em tempo, você faz um rodízio. Ao longo de gestão, ele participou de todas as áreas e está pronto. Isso é um plano para suprir uma falha de não ter permitido a renovação dos quadros.

Sobre o futebol, atualmente César Sampaio tem tocado o departamento ao lado de um vice. Acha que é suficiente?

O que não abro mão no futebol é assinar. Por isso, preciso contar com pessoas competentes. Quero assinar o que me trazem. Minha estrutura de futebol vem da base. Penso em anexar o futsal. Ainda não decidi, porque meus pares ainda não se pronunciaram em definitivo. Mas tem ligação. O futsal troca jogador na base. Mas isso não importa agora. Da base até em cima, a estrutura precisa ser uma só. Vai ter um vice-presidente, muito possivelmente. E vai ter um diretor de futebol. Abaixo dele, aparecem os profissionais. Ao lado desse diretor, pretendo colocar pessoas do clube que têm um notado saber sobre o futebol. Por exemplo, Seraphim (Del Grande) foi diretor na era Parmalat. Vamos por um jovem, quem sabe um cara da torcida... Temos de tomar decisões importantes, quem vai ficar ou quem vai sair da estrutura da Academia. Existem relatórios que são apresentados ao Tirone que avaliam as pessoas lá dentro. Não é que o César Sampaio serve ou não. Ele está na função inadequada. Ele precisaria assumir sua função real para ser avaliado. 

A torcida se queixa muito da falta de influência nos bastidores. Como trabalhar com isso?

O Palmeiras tem estado ausente de participar dos principais eventos administrativos e festivos das federações. Por isso, sofreu isolamento na Federação Paulista e na CBF. Mas acho que não existe uma pré-disposição contra o Palmeiras. Acredito que exista, sim, uma certa resistência em dar as mesmas regalias dos outros. Se eu quero conversar a respeito da inconveniência da escalação de um árbitro e você for uma pessoa participativa, o cara vai falar: “Está bom”. Se não existe isso, o cara pensa: “Tanto faz”. Além de não participar, nossos técnicos xingaram o juiz. Enquanto isso, outros igualmente prejudicados, conseguiram algo lá dentro. Mas clube beneficiado nem sempre é o responsável. Além disso, tem ação do adversário que trabalha bem isso. O Palmeiras, ao longo do tempo, foi perdendo representatividade dentro dos cargos. Mas isso é fácil de corrigir. Não existe razão para isso que não seja picuinha.

O que achou da contratação do Valdivia? Valeu a pena?

Pelo resultado, não. O motivo de não ser uma boa contratação é outra coisa. Isso é culpa dele? Se tem um comportamento de atleta, cortou as saídas da noite e mesmo assim se machuca, precisa reforçar a avaliação médica. Não invalida não ter sido um bom investimento, mas exime ele de culpa. Agora, se não faz nada disso, é culpa dele. O São Paulo está engolindo um sapo com o Luis Fabiano. Não sei como administram isso lá. No Palmeiras, seria desastroso. Nossa saia é mais justa do que a do Juvenal (Juvêncio). Ninguém precisa ensinar algo para ele. Ele é um dos modelos.

Por que Juvenal é um modelo?

Por saber tudo. Ele está há muitos anos no São Paulo e resistiu a uma guerrilha interna. O São Paulo não tem oposição hoje. Tem de respeitar. Faria algo para ter um prestígio e um centro de treinamento igual ao de Cotia. Faria como eles, que o núcleo da comissão técnica é fixa e não do técnico. Não que seja um exemplo de santidade. Mas queremos dar ênfase às coisas importantes para o clube. Ensinamos muitas coisas a eles, mas perdemos nosso know-how, nos copiaram. Agora, temos de copiá-los.

O que faria igual ou diferente ao Tirone?

O que eu pretendo fazer é mudar a mentalidade. Temos de ser pró-ativos. Não podemos aguardar a oportunidade. O objetico é ganhar a concorrência. Tem três clubes na capital de São Paulo. Éramos a primeira torcida. Atualmente, somos a terceira. Vamos esperar chegar na quarta? Temos de fazer tudo diferente ao Tirone. Essa gestão vai decidir se o Palmeiras vai ser grande ou pequeno. Vamos continuar como um time grande e internacional ou vamos descer a ladeira?

Qual sua opinião sobre as eleições diretas?

Sou signatário do projeto original. Fui procurado logo no início. Era a favor de não haver filtro. Porém, me convenceram que um filtro de 10% era necessário. Era bom ter grupos menores, mas não microgrupos. Como tinham emendas, as propostas foram aglutinadas. Como o propósito é democratizar a base, votei em 15%, porque não tinha a opção de 10%. Mas o 20% ganhou. Só ganhou potque o grupo do Mustafá (Contursi) prefere menos candidatos. Surpreendentemente, o grupo do Paulo Nobre foi junto. Não sei o motivo.

O sócio-torcedor tem de votar?

É uma grande possibilidade mercadológica, é uma democratização da base. Mas isso vem como reboque de uma outra reforma que é a separação do clube social do futebol. O sócio do futebol não tem a ver com o clube social. O clube social não dá lucro. Mas poderia ser administrado de duas fortas: trazendo uma renda com o marketing e criando uma renda para suplementar a mensalidade. Outra forma é fazer que nem no condomínio e dividir as despesas. Sou a favor, sim, porque sou um cara de marketing. Assim, trago uma participação vinculativa do clube com esse cara. Porém, não daria um passo sem toda a base democrática ser ouvida e até ter a garantia de que o desconforto seja de poucas pessoas. O sócio-torcedor seria bem vindo se a gente conseguir transformar o futebol em empresa.

Como fazer para disputar a Série B e a Copa Libertadores em uma mesma temporada? Não são competições muito distintas?

Se está acabando o gás, arranje outro bujão. Já estou falando com empresários para que entrem como parceiros no meu marketing para investir tantos milhões. Temos um parceiro forte que é o Walter Torre com a Arena Palestra. Não faz sentido ter uma grande casa e ter o ASA de Arapiraca lá. Tem de montar um Palmeiras forte. Não pode cozinhar sem fogo. Se não tem gás, trate de arranjar quem te empreste o bujão. Não há outra solução. É por aí. Não entro nessa para disputar no sufoco a segunda divisão. Quero esse time disputando lá em cima. Só vou desistir quando fecharem todas as portas. Não vou esperar até dia 21 para tomar uma iniciativa. Se não for eu o presidente, ofereço o que eu conseguir para o próximo.

Siga o Lance! no Google News