Dia 01/03/2016
04:21
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Ao mesmo tempo que brilham de esperança os olhos de Luiz Alessandro Pereira, garoto de oito anos, o semblante revela a frustração de não poder realizar o sonho que está perto dele, mas longe de ser alcançado: conhecer o Castelão, onde Espanha e Itália decidem hoje quem enfrentará o Brasil na decisão da Copa das Confederações, domingo, no Maracanã.

A criança foi encontrada desmaiada durante confronto da Polícia Militar com manifestantes perto do estádio, antes de Brasil 2x0 México, na quarta-feira da semana passada. O desejo do menino está próximo geograficamente, já que ele mora a cerca de 2,5 km da arena, a poucos metros da Avenida Alberto Craveiro, que virou placo de guerra. Mas a falta de condições financeiras mais abastadas não lhe permite transformar o pensamento em realidade.

– Com que dinheiro vou ver um jogo no Castelão? Não dá, nunca fui - declarou em entrevista ao LANCE!Net, com sinceridade surpreendente.

Luiz Alessandro mora com o pai, Sandro Pereira, ajudante de pedreiro aos 30 anos e com renda mensal de um salário mínimo (R$ 678). O preço dos ingressos no torneio varia entre R$ 57 (o valor mais baixo da inteira para jogos da primeira fase) a R$ 266 (custo mais elevado de uma entrada para os duelos da semifinal).

– Nós, os brasileiros de verdade, não temos condições de pagar por um ingresso para assistir a um jogo. Para quem ganha um salário mínimo tem de matar o filho de fome para ir ao jogo – ressaltou Pereira.

Eles dividem uma casa de alvenaria com apenas um cômodo pequeno. A residência está localizada paralelamente à avenida que é a principal via de acesso ao Castelão, onde o Tropa de Choque da PM fez chover balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo no dia da confusão.

O pai conta que havia saído para trabalhar logo no início da amanhã, e o filho aproveitou a desatenção da avó, Maria do Carmo, de 55 anos, para escapar do raio de visão dela e matar a curiosidade de acompanhar o protesto pela vizinhança.

– Eu estava olhando por cima do muro de um terreno quando soltaram a bomba de pimenta do meu lado. Fiquei sem ar, não consegui respirar e desmaiei. É tudo o que eu consigo lembrar – relatou o menino, cujos passatempos favoritos são bolinha de gude, pega-pega e fliperama.

Antes que acontecesse uma tragédia, o menino foi socorrido. O sonho ainda vive!

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