Depois do escândalo de corrupção e suborno na Fifa, o presidente da entidade, Joseph Blatter, surpreendeu o mundo ao renunciar ao cargo nesta terça-feira. O mandatário convocou novas eleições para a entidade e ficará no emprego até o novo pleito, que deve acontecer entre dezembro deste ano e março de 2005. Os colunistas do LANCE! opinaram sobre o assunto que agitou o noticiário do mundo inteiro.
João Carlos Assumpção
Não havia mais a menor condição de Joseph Blatter continuar como presidente da Fifa. Se a corrupção na entidade vem pelo menos desde 1991, segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, pega sete anos do período em que ele era secretário-geral e os 17 anos em que foi presidente.
Fica risível dizer que não sabia de nada, especialmente agora que Jerome Valcke, seu braço direito, é apontado como responsável pela transferência de US$ 10 milhões para pagamentos de propina para a escolha da sede da Copa de 2010. Os dois mereciam há tempos um chute no traseiro.
A pressão dos patrocinadores, que já era grande, cresceu ainda mais depois que estourou o maior escândalo de corrupção da história do futebol mundial e deixou Blatter bem isolado.
O dirigente, que tem a "vantagem" de ser suíço, ao contrário dos que foram presos na semana passada, deve explicações não só à Justiça, mas à toda a comunidade do futebol.
Que o que se passa em Zurique sirva de exemplo para os brasileiros, que devem limpar a CBF. Afinal a atual administração tinha até semana passada José Maria Marin como principal aliado do presidente Marco Polo Del Nero, seu vice mais velho e natural sucessor em caso de impedimento do titular. Não dá para descolar a imagem de um da do outro e a sociedade brasileira deve exigir explicações, pois, por mais que queira, a CBF não é um mundo à parte. Ou pelo menos não deveria ser. Gere um dos principais patrimônios nacionais, nossa Seleção, com nossas cores e bandeira. E gere mal. Os 7 a 1 que o digam.
Carlos Alberto Vieira
Foi uma surpresa. Até porque Blatter indicava que iria superar qualquer tranco para se manter no poder. E pedir o boné dias após à eleição não estava em script de ninguém da imprensa.
Houve uma pá de cal. Quando os tentáculos da investigação alcançaram Jerôme Valcke na tarde de segunda-feira, Blatter acusou o maior dos golpes entre os vários que recebeu nos últimos dias. Justamente o seu homem-chave quando o assunto é dinheiro estava envolvido com corrupção. Assim, cada vez mais isolado e, talvez, tendo recebido a informação de que seu nome pode estar envolvido diretamente numa próxima etapa das investigações, o manda-chuva jogou a toalha e provavelmente acreditando que teria sido bem mais interessante para ele se topasse o que muitos, inclusive Platini, queria: a renúncia antes da eleição.
Roberto Assaf
A investigação do FBI e da polícia da Suíça, que encarcerou graúdos da Fifa por fraudes distintas, já indicava, desde a sua divulgação, que a entidade poderia começar a ruir como um castelo de cartas. Logo, a questão principal do momento não é a renúncia de Joseph Blatter, nem tão surpreendente assim, dado o repúdio que havia ao presidente, mas quem irá sucedê-lo.
Pois quem o fizer também estará diante de uma tremenda pressão, e pior, sob a evidente desconfiança de todos, inclusive daqueles que o elegeram. Como se viu na votação da semana passada, e embora reconduzido ao cargo, o cartola em questão estava longe de ser unanimidade, daí o seu desconforto e a sua repentina desistência.
Pois é. Levando-se em conta o conjunto da obra, o grande problema é que será difícil encontrar alguém que seja do agrado geral, tais os interesses políticos, e financeiros, é claro, que existem hoje em torno do futebol. E mais: como agora os homens estão sendo efetivamente postos atrás das grades, nem o mais vaidoso dos cartolas se arriscará à exposição pública, com receio, é evidente, de também integrar a turma que está vendo o sol nascer quadrado. A pergunta que se faz hoje é: você compraria um carro de um cartola da Fifa?
À exceção, talvez, de meia dúzia de agentes diretamente envolvidos nas investigações, ninguém pode afirmar com certeza quais serão os próximos capítulos do imbróglio. Assim, parece impossível também garantir quem ficará imune nesta questão, o suficiente para se candidatar, e quiçá, assumir a presidência da Fifa. Trata-se de situação absolutamente complexa.
Logo, permanece a pergunta que não quer calar: poderá a notoriedade de tanta sujeira, explícita na mídia de todo o mundo, além da punições já aplicadas, suficientes, como se deseja, para a moralização definitiva do futebol, aqui e no exterior?
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