Numa sala, em General Severiano, estava reunida a cúpula do Botafogo. Eram os primeiros dias de 2010. Em pauta, a contratação de um jogador estrangeiro, rodado, sem grande identificação com o futebol brasileiro. Tão logo o nome de Loco Abreu foi posto à mesa, havia uma sede de aposta misturada à necessidade de reforçar o time.
E como quem parece não ter medo de perder, o clube fechou a contratação do atacante em apenas três dias. Como o elenco estava sendo montado, os dirigentes precisavam dar uma resposta aos torcedores tão carentes de ídolos. Apesar de incógnita, Loco Abreu preenchia requisitos básicos para o que o Botafogo procurava naquele momento: alguém carismático, experiente e, sobretudo, goleador. Assim, as fichas foram depositadas.
– Nós discutimos a possibilidade num dia e, 72 horas depois, fechamos a operação – confirmou o gerente de futebol, Anderson Barros.
Apontado pelo presidente Mauricio Assumpção como o principal responsável pela contratação de El Loco, Anderson não quis batizar a paternidade pela aquisição daquele que virou um ídolo alvinegro, ajudado pelo título do Estadual de 2010.
– Nunca trago para mim esta questão. Foi um conjunto de fatores, um trabalho de equipe. O nome do Loco me foi apresentado e eu apenas trabalhei para que ele pudesse acertar conosco – esquivou-se.
Outra peça importante na chegada do atacante uruguaio ao Rio foi um conterrâneo, pouco conhecido no Brasil. Ex-jogador do Juventude, em 2007, Marco Vanzini foi o primeiro a dar referências sobre o Botafogo:
– Eu apresentei o Botafogo, o Rio de Janeiro a ele. Disse a ele da grandeza do clube. Aí, ele ficou bem entusiasmado.
O PROCESSO DE CONTRATAÇÃO DE LOCO ABREU
Ano novo, ídolo novo
No dia 3 de janeiro de 2010, o Botafogo anunciou a contratação de Loco Abreu.
Agilidade
Em 72 horas, o clube fechou a contratação do atacante.
Assédio
O Santos chegou a tentar levar o jogador, mas o Alvinegro acabou levando a melhor.
Apresentação
No dia 6 de janeiro, El Loco foi apresentado na sede do clube.
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BATE BOLA
Anderson Barros
gerente de futebol do botafogo
Como vocês chegaram até o Loco Abreu, um jogador que, até então, não era tão conhecido por aqui?
Precisávamos trazer um jogador com experiência. Era preciso completar o elenco com alguém dessa característica, e o Loco Abreu se encaixou perfeitamente neste perfil que procurávamos.
Como foi o primeiro contato?
Tínhamos a estrutura montada, mas o time ainda estava em formação. Desde o primeiro momento, o Loco Abreu se mostrou um cara de visão privilegiada. Já tinha noção do que era o Botafogo, antes mesmo de conversarmos.
Quais eram as informações colhidas sobre o jogador?
Nós tínhamos muitas histórias sobre ele. Sabíamos de suas atitudes, comportamento. E nós percebemos que seria o momento ideal de ele dar certo aqui.
Loco está perto dos 35 anos. Este fator não pesa?
Historicamente, o que pesa é a performance, o profissionalismo do atleta. Temos vários exemplos bem-sucedidos na faixa etária dele. O maior expoente, hoje, talvez seja o Juninho, que está em boa forma.
Loco foi a melhor contratação do Botafogo nos últimos anos?
Diria que houve um somatório de perfis que casaram perfeitamente no nosso elenco. A chegada dele acrescentou a uma estrutura que, hoje, está consolidada.
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LOCO: O ELO DE CONFIANÇA
Um ano e oito meses depois de sua contratação, Loco Abreu adquiriu no Botafogo um status que transcende o plano de campo. Os gols e as cavadinhas fizeram dele um ídolo das arquibancadas, o suficiente para fazer do jogador mais que um simples goleador, uma voz ativa no clube.
Loco Abreu passou a ser o principal elo de comunicação entre a cúpula do futebol e o grupo.
A confiança foi conquistada na base de muita conversa. O respeito é mútuo, de integração total, principalmente com a comissão técnica. O reflexo está nos jogadores, que não se cansam de repetir a importância que o atacante exerce hoje para o elenco alvinegro.
– O Loco Abreu é o nosso líder, uma referência dentro e fora de campo – declara Herrera, sempre que tem oportunidade em um discurso que pode estendido aos demais companheiros.
FRUTOS FORA DE CAMPO
Antes visto como uma aposta, Loco Abreu acabou virando a menina dos olhos do marketing do Botafogo. Apesar de ser trazido como reforço de peso, o clube sabia que se não correspondesse dentro de campo, todo o planejamento de marketing poderia ter caído por terra, atrapalhando as finanças.
Mesmo sabendo do intuito, o camisa 13 se mostrou surpreso com toda essa repercussão fora de campo e por ter virado o garoto-propaganda do Botafogo.
– Na seleção, no Nacional, nos times do México e no San Lorenzo tinham movimentações de marketing, mas nada como o Botafogo. Só o Nacional e a seleção encostam de forma igual ao Botafogo, mesmo assim todos esses planejamentos me surpreenderam aqui no clube – revelou o atual ídolo da torcida alvinegra.