O haitiano Daniel Pierre-Charles Castor tem menos trabalho do que a grande maioria dos chefes de delegações paradesportivas que estão em Toronto, no Canadá, para a disputa dos Jogos Parapan-Americanos. E lamenta por isso.
Seu país chegou ao evento com apenas um representante. Nephtalie JN Louis, de 36 anos, tentou a sorte no levantamento de peso, na categoria até 50 kg, mas não conseguiu atingir a meta de erguer 69 kg, na prova vencida pela brasileira Maria Rizonaide, no sábado.
Com isso, ela deixou a competição e viu minguar qualquer esperança de estar nos Jogos Paralímpicos do Rio, em 2016. Para Pierre-Charles, mais difícil do que aceitar a derrota é ver que o país não tem perspectivas de formar novos esportistas para dar sequência à saga iniciada por Nephtalie.
- Ela competiu no lançamento de dardo em Londres (2012). Temos muitos problemas para conseguir a qualificação no alto nível. Agora, só vai ao Rio por um convite, o que é improvável. No Haiti, o esporte paralímpico não existe. Estamos tentando fazer algo para as pessoas com deficiência. Há muita gente com potencial, mas é difícil levá-las ao alto rendimento - afirmou Daniel.
Nephtalie sofreu uma poliomielite quando tinha oito meses, o que comprometeu sua perna esquerda. Hoje, não tem uma renda fixa no esporte. Foi a Toronto porque o Comitê Paralímpico do país bancou os custos na última hora.
A haitiana disputou as provas de lançamento de dardo e arremesso de peso nos Jogos Paralímpicos Londres-2012, nos Jogos Parapan-Americanos Rio-2007 e no Campeonato das Américas de 2015. Mas o levantamento de peso é visto por lá como um esporte que oferece maiores possibilidades ao país de competir em nível mundial e com menos custos.
- O apoio financeiro é inexistente. Falta vontade política. O discurso oficial no país é de que vão ajudar os deficientes, mas o Comitê Paralímpico só recebeu 10 mil dólares desde Londres, o que é muito pouco para uma boa preparação. Nephtalie teve dois meses de treinos antes de vir - contou o dirigente.
De passo a passo, ele foca em estabelecer no país um campeonato de atletismo em nível nacional para pessoas com deficiências, com 45 nomes. Sabe que com a aposentadoria da única atleta paralímpica do país se aproximando, a missão será ainda mais dura.
A atleta chegou a ser porta-bandeira na cerimônia de abertura dos Jogos de Pequim, em 2008, mas excedeu o peso máximo para a competição de levantamento de peso e acabou fora da disputa.
- Infelizmente não consegui dar o meu melhor aqui. Era a chance de ir para o Rio - lamentou Nephtalie.
* O repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro