O Palmeiras tentará manter a boa fase na Série B nesta terça, contra o São Caetano, às 19h30, fora de casa, na cidade que é referência em educação no país. E o cenário não poderia ser mais ideal para um jogador que chama atenção por sua inteligência tanto dentro como fora de campo: o atacante Alan Kardec, que será titular da equipe mais uma vez.
Com três gols nos últimos dois jogos, o camisa 14 tem uma história diferente da maioria dos boleiros. Sempre foi muito bem na escola e estudava bastante. Mesmo quando já morava na concentração do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Lá, inclusive, tentou dar um passo à frente na vida acadêmica: por meio do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) conseguiu ingressar na faculdade Unisuam, em Bonsucesso, para cursar fisioterapia.
Mas por conta da distância e da rotina de treinos, aliado ao medo de sair todo dia sozinho à noite, teve de trancar a matrícula. O sonho de se formar na área, porém, continua vivo, e é um dos objetivos do jogador, até mesmo enquanto atuar
– Eu julgo que tenho inteligência para alguma coisa além de jogar futebol. Não é por acaso. Na escola nunca tive reprovações, recuperações, sempre tive muito boas notas. Acho que posso fazer algo além disso – disse ele, ao LANCE!Net.
Com a rotina de treinamentos, Kardec deixou os estudos um pouco de lado. Às vezes lê um livro, mas é difícil terminá-lo. A maior diversão é o baralho nas concentrações. E, se tem algo que estuda hoje, é o futebol. Diz gostar de assistir aos jogos dos outros times para aprender cada vez mais, além do fato natural de ser um amante do esporte.
Para quem convive com ele no dia a dia da Academia, a diferença para a maioria é notória. Sempre atencioso, o jogador trata a todos muito bem. Nas entrevistas, dá respostas tranquilamente, com conteúdo. Em campo, não é diferente. A inteligência nas jogadas também é visível. Na época de Santos, Muricy Ramalho elogiava isso com frequência. Algo que, para ele, tem influência do conhecimento que adquiriu com o estudo na vida.
– Acho que isso ajuda em algumas jogadas no raciocínio e no movimento rápido em campo – disse.
Jogando em uma das cidades com melhor educação do país, tem nova “aula” do Professor Kardec?
Confira uma entrevista exclusiva com Alan Kardec:
LANCE!Net: Como foi essa passagem pela faculdade? Por que parou?
ALAN KARDEC: Foi bem quando comecei a treinar com os profissionais, em 2006. Fiz matrícula, as aulas começaram, mas eu não tinha nem idade para ter carta e as aulas eram à noite. Não queria sair da concentração para estudar à noite no Rio, eu não conhecia muito bem, fiquei com medo e falei para os meus pais que estava com medo e não ia fazer, mas que lá na frente se desse eu faria.
L!Net: Ainda pretende fazer?
AK: Penso em fazer, sim. Se eu tiver estabilidade em São Paulo, que tem várias universidades, posso começar a pensar. Gosto muito de matemática, química, física... Conta é comigo. Fisioterapia foi minha escolha para seguir no futebol.
L!Net: Seus pais cobravam muito?
AK: Cobravam. Lembro uma vez que eu estava na sexta ou sétima série, foi uma das únicas notas vermelhas que tive, em educação física. Quando meu pai viu aquilo só faltou ele me matar, me segurar pelo pescoço e me arrebentar (risos). Quando comecei a dar uma relaxada, já pegou firme. Eles me deram total educação, me criaram muito bem para ser o homem que sou.
L!Net: Você gostava de estudar?
AK: Eu pensava o seguinte: quando eu jogo, jogo para valer. Já que estou na sala de aula, vou estudar para valer também. E não é tempo perdido, é algo que vou ganhar.
Confira com um 'Com a Palavra' de Alan Kardec, pai e homônimo do atacante do Verdão:
"Alan sempre foi um bom aluno na escola, só que ele também se dedicava muito ao futebol. Quando morava no Vasco, o colégio era bom, mas não conseguia ser tão constante por causa da rotina. Mesmo assim, e também na infância, sempre teve notas muito boas. Nunca deu trabalho nenhum para nós, até porque ele tem muita facilidade para aprender e é bastante inteligente.
Nós sempre cobramos que ele estudasse, mas nunca precisamos pegar muito no pé dele porque era muito responsável com o estudo e aprendia tudo muito facilmente.
Eu e a mãe dele sempre quisemos que o Alan estudasse e ainda é um desejo nosso, que ele termine essa faculdade, porque é uma garantia para quando parar de jogar. O conhecimento que o homem adquire ninguém pode tirar e temos muita vontade que ele continue. Tomara que consiga se estabilizar em um lugar, com contrato longo, para conseguir fazer esse curso.
As pessoas comentam muito comigo sobre a educação dele, até acho que isso ajuda em campo. Inclusive o Muricy Ramalho, na época do Santos, dizia que o Alan era um dos jogadores mais inteligentes com quem ele tinha trabalhado e isso me deixava bastante emocionado, é muito bom ouvir isso."
Referência em educação
São Caetano
Situada na região do ABC, ao lado da capital paulista, São Caetano está em primeiro lugar no ranking de IDH (Índice de desenvolvimento Humano) do país, que mede longevidade, educação e saúde. Além disso, a cidade é referência em educação. Neste ano foi eleita a segunda melhor do país no quesito segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, perdendo apenas para Águas de São Pedro, e é considerada com um índice muito alto de desenvolvimento. A prefeitura investe cerca de 35% na educação e há mais de 100 escolas e uma faculdade na cidade.