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Guilherme Lesnok
São Paulo (SP)
Dia 01/05/2025
15:47
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É vergonha para todos os gostos! Faltando pouco mais de 400 dias para a Copa do Mundo de 2026, a Seleção Brasileira vive um dos períodos mais turbulentos de sua história recente. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acumula fracassos dentro e fora de campo, com três treinadores diferentes em menos de três anos, derrotas históricas nas Eliminatórias, polêmicas institucionais e um futuro indefinido quanto ao comando técnico da equipe.

No momento, as negociações com Carlo Ancelotti, grande desejo da CBF e que já tinha feito a Seleção passar vergonha esperando um ano pela chegada que não aconteceu, estão muito longe de um final feliz e, neste momento, quase descartadas. Nesse cenário, a Seleção segue sem técnico e com o futuro indefinido às vésperas do principal torneio do futebol mundial.

Vexames fora de campo

Saída de Tite e indefinição no comando

Após a eliminação nos pênaltis para a Croácia na Copa do Mundo de 2022, o técnico Tite deixou o comando da Seleção. A CBF, então, iniciou conversas com o italiano Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid. Enquanto as negociações não avançavam, Ramon Menezes, então técnico da equipe sub-20, foi escolhido para comandar a equipe principal nos amistosos contra Guiné (vitória) e Senegal (derrota).

A escolha causou estranhamento: Ramon tinha passagens por clubes como Vasco e Vitória, mas sem grande destaque.

Diniz como técnico interino e “meio-campo” para Ancelotti

Em julho de 2023, Fernando Diniz foi anunciado como técnico interino da Seleção. Nunca antes na história da Seleção pentacampeã, um treinador fez um contrato tão longo como interino, que chegava já sabendo que seguraria a vaga para a estrela internacional. Segundo o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, o treinador teria autonomia total e faria uma transição até a chegada de Ancelotti, prevista para a disputa da Copa América de 2024. 

- Vai comandar a Seleção com toda autonomia. Ele vai conciliar o Fluminense, no período em que estiver lá. Ele é treinador da Seleção Brasileira, a gente não trata como interino. Tem contrato que tem 12 meses de duração. Vai ser a pessoa que vai fazer a transição da Seleção Brasileira para o técnico Carlo Ancelotti, que vai assumir para disputar a Copa América - garantiu Ednaldo Rodrigues à época.

No entanto, o italiano reiterou diversas vezes que permaneceria no Real Madrid, expondo o Brasil ao ridículo publicamente frustrando os planos da entidade. Ednaldo nunca esclareceu por que Ancelotti não veio no período em que estipulou. Inclusive, o presidente chegou a afirmar que “ainda não havia jogado a toalha” em relação ao treinador italiano.

Sob o comando de Diniz, o Brasil somou dois triunfos, um empate e três derrotas nas Eliminatórias, terminando o ano na 6ª colocação. Em baixa, o treinador deixou a Seleção.

Ednaldo e Fernando Dinzi (Foto: Alexandre Loureiro/AGIF)

Convocação com viagem desnecessária

Ruim com Diniz, pior ainda antes dele. Durante o Mundial Sub-20, a CBF exigiu a presença física de Ramon Menezes, técnico da categoria de base e interino da principal, no Brasil para anunciar uma convocação. O técnico precisou interromper sua estadia na Argentina e viajar mais de 3 mil quilômetros para realizar a convocação. Divulgous os nomes, respondeu perguntas dos incrédulos repórteres e voltou para dirigir os juniores na Argentina.

Dorival Júnior assume, mas desempenho decepciona

Após as negativas de Ancelotti e a transição frustrada com Diniz, a CBF confirmou Dorival Júnior como novo técnico. Imagine sonhar com o único treinador mundial campeão das principais cinco ligas do mundo e atual mandatário do Real Madrid e acordar com o simpático Dorival Júnior, treinador desconhecido em qualuquer um dos países em que Ancelotti deu volta olímpica. Apesar da experiência, o treinador teve dificuldades em impor padrão de jogo. Na Copa América de 2024, disputada nos Estados Unidos, o Brasil foi eliminado nas quartas de final pelo Uruguai após três empates e uma vitória.

Nas Eliminatórias, somou apenas uma vitória expressiva — 4 a 0 sobre o inexpressivo Peru —, além de três vitórias apertadas, dois empates e duas derrotas. A goleada por 4 a 1 para a Argentina foi o estopim para a crise. No total, Dorival comandou o time em 16 partidas, com sete vitórias, sete empates e duas derrotas, 25 gols marcados e 17 sofridos.

Mudança no estatuto e reeleição de Ednaldo

Em novembro de 2024, a CBF aprovou uma mudança no estatuto permitindo que o presidente da entidade possa ser reeleito por até três mandatos. Em troca, as federações estaduais conquistaram autonomia para decidir o número de reeleições em suas próprias gestões.

Com isso, Ednaldo Rodrigues pode permanecer no comando da CBF até 2034.

Eleição em meio à data Fifa

Em meio à vexames esportivos, a reeleição de Ednaldo foi marcada para a véspera do jogo contra a Argentina, pelas Eliminatórias. Havia expectativa de que Ronaldo Fenômeno lançasse candidatura de oposição, mas o ex-jogador desistiu dias antes, em 12 de março, após Ednaldo costurar bem apoios políticos entre os seus pares cartolas

Com o caminho livre, Ednaldo foi reeleito com 100% dos votos, com apoio das 27 federações estaduais e 26 clubes das Séries A e B. No dia seguinte, a Seleção foi goleada por 4 a 1 pela Argentina no Maracanã.

Jornalistas afastados criou polêmica nas redes sociais

Em abril deste ano, a ESPN afastou temporariamente seis jornalistas após críticas direcionadas à atual gestão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), presidida por Ednaldo Rodrigues. Os profissionais afastados foram Dimas Coppede, Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida, Victor Birner e William Tavares.

Todos participaram da edição do programa Linha de Passe, no qual relataram denúncias publicadas pela revista Piauí à gestão de Ednaldo. A reportagem expôs gastos milionários realizados pela entidade máxima do futebol brasileiro, o que gerou críticas contundentes dos comunicadores da ESPN.

Em nota oficial, a CBF negou ter solicitado o afastamento dos jornalistas. Gian Oddi, um dos profissionais afastados, comentou sobre a justificativa apresentada pela emissora:

- A respeito do afastamento, a argumentação que a gente recebeu é que, em um programa do gênero, até para que a direção da ESPN possa estar preparada para as consequências e saiba como argumentar diante delas, certos processos precisam ser seguidos - afirmou o jornalista.

Ramon Menezes chegou a comandar a Seleção principal (Foto: Thiago Ribeiro/AGIF)

Vexames da Seleção Brasileira dentro de campo

Em meio a tantas polêmicas fora das quatro linhas, o desempenho dentro de campo também entrou em declínio. Despencou. A Seleção, historicamente reconhecida por atuações dominantes e talentos individuais decisivos, deixou de responder tecnicamente.

Em matéria de vexame, o Brasil atingiu outro patamar. Nas Eliminatórias, o Brasil acumulou resultados negativos e derrotas inéditas. Nem mesmo as categorias de base escaparam: a seleção sub-17 sofreu uma goleada por 6 a 0 diante da Argentina, expondo um descompasso estrutural que ultrapassa o time principal.

Derrota para Senegal — Junho de 2023

Em amistoso realizado em Lisboa, Portugal, a Seleção Brasileira foi derrotada por 4 a 2 por Senegal. Foi a primeira vez que a equipe africana marcou quatro gols contra o Brasil. A última vez que a Seleção havia sofrido mais de três gols em uma partida havia sido em 2014, no fatídico 7 a 1 para a Alemanha.

Derrota como mandante nas Eliminatórias — 21/10/2023

Pela primeira vez na história das Eliminatórias sul-americanas, o Brasil foi derrotado jogando em casa. O revés por 1 a 0 para a Argentina, no Maracanã, encerrou uma invencibilidade histórica como mandante. Até então, o país era o único da América do Sul sem derrotas em casa nesse tipo de competição.

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Derrota para o Uruguai após 22 anos — Outubro de 2023

Sob o comando de Fernando Diniz, o Brasil foi derrotado por 2 a 0 pelo Uruguai, em Montevidéu, pela quarta rodada das Eliminatórias da Copa de 2026. A Seleção não perdia para os uruguaios havia 22 anos — uma sequência de 12 jogos, com sete vitórias brasileiras e cinco empates. A partida também ficou marcada pela grave lesão no joelho do atacante Neymar.

Primeira derrota para a Colômbia nas Eliminatórias — Novembro de 2023

Ainda em 2023, o Brasil perdeu por 2 a 1 para a Colômbia fora de casa, registrando sua primeira derrota na história das Eliminatórias para a equipe colombiana. Até então, em 14 jogos, o retrospecto era de sete vitórias brasileiras e sete empates.

Três derrotas consecutivas nas Eliminatórias — Novembro de 2023

Com os resultados negativos contra Uruguai, Colômbia e Argentina, o Brasil sofreu três derrotas seguidas nas Eliminatórias — feito que não ocorria havia vinte anos.

Derrotas nas categorias de base

A Seleção Brasileira foi eliminada nas quartas de final da Copa do Mundo Sub-20 de 2023 após sofrer uma virada histórica para Israel na prorrogação. Pentacampeã da categoria, a equipe comandada pela CBF viveu mais um duro revés sob a gestão de Ednaldo Rodrigues.

Na mesma temporada, o Brasil também se despediu precocemente da Copa do Mundo Sub-17. Em um clássico sul-americano, a equipe foi derrotada por 3 a 0 pela Argentina, também nas quartas de final. O destaque da partida foi o meio-campista Claudio Echeverri, que marcou os três gols e comandou a vitória da Albiceleste.

Sul-Americano Sub-17: Brasil 0x6 Argentina - 24/01/2025

Em janeiro deste ano, a Seleção Brasileira sub-17 estreou no Sul-Americano da categoria com uma derrota histórica para a Argentina: 6 a 0, em Valencia, na Venezuela. O revés, o pior da história do Brasil na competição, gerou forte reação nas redes sociais, com torcedores direcionando críticas ao presidente Ednaldo Rodrigues.

A Argentina abriu vantagem com três gols nos primeiros 11 minutos e consolidou a goleada na etapa final. Echeverri (duas vezes), Subiabre, Ruberto, Hidalgo e Igor Serrote, contra, marcaram os gols da partida.

Fora dos Jogos Olímpicos — 2024

Apesar de contar com jogadores promissores, como Endrick, do Real Madrid, a Seleção Brasileira decepcionou no Pré-Olímpico e ficou fora dos Jogos de Paris-2024. A equipe comandada por Ramon Menezes avançou como líder do Grupo A, somando nove pontos em quatro jogos — três vitórias e uma derrota. No entanto, no quadrangular final, o desempenho caiu: derrotas por 1 a 0 para Paraguai e Argentina e apenas uma vitória por 3 a 2 sobre a Venezuela decretaram o fim da campanha.

Com os tropeços decisivos na reta final, o Brasil terminou a fase decisiva na terceira colocação, fora da zona de classificação olímpica. Paraguai e Argentina garantiram as duas vagas sul-americanas no torneio masculino de futebol dos Jogos de Paris, enquanto os brasileiros, campeões das duas últimas edições olímpicas, ficaram pelo caminho.

Pior derrota da história nas Eliminatórias — 25/03/2025

O maior vexame da história da Seleção em Eliminatórias ocorreu em 25 de março de 2025. A equipe brasileira foi goleada por 4 a 1 pela Argentina, novamente no Maracanã. Foi a 17ª derrota da Seleção na história da competição e a primeira vez, desde 1964, que os argentinos venceram o Brasil com uma diferença de três gols ou mais.

Foi a pá de cal definitiva em uma Seleção que parece incapaz de reencontrar os caminhos que a levaram ao pentacampeonato mundial.

Brasil perdeu para Argentina por 4 a 1 (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
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