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Luiz Gomes: ‘A armadilha da Crefisadependência’

As relações entre o Palmeiras e a patrocinadora, como muita gente previu desde o início, deslancharam para uma situação muito além dos contratos comerciais'

(Foto: Divulgação/Palmeiras)
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Imagine um clube que faz a melhor campanha no principal torneio que disputa e que briga pelas primeiras posições no campeonato nacional em seu país. Imagine um clube que arrecada como nunca, tem estádio cheio, rendas médias elevadas e contratos de patrocínio muito acima da realidade do mercado. O que você diria deste clube? É uma ilha de eficiência, de profissionalismo, de tranquilidade no conturbado ambiente do futebol brasileiro.

Seria o lógico. Não fosse esse clube o Palmeiras.

O clima anda quente lá pelos lados da Rua Palestra Itália. A semana começou com protestos pela derrota para o Corinthians no domingo passado, teve gente pedindo a demissão do técnico, atacando ônibus do clube a pedradas, ameaçando os jogadores – uma ira aplacada, é verdade, pela vitória sobre o Junior Barranquila, na quarta-feira, e Bahia, no sábado. E uma nova semana vai começar, nesta segunda, com pesados embates no Conselho Deliberativo com propostas de mudanças no estatuto do clube.

O Palmeiras de hoje embrenha-se dentro e fora do campo na armadilha da Crefisadependência.

As relações entre o clube e a patrocinadora, como muita gente previu desde o início, deslanchou para uma situação muito além dos contratos comerciais. As manobras da presidente da empresa, Leila Pereira, para ampliar de dois para três anos o mandato do próximo mandatário, nada têm a ver com a defesa da modernidade, como ela tem defendido num discurso inconsistente. Tudo não passa de mais uma cartada, talvez a decisiva, para levar a cabo suas ambições de poder no Verdão, abrindo espaço para que possa chegar, ela mesma, à presidência em 2021.

Leila, por mais que se coloque (hoje já nem tanto) como uma palmeirense benemérita e desinteressada, já entrou na política alviverde jogando pesado. Ao se eleger para o conselho, gastou rios de dinheiro, fez uma campanha de fazer inveja a muito político que disputa cargo público. Aproveitou-se o quanto precisou da influência de Mustafá Contursi para vencer os questionamentos de Paulo Nobre – de quem começou parceira e acabou inimiga - que ameaçavam sua elegibilidade. Mas não fez o menor esforço para manter a relação com o antigo “aliado”, livrando-se dele na primeira oportunidade, tendo como pretexto (sim, apenas um pretexto) a questão da venda irregular de ingressos.

Eleita, nuca deixou de portar-se como candidata. Festas, jantares, viagens em jatinhos particulares para assistir a jogos do time são instrumentos de sedução dos conselheiros. Ainda se mantém ligada a Mauricio Galiotte - que se a mudança do estatuto for aprovada vai disputar a reeleição no fim deste ano já para um mandato trienal. Certamente vai ajudá-lo a permanecer no poder – resta saber até quando continuará ao lado dele, o que seus próprios interesses hão de determinar.

Justiça seja feita, Leila não mede esforços para concretizar seus projetos. Não tem pudor, inclusive, de misturar, digamos, o público e privado. Como se sabe, causou problemas à própria empresa, multada pela Receita Federal pela forma como financiou a compra de jogadores para o Verdão. Não fosse a Crefisa uma "companhia de dono" e ela teria dificuldades para se explicar, poderia, quem sabe, ter sido demitida por má gestão.

Em 2018, o Palmeiras fez a melhor campanha do Paulistão e perdeu o título nos pênaltis. Está em vantagem nas oitavas de final da Copa do Brasil. O triunfo da última quarta ratificou ao time comandado por Roger Machado a melhor campanha da fase de grupos da Libertadores, e o direito de decidir os mata-matas em casa até uma eventual final. No Brasileirão, perdeu a invencibilidade para o maior rival, é fato, mas está no pelotão da frente, disputando cabeça a cabeça a chance de se tornar líder.

Ainda assim, basta uma derrota, como para o Corinthians, para que se arme uma crise. Sim, todo torcedor almeja grandes vitórias, títulos, atuações de encher os olhos. Torcedor, em geral, tem nervos à flor da pele, e não se espera nada diferente dessa relação de amor e ódio. O palmeirense, em particular, é mal acostumado. Mantê-lo satisfeito tem um custo. Alto. E a conta pode estar começando a ser cobrada amanhã.