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Marcus Vinicius Alves Dantas
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 26/06/2025
19:05
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Um Mundial de Clubes para os argentinos esquecerem. O fracasso dos hermanos na competição foi sacramentado com as eliminações precoces de River Plate e Boca Juniors ainda na fase de grupos. Enquanto todos os quatro representantes brasileiros se classificaram para o mata-mata, os gigantes de Buenos Aires deram adeus de forma melancólica, aprofundando um debate sobre a crise técnica e estrutural do futebol no país.

Como foram as quedas de River e Boca no Mundial?

River Plate: A campanha do time de Marcelo Gallardo teve um bom início, com vitória por 3 a 1 sobre o Urawa Reds. O problema começou na segunda rodada, quando a equipe precisava de uma vitória sobre o Monterrey para garantir a classificação antecipada, mas ficou apenas no empate em 0 a 0, em um jogo com o maior número de faltas da competição até então. Na rodada final contra a Inter de Milão, mesmo com um cenário em que até o empate poderia classificar, o time perdeu por 2 a 0 e foi eliminado.

Montiel na partida contra a Inter de Milão (Foto: Juan Mabromata/AFP)

Boca Juniors: A participação do Boca foi ainda mais decepcionante. O time encerrou sua participação sem nenhuma vitória. Na estreia, empatou com o Benfica por 2 a 2 após estar vencendo por 2 a 0. Na segunda partida, perdeu para o Bayern de Munique por 2 a 1. Na rodada final, veio o grande vexame: a equipe não conseguiu vencer o "amador" Auckland City, da Nova Zelândia, ficando no empate em 1 a 1.

Christian Gray comemora gol do Auckland City sobre o Boca Juniors (Foto: Alex Grimm / AFP)

Contexto: Hegemonia brasileira e como chegaram ao torneio

A campanha no Mundial reflete um cenário que já se desenha na Copa Libertadores, onde a hegemonia brasileira é clara: dos últimos 10 times finalistas, nove foram do Brasil. O último título argentino veio em 2018. De 2010 para cá apenas 3 títulos da competição foram para Argentina.

Ambos os clubes chegaram ao Mundial sem vencer a Libertadores no ciclo recente, classificando-se pelo ranking da Conmebol. O River garantiu sua vaga pela constância, chegando sempre ao mata-mata nos últimos anos, incluindo uma semifinal em 2024. Já o Boca, mesmo sem disputar a Libertadores de 2024, acumulou os pontos necessários com a campanha do vice-campeonato de 2023, quando perdeu a final para o Fluminense.

Eles também chegaram aos EUA em momentos opostos. O River Plate de Gallardo vivia boa fase em 2025, com apenas uma derrota no ano e uma campanha invicta na fase de grupos da Libertadores. O Boca, por outro lado, vivia uma crise institucional, com o presidente Riquelme sendo alvo de vaias e com a aposta no retorno do técnico Miguel Ángel Russo para tentar colocar a casa em ordem.

'Papelão Histórico': A Repercussão na Imprensa Argentina

A imprensa argentina não perdoou. A eliminação do Boca foi tratada como uma vergonha. O jornal "La Nación" publicou: "Boca se despediu do Mundial de Clubes com um papelão histórico: não conseguiu ganhar do Auckland City, uma equipe formada por jogadores amadores". Para aumentar o drama, destacou a profissão do autor do gol neozelandês: "Christian Gray, o professor de escola que marcou o gol de empate contra o Boca". O "Clarín" seguiu a mesma linha, afirmando que o time mostrou sua "pior versão" e "ficou derrubado animicamente".

Sobre o River Plate, o "Diario OLÉ" falou em "decepção", afirmando que "o River não poderia ter ficado de fora das oitavas". A "ESPN Argentina" apontou que o emocional da equipe foi abalado ao saber do resultado do Monterrey, que passava nos telões do estádio, e que o time "não conseguiu mais conter Lautaro Martínez". Já o "Clarín" citou a expulsão do zagueiro Martínez Quarta como um dos pontos decisivos para a derrota contra a Inter de Milão.

Crise e Futuro: Milei reacende debate sobre a 'SAF Argentina'

As eliminações reacenderam o debate sobre a transformação dos clubes em Sociedade Anônima Desportiva (SAD), modelo semelhante à SAF brasileira. O principal defensor da ideia é o presidente da Argentina, Javier Milei, que usou as quedas para criticar a Associação do Futebol Argentino (AFA) e seu presidente, Claudio "Chiqui" Tapia.

— Nem River, nem Boca Juniors. Nenhum argentino no Mundial de Clubes. O Brasil foi com quatro times, todos os quatro avançaram. Até quando teremos que apontar o fracasso do modelo Chiqui Tapia? Um campeonato fraco, com 30 times, sem competitividade, sem SAD, sem incentivos — publicou Milei em seu Instagram.

A proposta, no entanto, enfrenta forte resistência. Presidentes de grandes clubes, como Diego Milito, do Racing, e o próprio Riquelme, do Boca Juniors, já se declararam publicamente contra o modelo. Após a eleição de Riquelme, o Boca emitiu uma nota oficial contrária às SADs: "A vida do Boca Juniors está intrinsecamente ligada ao lugar onde nasceu, cresceu e assumiu a dimensão que hoje o tornou um movimento popular reconhecido no mundo".

Riquelme, presidente do Boca Juniors (Foto: Juan Mabromata / AFP)

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