O futebol brasileiro vem dando uma resposta ao planeta no novo Mundial de Clubes da Fifa. Em um torneio com 32 equipes e dominado historicamente pelos europeus (na competição tradicional), os sul-americanos surpreendem, quebram expectativas e atraem olhares da imprensa internacional.
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Os maiores campeões da antiga versão do Mundial de Clubes, disputada entre os campeões continentais, são os europeus. O Real Madrid lidera de forma isolada, com nove títulos, seguido por Milan e Bayern de Munique, ambos com quatro conquistas. O Brasil aparece em seguida, com três títulos do São Paulo, mas divide o pódio com Barcelona, Boca Juniors, Inter de Milão e Peñarol, que também somam três troféus cada.
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Com atuações sólidas, resultados expressivos e um nível de competitividade que surpreende até os mais céticos, Fluminense, Palmeiras, Botafogo e Flamengo vão dominando o torneio, deixando claro que vieram para brigar pelo título — e não apenas para participar.
Até aqui, o desempenho dos brasileiros beira a perfeição. O Fluminense segurou um empate contra o Borussia Dortmund e venceu o Ulsan, dependendo apenas de si para avançar. O Palmeiras empatou na estreia com o Porto e venceu o Al Ahly por 2 a 0, também com o caminho nas próprias mãos. O Botafogo, dono de uma das atuações mais marcantes do torneio, superou o Seattle Sounders e, em um jogo histórico, derrotou o PSG. Já o Flamengo despachou o Esperance e o poderoso Chelsea, ficando muito perto de garantir a vaga na próxima fase.
Nesse contexto, o Lance! conversou com jornalistas de várias partes do mundo para saber a visão de cada um sobre as equipes brasileiras no início do Mundial de Clubes da Fifa.
Veja abaixo comentários de jornalistas pelo mundo sobre os brasileiros no Mundial
Fabiana Della Valle - Gazzetta dello Sport (Itália)
Minha avaliação é muito positiva. Assisti no estádio a Flamengo x Chelsea e me surpreendeu muito a condição física da equipe, além da força mental, que permitiu virar a partida. Acredito que os brasileiros estão indo muito bem, especialmente Flamengo e Botafogo, e temos boas chances de avançar. O futebol brasileiro, neste momento, não está tão distante do europeu e contratou jogadores importantes, como Jorginho, Alex Sandro e Danilo, que trazem uma mentalidade mais europeia e podem ajudar no desenvolvimento dos mais jovens.
Tomás Moreira - A Bola (Portugal)
Na minha opinião, os times brasileiros têm feito um Mundial de Clubes extraordinário, superando minhas expectativas antes da competição. Tem surpreendido muita gente na Europa a forma como têm jogado de igual para igual contra as grandes equipes europeias, e a vitória do Botafogo sobre o PSG mostrou exatamente isso: que o nível do futebol brasileiro está muito alto. Neste momento, acredito que todos os times brasileiros estão liderando seus respectivos grupos.
Santiago Fernández - Olé (Argentina)
O Mundial de Clubes está sendo atraente, disruptivo e “polêmico”, abrindo as portas para o debate Conmebol vs. UEFA. Esse confronto ficou decidido, em grande parte, pela supremacia dos times brasileiros. O desempenho de Palmeiras, Botafogo, Flamengo e Fluminense até agora beira a perfeição. Exceto pelo empate do Flu contra o Borussia Dortmund e o empate do Verdão com o Porto, os demais jogos terminaram com vitórias brasileiras. Todos líderes de seus grupos ao final da segunda rodada, têm grandes aspirações de avançar às oitavas de final e mostrar força nas sempre difíceis fases de mata-mata.
O Palmeiras enfrentou um dos 0 a 0 mais interessantes dos últimos tempos. O adversário? Porto, que vive uma temporada irregular na Primeira Liga, mas, no papel, é um dos candidatos a ganhar o grupo. O Fogão, atual campeão da América, foi um dos resultados mais marcantes, vencendo no duelo da antiga Intercontinental o PSG, campeão europeu. Apenas um dia depois, houve um estrondo em Londres. O Fla, sempre competitivo, deu um banho de realidade no Chelsea. E ainda tem mais por vir! O Atlético de Madrid conseguirá superar o poder brasileiro?
Andersinho Marques - Sport TV (Brasileiro correspondente em Portugal)
Estou gostando do que estou vendo. Para ser sincero, até estou um pouco surpreso — positivamente. Os clubes brasileiros estão encarando o torneio com seriedade e, até aqui, vencendo adversários europeus com personalidade, o que nem sempre aconteceu nos últimos anos. Isso mostra evolução e, principalmente, coragem.
A gente sabe que o Mundial ainda é tratado com muito mais carinho no Brasil do que na Europa. Pro torcedor brasileiro, é quase uma Copa do Mundo de clubes — é emoção pura, é a chance de medir forças com o topo do futebol mundial. Já os europeus, em sua maioria, não colocam o torneio como prioridade. Alguns até entram para vencer, respeitam o jogo, mas não têm aquela mesma entrega emocional. E olha que muitos deles chegam ao torneio no fim da temporada, fisicamente esgotados.
Mesmo assim, não é fácil. Os europeus têm estrutura, metodologia e uma cultura tática que impressiona. Por isso, ver os brasileiros competindo de igual para igual — e até levando vantagem em algumas partidas — é algo que merece destaque.
Temos talento, temos camisa, temos uma torcida apaixonada… e se continuarmos evoluindo na parte tática e organizacional, dá para sonhar mais alto.
Miguel Zarza - ABC (Espanha)
Acho que os times brasileiros chegaram muito focados e bem preparados. Os europeus, ao contrário, encaram como um objetivo importante, mas em um momento de forma complicado, pouco depois de terminarem suas competições e sem tempo para aprofundar os planos da nova temporada. Não me surpreendeu. Os clubes brasileiros são grandes, históricos, com jogadores de muita qualidade e que chegam extremamente motivados.
Mauricio Cannone - Comunità Italiana e Gazzetta dello Sport (Itália)
Até agora, pelo menos, o futebol brasileiro vai muito bem. Principalmente Botafogo e Flamengo. Já davam como certa a derrota do alvinegro para o Paris-Saint Germain e o time surpreendeu. Os brasileiros dão mais importância ao Mundial de Clubes, mas estão jogando bem. É bom, descentralizar o futebol um pouco da Europa. Se os brasileiros, mesmo se agora não tem a geração mais brilhante de sua história., pudessem manter jogadores revelados pela própria base os clubes poderiam formar grandes times. Se ninguém pudesse ter estrangeiros em todo o mundo, provavelmente Brasil e Argentina teriam os melhores campeonatos.
Filipe Alexandre Dias - Record (Portugal)
Não fico completamente espantado com o desempenho das equipas sul-americanas no Mundial de Clubes, particularmente das brasileiras. Além do investimento ter crescido no país – e com isso aumentou a qualidade das equipas -, há um cuidado físico muito maior da parte dos conjuntos brasileiros nesta fase da temporada. O PSG, de longe a melhor equipa da Europa e que acabou de ganhar tudo nos planos nacional e continental, chegou a esta prova com 57 jogos na temporada e ao mais alto nível. As equipas no Velho Continente tiveram escasso tempo de férias até partirem para o Mundial de Clubes depois de temporadas extenuantes. A motivação não é a maior e o cansaço é assinalável. Não são desculpas – são factos.
Além disso, a Europa olha com desconfiança para esta competição e duvida bastante do seu sucesso futuro. A logística, as condições, a diferença horária, o próprio clima nos Estados Unidos são fatores que sustentam a crítica e retiram entusiasmo. O próprio entusiasmo dos adeptos é contrastante e não é por proximidade geográfica. O ‘torcedor’ sul-americano leva muito mais a sério.
Mas há outro aspecto: o critério de seleção para o Mundial de Clubes – embora claro e legítimo - tem sido também criticado aqui na Europa. Não estão presentes os campeões de Inglaterra (Liverpool), Espanha (Barcelona) e Itália (Napoli). Mesmo o bicampeão de Portugal (Sporting) também não foi e é uma equipa que se bateu bem na Europa esta temporada e chegou a golear o Manchester City.
Existe outro dado que não dá para negar: as formações brasileiras (não coloco aqui as argentinas…) têm hoje um nível competitivo muito superior em relação a um passado nada distante. E isso é inescapável.