Mais Esportes

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Em luta contra tumor e por vaga em Tóquio, Verônica Hipólito impõe meta: ‘Resgatar minha essência’

Velocista, dona de duas medalhas nos Jogos Paralímpicos do Rio, vive turbilhão de emoções e opta por adiar cirurgia na cabeça para tentar realizar o objetivo de ir aos Jogos de Tóquio

Verônica Hipólito é a idealizadora do Time Naurú, que reúne destaques e promessas do atletismo (Foto: Renan Bossi)
Escrito por

Diante de todos os desafios que a pandemia de Covid-19 trouxe aos atletas na preparação para os Jogos de Tóquio, Verônica Hipólito precisou voltar o foco para sua saúde e tirar o pé do acelerador no momento decisivo da caminhada.

Ela, que aos 24 anos tem no currículo duas medalhas nos Jogos Paralímpicos Rio-2016 (100m e 400m T38), um título mundial nos 200m T38, em 2013, e diversos recordes nas pistas, descobriu a volta de um tumor no cérebro há um mês e meio, e tenta conciliar o tratamento com a obtenção do índice para o evento. A atleta já passou por quatro cirurgias para retirar tumores até hoje.

< CONHEÇA O NOVO APLICATIVO DO LANCE! >

A seletiva nacional que vai definir os velocistas classificados para a Paralimpíada está marcada para acontecer entre os dias 8 e 12 de junho, no Centro de Treinamento do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em São Paulo.

Verônica espera alcançar o objetivo em meio aos cuidados, e admite que impôs um desafio maior do que medalhas, recordes ou índices para lidar com o susto.

- Eu treino para estar em Tóquio e conquistar a medalha de ouro que sempre sonhei tanto. Não saí das camas das cirurgias e não adiei os tratamentos simplesmente por um like no Instagram, mas porque amo correr. É o sonho de todo atleta. Sei que estou dando o meu melhor, e que terá sido um ciclo absurdamente divertido. Acima de qualquer coisa, quero me divertir. A medalha é linda, e o recorde arrepia. Mas corro para resgatar minha essência. Se não tiver isso, não vale a pena - disse Verônica, ao LANCE!, após um evento online do Time Petrobras, do qual ela é um dos destaques.

< Confira os países com mais medalhas na história dos Jogos Olímpicos >

Enquanto trabalha na mente as estratégias para obter a qualificação para o Japão, onde sonha com um ouro inédito na classe T37, a paulista de 24 anos estuda, com o apoio dos médicos, se optará por radioterapia ou radiocirurgia.

A avaliação de sua equipe é de que há pontos positivos e negativos em ambos. O primeiro demanda 28 dias seguidos de sessões, enquanto o segundo dura apenas 20 minutos. Na radiocirurgia, uma espécie de coroa é prendida no osso do crânio, o paciente entra em uma máquina de ultrassom e os médicos tentam milimetricamente acabar com o tumor. 

- A volta do tumor é um caso absurdamente raro. Já deveria ter feito a cirurgia, mas esperei um pouco mais. Agora, vou ter que iniciar um tratamento. Estamos decidindo qual vai ser. Minha vida e saúde estão acima de tudo. Confio totalmente nos meus médicos. Mas estou como sempre. Ficamos assustados, é claro, mas se eu não acreditar na minha recuperação, quem vai? Foi uma escolha minha continuar treinando. Não sei se vou fazer o índice, mas todos esses dias eu pensei em Paralimpíada - contou a atleta, sem perder o sorriso que é característico.

- O problema está aí. O que fazer diante dele é que vai de cada um - disse.

Como não tem mais uma boa recuperação muscular para distâncias maiores que 100m após anos de medicações e procedimentos invasivos que afetaram sua performance, Verônica não tem treinado para os 200m e os 400m. A queda de rendimento a levou a ser reclassificada da classe T38 para a T37, em 2018. Mas a velocista celebra os pequenos avanços.

- Minha condição física piorou. No fim do ano passado, introduzi alguns hormônios, como o do crescimento, para ajudar na recuperação, pois estava ficando muito machucada. Hoje, estou muito feliz de estar treinando com menos dor, graças às ondas de choque - celebrou.

Verônica espera passar por mais um dos tantos desafios da sua vida. Aos 12 anos, ela descobriu o tumor no cérebro e passou pela primeira cirurgia. Aos 14 anos, sofreu um AVC que paralisou todo o lado direito de seu corpo. Foi a porta de entrada no esporte paralímpico.

As outras operações aconteceram em 2015 e 2017, em meio às conquistas, e o ano de 2018 reservou um tratamento intenso, que foi um baque para a paulista. Mesmo assim, ela surpreendeu nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, em 2019, e voltou para casa com duas pratas, nos 100m e 200m T37.

A força acumulada em anos de desafios na vida profissional e pessoal a levou a tirar do papel o Time Naurú, uma equipe de atletismo de alto rendimento que tem como conceito focar esforços na evolução dos seus atletas, dentro e fora das pistas, oferecendo oportunidades de crescimento constante. O projeto é um de seus orgulhos e uma motivação para continuar a ser um exemplo.

- Quando comecei a ser xingada, achei que não era certo. Não acho justo eu trabalhar tanto pelo movimento esportivo, ver as coisas darem certo para a gente e fecharmos os olhos pros outros. Queremos disponibilizar patrocínio e estrutura a outros atletas, ensiná-los sobre carreira, estarmos juntos. O esporte é muito maior do que uma medalha. Se é gordo, magro, homem, mulher, LGBTQ+, não importa. Melhorou minha vida e quero melhorar a dos outros - afirmou Hipólito.