Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 04/08/2025
19:39
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O recém findado fim de semana foi pródigo de grandes competições. Mas eu gostaria de dedicar o espaço que ora uso, para trazer dois eventos que mais me chamaram a atenção: primeiro para o Campeonato Mundial de Desportos Aquáticos, que comporta as maratonas aquáticas, o vigoroso polo aquático, o técnico saltos ornamentais e o nado artístico, ufa! É quase uma Olimpíada “molhada”!


Mas eu gostaria de apontar minhas teclas para a modalidade mais importante (pelo número de medalhas que distribui, e pela variedade de provas), a natação, que mostrou uma nova ordem global e confirma a premissa, criada por Belchior, e cantada, há anos, por Elis: … o novo sempre vem!
E como veio forte nesta edição. Desde a chinesinha Yu, do alto de seus 12 anos, à Mcintosh e Marchand com, respectivamente, 18 e 22 anos. Tanto a canadense, quanto o francês (tido como um novo Phelps, inclusive é treinado pelo ex-treinador dele), são notórios colecionadores de medalhas, olímpicas e mundiais e primam pela resistência geral, para sobreviverem (e vencerem) uma quase criminosa sequência de provas, diariamente. Pois, cada um de seus eventos finais, são precedidos por eliminatórias e semifinais, antes! Além das, com certeza muitas, cerimônias de premiação.
Como diria a ainda adolescente McIntosh, não me deixam comemorar com minha equipe!! Afinal, só de ouro, foram 4 medalhas neste mundial, mesmo número de Marchand. Mas nem só de adolescentes viveu este Mundial em Singapura, afinal tivemos mais uma apresentação de gala da americana Katie Ledecky, do alto de seus 28 anos. Esta “senhora das piscinas” botou pra quebrar! Foi a sua 23ª medalha de ouro em Mundiais na considerada prova do século, os 800 metros, onde a “sobrinha” canadense (McIntosh era a grande favorita, até pelo fato de ser a detentora do recorde mundial), mas a “tia” americana, não deu chance, fazendo uma chegada monstruosa, deixando McIntosh 2 segundos pra trás, com o bronze, e a surpreendente australiana Pallister com a prata, a míseros 35 centésimos de segundo!
E por falar em australiana, lembro que…
Precisamos falar sobre a Austrália, urgente:
Essa enorme ilha linda e distante, após a 2ª Guerra Mundial, aproveitando o calorzinho por quase todo o ano, parecido com nosso clima “mezzo tropical”, e a quantidade enorme de piscinas disponíveis (públicas, em colégios, clubes e associações comunitárias), programou um projeto de natação a partir de torneios escolares, para que em 1956, os australianos pudessem celebrar em Melbourne, alguns pódios durante os Jogos Olímpicos. Por conta da adesão em massa também de novatos surfistas, principalmente vindos da famosa Gold Coast, a fórmula desse bolo deu liga e fez crescer a natação australiana, que dominou o cenário mundial durante 3 edições olímpicas: Melbourne, Roma e Tóquio. A partir daí, só foi conseguir sucesso semelhante, nos Jogos de Sidnei 2000, por conta dos esforços do Instituto Australiano de Esportes (AIS), usando novamente a malha escolar como base larga de uma pirâmide cujo topo fez tremer a grande potência mundial na natação naquela época, os EUA!
Pois bem, EUA, preparem-se, os Aussies voltaram! Ainda em preparação para Brisbane 2032, eles já prometem ser os melhores de LA28!! Neste Mundial de Singapura, a vitória dos EUA só foi definida na última prova, o revezamento Medley 4x100, onde a Austrália poderia se sagrar campeã geral se vencesse a prova! Por conta do desgaste absurdo de todo o time Aussie, muito menor que o seu principal adversário, não conseguiram nem o pódio. Mas mostraram que estão à pouca distância do topo do Olimpo, que será em 2028, na casa do inimigo! Os amarelinhos voltaram com tudo!


E os nossos nadadores, como foram? Me perguntará você, atento e resiliente (não aguento essa palavra, preciso de ajuda profissional para me livrar desta praga), quase solitário leitor.
Te respondo de pronto: não tivemos nenhuma medalha, chegamos apenas à duas finais, com o veloz e promissor Guilherme Caribé, que, aliás, tinha feito marcas nesta temporada que até projetavam possível pódio. Mas, neca, nadica! Algumas outras promessas de, pelo menos, finais, passaram em branco. Foi mais um mundial para ser estudado, fermentado e transformado em projetos de detecção e desenvolvimento de novos talentos, pois são muito poucos os atuais, e isso além de ser matematicamente inviável a detecção (pela pouca quantidade de novos praticantes), também torna a vida para os poucos selecionados, um inferno de pressão! Muito peso para tão frágeis ombros!!
Estou preparando, como um milkshake ou uma caipirinha, um estudo sobre a não utilização, pelos gestores esportivos, da malha estudantil ativa, que NORMALMENTE pratica uma série de modalidades olímpicas, em escolinhas, clubes e nas escolas (tênis de mesa, handebol, judô e natação) de forma espontânea, como estupenda base de início de projeto olímpico. Não seria uma boa hora de mudar o rumo do esporte competitivo no Brasil?

Viva o pingue-pongue do recreio do Colégio Santo Inácio, onde Hugo Calderano deu suas primeiras raquetadas! E a natação terapêutica do futuro asmático campeão olímpico! Viva o garotinho que começou a fazer judô pra se defender de bullying e ganhou o ouro em Brisbane32. Campeões olímpicos nascem nas escolas, sejam públicas ou particulares, é de seus pátios que vem as medalhas!


… E o segundo evento que gostaria de conversar aqui é o recém findado Troféu Brasil de Atletismo:
Em todo o mundo, neste momento, acontecem os campeonatos, ou seletivas, nacionais para a formação das delegações que irão competir no Mundial de Atletismo de Tóquio, em setembro. Assim também foi aqui. Aconteceu no Centro de Treinamento Paralímpico do Brasil, em SP. Foi uma edição muito interessante, com belas confirmações e algumas gratas surpresas, conforme segue aí abaixo:

  1. Marcha Atlética firme e forte- Graças ao núcleo candango da CASO e o acolhimento do Praia Clube, trazendo vitórias esclarecedoras de Viviane Lyra e Caio Bonfim, vencendo e convencendo com índices nos 20 e 35km. E também as agradáveis surpresa de Max Batista e Matheus Correa, a sensação que dá é que começamos a formar uma escola de marcha brasileira, sigamos marchando, sempre em frente. Chances de novas medalhas de Caio e cia!
  2. Salto com Vara- Olha nóis aí travez! Lá vem Juliana Campos, centímetro a centímetro, se aproximando da Elite mundial. E será nesse mundial, o desfrute de uma bela final, na casa dos 4,80, que Juliana irá desabrochar. Medalha, talvez, sim, talvez não. Essa menina vai estar pronta pra medalhas, sim, em LA28!
  3. De onde saiu esse 9,93 do Eryk, gente? E, de lá, pode sair mais coisa boa! O Eryk Cardoso, nos 100 metros, está em processo de melhora. Se conseguir ser encaixado em um GP de médio porte e numa etapa de Diamond League, para ganho de ritmo de competição internacional, ele se aproxima mais dos 9,90! E, mesmo assim, ainda fica um pouco incerta a medalha, mas uma final… Enfim um velocista sub 9,95! Atualmente ele é recordista brasileiro e continental dos 100, com o excelente 9,93.
  4. Nós temos o segundo dardista do mundo! – Pois é, o lançamento do dardo, já há alguns anos, se tornou uma boa “porta de entrada” para países sem a menor tradição, seja em Trinidad-Tobago, Índia, Granada, Quênia, Jamaica… pois é, nas terras dos velocistas e maratonistas, tem dardo também, inclusive com medalhas olímpicas! E, depois de seus impensáveis lançamentos acima de 91 metros, Luiz Maurício se qualifica, sim, a brigar por medalhas. Afinal, hoje, apenas o alemão Julian Weber está à sua frente, mas apenas 6 centímetros separam o líder do segundo do ranking mundial! De olho no Luiz, pois é outro que pode dar trabalho em Tóquio
  5. Para eles não existem barreiras! É o que nos parece, ao vermos Alison dos Santos, numa temporada sem percalços, como vice-líder do ranking mundial, e Matheus da Silva, um novato cheio de vontade, que hoje é o 12º do mundo, e com viés de alta! Quem sabe não teremos 2 representantes na final dos 400 com barreiras em Tóquio. E com o auxílio luxuoso destes nossos dois barreiristas, enfim, voltarmos a ser competitivos no revezamento 4x400 masculino! Já estava mais do que na hora!!
  6. Nasce uma estrela em Macaé- Uma menina de 16 anos, descoberta num núcleo de atletismo em Macaé (Associação Esportiva Cidadania e Dignidade – AECD) quebra recordes e tabus, e se torna vice campeã adulta dos 100 metros, no Troféu Brasil. Correndo feito gente grande, Hakelly da Silva crava 11:37, e bate o recorde brasileiro sub-18, e nos enche de esperanças para 2028,2032, 2036…
    Sua performance é mais um motivo para olharmos com carinho para as aulas de educação física e os pátios das escolas por este imenso país. É de lá que surgirão outras Hakellys, Luízes, Caios, Alisons…
    Fim do recreio, hora de voltarmos, suados, para as salas de aula!

Lauter Nogueira

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