Existe um momento em que toda franquia precisa se olhar no espelho. O problema é que o espelho do Green Bay Packers parece ser aquele de banheiro antigo em uma parada de beira de estrada. Embaçado, rachado e, principalmente, preso no passado.
Green Bay é um daqueles casos que misturam orgulho e teimosia em doses quase iguais. É a franquia mais tradicional da NFL, com uma torcida que literalmente é dona do time, uma história de glórias e um estádio que respira futebol americano até no vento gelado. Bem old school mesmo, sabe? Bancos de metal, todo aberto, e quando tem nevasca são os próprios torcedores que pegam em pás e vão até lá limpar o gelo. Mas tradição, quando não é acompanhada de adaptação, vira peso. E é isso que os Packers vêm carregando há anos: o peso de achar que ter camisa basta.
A cada offseason, o roteiro se repete como um déjà-vu: decisões conservadoras, desempenhos fracos no Draft, e a esperança de que a genialidade da vez (que agora supostamente seria a de Jordan Love ou Matt LaFleur) resolva sozinha. É quase um culto à autossuficiência dentro da NFL. Enquanto outras franquias se mexem, fazem trocas agressivas, montam elencos prontos para o agora, como vimos o All In dos Rams em 2021, os Eagles ano passado ou os Colts esse ano, Green Bay parece sempre preparar o terreno para daqui a dois anos. Só que esse "daqui a dois anos" já dura uma década.
A verdade é que a gestão de Green Bay ainda vive com o trauma de perder Brett Favre e, depois, Aaron Rodgers. Dois Quarterbacks que, claro, foram geniais. Mas que também mascararam a falta de ousadia institucional, porque só o braço forte e preciso (com ressalvas a Favre) bastavam. Enquanto os Chiefs moldaram um império ao redor de Mahomes, os Packers muitas vezes pareciam preocupados demais em provar que sabiam fazer tudo "do jeito Green Bay".
O problema é que o "jeito Green Bay" parou no tempo. E o torcedor dos Packers não aguenta mais tanta decepção de um time que promete tudo e, no fim, não entrega nada.
Eles trouxeram Micah Parsons no início da temporada 2025 da NFL. Mas a única movimentação importante não significa que é a salvadora. Parsons não é um herói, por mais que seja muito bom. E muito menos vai resolver tudo sozinho. A ausência de um corpo de recebedores de peso é notória. E ficou ainda mais escrachada com a lesão ligamentar do Tucker Kraft, contra os Panthers.
Insistir em nunca buscar estrelas via trocas ou free agency é um erro de ego. O mesmo ego que faz o time apostar que o Wide Receiver de segunda rodada vai virar Davante Adams em seis meses. Spoiler? Ele não vai.
O resultado disso? Um time bom, competitivo, mas eternamente um degrau abaixo do título. Um elenco cheio de jovens talentosos, mas sem veteranos que saibam ganhar. Um quarterback promissor, mas sem armas suficientes para testar seus limites. E uma diretoria que, ano após ano, parece confundir paciência com passividade.
Mas não para por aí. O maior problema que eu encontro no atual Green Bay Packers não é o elenco. A defesa melhorou demais. O ataque tem boas peças e Josh Jacobs carrega o piano. O que precisa mudar urgentemente é Matt LaFleur. Demitido? Rebaixado? A falta de ousadia do time não permite mudanças.
Matt LaFleur é um bom técnico, mas um péssimo playcaller. Insiste em chamar jogadas previsíveis, não deixa o ataque dinâmico, e o pior: não confia em Jordan Love. Utiliza pouco do potencial do QB com seus recebedores e, quando Love acerta algo, MLF volta para as corridas ou jogadas curtas. Ele simplesmente não tem coragem de se expor. E quem não se expõe fica a vida inteira vendo os demais colherem os frutos.
Green Bay não precisa perder sua essência. E nem deve. A cultura de desenvolvimento, o DNA coletivo, o espírito da comunidade: tudo isso é lindo e único. Mas dá pra manter o romantismo e ainda assim agir como um time que quer vencer agora. A NFL não é uma história de amor, é um negócio competitivo, e quem não entende isso acaba sendo engolido pelos que entenderam.
Os Packers continuam achando que estão construindo uma catedral. Só esqueceram que a NFL é um furacão e que, às vezes, é melhor levantar um bunker moderno do que rezar no templo lindo e antigo.
Porque se há uma coisa mais triste do que perder o Super Bowl, é todo ano não chegar perto dele achando que ainda há tempo.
E o tempo, em Green Bay, parece sempre congelado, mesmo a gente sabendo que ele passa rápido. Assim como o Lambeau Field em dezembro.