No fim do século XIX, o Rio de Janeiro respirava esportes aquáticos. Fundado em 21 de agosto de 1898, o Club de Regatas Vasco da Gama nasceu com vocação náutica, reunindo jovens portugueses que buscavam competir nas regatas da Baía de Guanabara. O nome homenageava o navegador luso, símbolo da coragem e do espírito desbravador que marcariam a identidade vascaína para sempre. O Lance! conta tudo sobre o primeiro título da história do Vasco da Gama.

➡️ Siga o Lance! no WhatsApp e acompanhe em tempo real as principais notícias do esporte

Por mais de quinze anos, o Vasco foi sinônimo de sucesso nas águas, acumulando títulos e prestígio. Mas, no início da década de 1910, o futebol começava a dominar o Rio. Fluminense, Botafogo e Flamengo já disputavam campeonatos, e o esporte ganhava cada vez mais popularidade. Foi então que, em 26 de novembro de 1915, o Vasco decidiu fundar seu departamento de futebol, dando o primeiro passo rumo a uma nova era.

O início foi humilde. O clube não tinha campo próprio, utilizava terrenos emprestados e formava suas equipes com operários, imigrantes e jogadores negros — algo inédito em um ambiente esportivo ainda elitista. Enquanto os rivais representavam a aristocracia carioca, o Vasco se apresentava como o time do povo, uma ideia revolucionária para o período.

A caminhada até o sucesso foi rápida. Em 1922, apenas sete anos depois de estrear nos gramados, o Vasco conquistaria seu primeiro título de futebol, vencendo a Segunda Divisão do Campeonato Carioca e garantindo o acesso à elite. Aquele troféu foi o embrião da maior revolução social da história do futebol brasileiro.

Primeiro título da história do Vasco da Gama

A campanha do título de 1922

O Campeonato Carioca da Segunda Divisão era organizado pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), que controlava o futebol carioca da época. O Vasco, liderado por Francisco Queiroz, fez campanha impecável, com vitórias expressivas sobre clubes como Cattete, Andarahy e Villa Isabel. Vale lembrar que o Vasco não disputava a primeira divisão, pois a LMDT não aceita negros nos times da elite.

O time jogava de forma simples, mas intensa, com marcação forte e transições rápidas. O ataque, formado por Nicolino, Cecy e Negrito, era a sensação do torneio. A partida decisiva foi contra o Cattete, e a vitória garantiu ao Vasco o título e o acesso à Primeira Divisão.

O feito teve repercussão imediata. Pela primeira vez, um clube popular, formado majoritariamente por operários, imigrantes e jogadores negros, ascendia à elite do futebol carioca. O Vasco não apenas venceu um campeonato: derrubou barreiras sociais.

O marco da inclusão e o nascimento do mito

A conquista de 1922 foi o ponto de partida para a transformação do Vasco em um símbolo de resistência e inclusão. Enquanto os clubes tradicionais mantinham restrições raciais e sociais, o Vasco abriu as portas a todos. Essa postura gerou desconforto entre as elites esportivas, mas também encantou as massas.

No ano seguinte, em 1923, o clube confirmaria sua força ao conquistar o título da Primeira Divisão, já com um elenco formado majoritariamente por jogadores negros e mestiços. Aquele time ficou conhecido como o Campeão de Todos os Povos, e a base dessa revolução nasceu no elenco campeão da Segunda Divisão de 1922.

O título também marcou o início da identidade cruzmaltina: um clube que representa o povo, luta contra as injustiças e carrega no peito a história de quem venceu as dificuldades com dignidade. O lema "Respeito, Igualdade e Inclusão" que o Vasco carrega até hoje nasceu, de certa forma, naquele time de 1922.

O impacto no futebol carioca

O primeiro título vascaíno teve efeitos profundos no futebol do Rio. O sucesso de um clube de origem popular abalou a hierarquia esportiva da cidade. Pela primeira vez, a aristocracia dos clubes tradicionais foi desafiada por um time que vinha dos subúrbios e aceitava todos os jogadores, sem distinção.

O feito impulsionou mudanças no formato das ligas e na forma como o futebol era percebido socialmente. O Vasco mostrou que a qualidade técnica e o talento não dependiam de berço, mas de oportunidade. Essa mensagem ecoaria por décadas, inspirando gerações de torcedores e atletas.

Além disso, a conquista consolidou o espírito competitivo do clube, que nasceria vitorioso e jamais deixaria de lutar. O Vasco de 1922 pode não ter sido o mais conhecido, mas foi aquele que ensinou o clube a vencer.

O legado do título de 1922 do Vasco

Mais de um século depois, a taça da Segunda Divisão ainda ocupa lugar especial na sala de troféus de São Januário. Não pelo tamanho, mas pelo que representa: o início de uma história de glórias e de luta social.

Foi a primeira vez que o nome "Vasco da Gama" apareceu no topo de uma competição de futebol — e, a partir dali, o clube jamais sairia do protagonismo. O espírito guerreiro dos jogadores de 1922 permanece vivo em cada geração vascaína, da construção de São Januário à conquista da Libertadores de 1998.

O título de 1922 não é apenas uma lembrança; é o ato fundador da identidade vascaína — um clube que nasceu do povo, venceu pelo povo e continua sendo a voz do povo.

Curiosidades históricas do primeiro título da história do Vasco da Gama

  1. O uniforme com a tradicional faixa diagonal preta só seria adotado em 1945; em 1922, o Vasco jogava com camisa preta e calção branco.
  2. O troféu da Segunda Divisão está preservado no acervo histórico do clube, em São Januário.
  3. A vitória de 1922 abriu caminho para o histórico título da Primeira Divisão em 1923 — o “time dos camisas negras”, que enfrentou o racismo e mudou o futebol brasileiro.
  4. O Vasco é o único campeão carioca que tem origem direta em uma equipe de imigrantes e trabalhadores.
Siga o Lance! no Google News