Jefferson de Oliveira Galvão marcou uma geração inteira de torcedores do Botafogo e fãs de futebol no Brasil. Seguro, frio, decisivo em clássicos e com uma história carregada de superação, ele é frequentemente lembrado como um dos melhores goleiros do país nos anos 2010. Entre defesas milagrosas, pênaltis pegados em momentos decisivos e atuações de altíssimo nível, o "Homem de Gelo" construiu uma conexão rara com a torcida alvinegra. O Lance! conta por onde anda Jefferson.
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Revelado pelo Cruzeiro e com passagem difícil, porém importante, pelo futebol turco, Jefferson encontrou no Botafogo o clube da sua vida. Soma 459 jogos pelo Glorioso, é o terceiro jogador que mais vezes vestiu a camisa alvinegra — atrás apenas de Nilton Santos e Garrincha — e ainda é o recordista de partidas no Estádio Nilton Santos.
Pela Seleção Brasileira, foi campeão da Copa das Confederações de 2013, tricampeão do Superclássico das Américas e titular na Copa América de 2015, além de estar no elenco da Copa do Mundo de 2014. Saiba por onde anda Jefferson.
Início no Cruzeiro: de atacante a goleiro e o salto precoce de Jefferson
Curiosamente, Jefferson começou no futebol como atacante, nas categorias de base da Ferroviária de Assis, no interior de São Paulo. A mudança de posição para goleiro veio pela estatura e pelas orientações dos treinadores, e acabou definindo sua vida. Em 1997, ele chegou ao Cruzeiro, já sob o rótulo de grande promessa para o gol.
A ascensão foi rápida. Ainda muito jovem, ganhou espaço no elenco profissional e foi promovido definitivamente por Luiz Felipe Scolari, que comprou a briga com setores do clube que preferiam outro perfil de goleiro. O treinador chegou a apontar situações de preconceito racial na disputa pela posição, o que tornou a confiança em Jefferson ainda mais simbólica.
Pela Raposa, o goleiro conquistou duas Copas Sul-Minas (2001 e 2002) e o Supercampeonato Mineiro de 2002, mas também viveu momentos difíceis, como falhas na final da Copa dos Campeões de 2002, que acabaram precipitando sua saída. Depois de perder espaço com a chegada de Gomes e de Luxemburgo, foi emprestado ao América-SP e, em seguida, surgiu a oportunidade que mudaria sua história: o Botafogo.
Primeira passagem pelo Botafogo: defesa em time instável e olho na Europa
Jefferson chegou ao Botafogo em 2003, ainda jovem, para disputar a Série B e ajudar na reconstrução do clube. Começou como reserva, mas assumiu a titularidade em 2004 e se destacou mesmo em uma equipe que sofria dentro de campo.
Mesmo sem taças na primeira passagem, o goleiro mostrou personalidade, fez grandes partidas e ganhou atenção do mercado internacional. Em 2005, decidiu se transferir para o futebol turco com a ideia de ganhar visibilidade e aumentar as chances de ser lembrado pela Seleção.
Turquia: desafios, amadurecimento e volta ao Brasil
Entre Trabzonspor e Konyaspor, Jefferson viveu um período de altos e baixos na Turquia. Teve temporadas como titular, jogou liga nacional, eliminatórias europeias e competições continentais, mas também lidou com dificuldades de adaptação, problemas com treinador e até relatos de preconceito e perseguição.
Apesar das adversidades, o goleiro sempre destacou que o período foi importante para seu amadurecimento pessoal e profissional. Ao fim da passagem turca, optou por rescindir, voltar ao Brasil e tentar recomeçar a carreira em solo conhecido — de preferência, no clube onde já tinha deixado boa impressão.
Retorno ao Botafogo: idolatria, títulos e recordes
Sem contrato e treinando por conta própria no interior de São Paulo, Jefferson voltou a buscar o Botafogo em 2009. Depois de uma primeira negociação frustrada, acabou acertando com o clube com um vínculo curto e status de reserva. Bastou uma sequência de jogos para tudo mudar.
Na reta final do Brasileirão 2009, Jefferson assumiu a meta, acumulou defesas decisivas e ajudou o Botafogo a escapar do rebaixamento. A partir daí, não saiu mais da história do clube. Veio a renovação, a faixa de capitão e uma série de momentos inesquecíveis:
- Defesa em chute à queima-roupa de Vágner Love, na semifinal da Taça Guanabara 2010, contra o Flamengo.
- Pênalti defendido de Adriano, na final da Taça Rio 2010, que garantiu o título carioca antecipado.
- Atuações gigantes em clássicos e jogos decisivos, que o consolidaram como líder do elenco.
Com o Botafogo, Jefferson conquistou:
- Campeonatos Cariocas: 2010, 2013 e 2018
- Taças Guanabara: 2010, 2013, 2015
- Taças Rio: 2010, 2012, 2013
- Série B do Brasileiro: 2015
Individualmente, foi eleito melhor goleiro do Campeonato Brasileiro em 2011 e 2014, além de receber prêmios no Campeonato Carioca e ser frequentemente citado entre os melhores do país na posição.
Mesmo após o rebaixamento de 2014, escolheu permanecer no clube, disputar a Série B e ajudar na reconstrução do Botafogo. A relação com a torcida virou algo de afeto declarado, com o próprio jogador assumindo o papel de "torcedor em campo".
Lesões, recuperação e despedida emocionante
A fase final da carreira de Jefferson foi marcada por lesões graves, especialmente a ruptura parcial do tendão do tríceps, que o afastou de boa parte de 2016 e exigiu duas cirurgias. Em muitos momentos, ele chegou a cogitar a aposentadoria antecipada.
A volta aos gramados ocorreu em 2017, em jogo contra o Atlético-MG, com defesa de pênalti e atuação segura, em uma espécie de "renascimento" dentro do futebol. O retorno com nível competitivo após tanto tempo parado reforçou sua imagem de atleta resiliente.
Em 2018, já com a aposentadoria anunciada, viveu seus últimos jogos com a camisa alvinegra. A despedida oficial aconteceu em 26 de novembro de 2018, contra o Paraná, em um Nilton Santos tomado de homenagens, bandeirões e emoção. Ao fim da partida, o goleiro deu a volta olímpica, emocionado, e se despediu como um dos maiores ídolos da história recente do Botafogo.
Seleção Brasileira: Superclássico, Copa das Confederações e Copa do Mundo
Na Seleção Brasileira, Jefferson teve trajetória relevante. Pelas categorias de base, foi campeão mundial sub-20 em 2003 e acumulou títulos em torneios de base. No time principal, começou a ser chamado com Mano Menezes, voltou a ganhar espaço com Dunga e viveu seu auge entre 2011 e 2015.
Com a Seleção principal, Jefferson:
Foi tricampeão do Superclássico das Américas (2011, 2012 e 2014), com destaque para o pênalti defendido de Messi em 2014.
- Fez parte do elenco campeão da Copa das Confederações 2013, como reserva.
- Esteve na Copa do Mundo de 2014, novamente no grupo, como um dos goleiros de confiança.
- Foi titular na Copa América de 2015, sua principal competição oficial como dono da posição.
Foram 22 jogos pela Seleção principal, com atuações seguras e momentos marcantes, consolidando seu nome entre os goleiros brasileiros mais importantes de sua geração.
Por onde anda Jefferson, o "Homem de Gelo"?
Por onde anda Jefferson? Desde que se aposentou em 2018, aos 35 anos, Jefferson (@j1jefferson) segue com seu perfil muito ligado ao Botafogo. Porém, hoje, ele é preparador de goleiros do Orlando City, dos Estados Unidos.
Todos os clubes da carreira de Jefferson (em ordem cronológica)
Ao longo da carreira profissional, Jefferson defendeu cinco clubes:
- Cruzeiro – 2000–2005
- América-SP (empréstimo) – 2003
- Botafogo (1ª passagem, empréstimo) – 2003–2005
- Trabzonspor (Turquia) – 2005–2008
- Konyaspor (Turquia) – 2008–2009
- Botafogo (2ª passagem, definitiva) – 2009–2018
Em números gerais, foram 70 jogos pelo Cruzeiro, 84 pelo Botafogo na primeira passagem e 375 partidas na segunda, totalizando 459 jogos com a camisa alvinegra – marca que o coloca como terceiro atleta que mais vezes defendeu o Botafogo.