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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 24/07/2025
07:51
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Quando se fala em pistas icônicas da Fórmula 1, poucos trechos evocam tanta reverência quanto a combinação Eau Rouge e Raidillon, localizada no circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica. Esse setor do traçado é considerado um dos mais traiçoeiros do automobilismo mundial, tanto por sua complexidade quanto pelos riscos que impõe aos pilotos.

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A combinação começa logo após a curva La Source, em uma descida seguida de um vale, onde os carros atravessam o riacho Eau Rouge e iniciam uma subida inclinada e curvada chamada Raidillon. O desafio não está apenas na velocidade, mas também no desnível abrupto, na força G que comprime os pilotos no cockpit e, principalmente, na visibilidade zero ao sair da curva — o piloto vira o volante sem ver onde o carro vai sair.

Essa característica cria uma linha tênue entre a coragem e o erro. Vencer Eau Rouge e Raidillon em alta velocidade exige precisão absoluta e total confiança no carro. Erros geralmente resultam em batidas fortes, já que o espaço para escapada é limitado e o traçado projeta os carros de volta à pista.

Neste texto, explicamos por que Eau Rouge e Raidillon são considerados tão desafiadores, quais foram os acidentes históricos que marcaram o trecho e como as mudanças recentes tentaram aumentar a segurança de um dos pontos mais lendários da Fórmula 1.

Onde ficam Eau Rouge e Raidillon?

As curvas Eau Rouge e Raidillon estão localizadas no início do circuito de Spa-Francorchamps, na região das Ardenas, Bélgica. Após a primeira curva da pista, La Source, os carros descem uma longa reta até o ponto mais baixo da pista, onde cruzam o pequeno rio Eau Rouge (que dá nome à curva), iniciando então uma subida inclinada e curvada, o Raidillon.

O trecho termina na reta Kemmel, um dos pontos de maior velocidade da pista. A sequência toda é feita a mais de 300 km/h pelos carros de Fórmula 1, com o piloto enfrentando forças superiores a 4G durante a compressão e a subida.

Qual a diferença entre as curvas?

Apesar de muitas vezes serem tratadas como uma só, as duas curvas têm nomes e características distintas:

  1. Eau Rouge é a curva à esquerda, na parte mais baixa do trecho, logo após a descida da La Source. É onde o carro atravessa o riacho que dá nome à curva.
  2. Raidillon é a sequência em subida com curvas à direita e à esquerda, que leva até o topo da colina e termina na Kemmel Straight.

Essa distinção é importante para pilotos e engenheiros, pois cada parte exige reações diferentes em termos de pressão aerodinâmica, tração e controle da direção.

Por que Eau Rouge e Raidillon são tão perigosos?

Há vários motivos que tornam esse trecho tão desafiador e perigoso:

1. Alta velocidade com mudança brusca de inclinação
A sequência é feita a velocidades superiores a 300 km/h, com o carro saindo de uma descida e entrando em uma curva com inclinação de mais de 18%.

2. Visibilidade nula na saída
O piloto vira o volante no Raidillon sem ver o que há à frente. O topo da colina bloqueia completamente a visão da pista, o que exige precisão absoluta.

3. Área de escape limitada
Mesmo após reformas, a área de escape ainda é menor do que em outros trechos de alta velocidade. Isso aumenta o risco de o carro bater e voltar para o traçado.

4. Força G extrema
A compressão no fundo da curva gera uma força G que chega a comprimir o piloto no cockpit, exigindo muito fisicamente e mecanicamente.

5. Clima imprevisível
O microclima das Ardenas pode deixar a pista molhada em Eau Rouge e seca em Raidillon ou vice-versa. Essa diferença de aderência pode ser fatal.

Acidentes marcantes nas curvas

A fama do trecho não se dá apenas pela técnica envolvida, mas também por sua história de acidentes graves, inclusive fatais. Veja alguns dos casos mais lembrados:

Anthoine Hubert (2019)
Durante uma corrida da Fórmula 2, o francês sofreu um acidente fatal após bater na barreira de proteção e ser atingido lateralmente por outro carro. O acidente gerou comoção mundial e reacendeu o debate sobre segurança em Raidillon.

Dilano van 't Hoff (2023)
O jovem holandês morreu após um acidente muito similar ao de Hubert, em condições de chuva, quando foi atingido em cheio após bater e retornar à pista.

Lando Norris (2021)
Durante a classificação da Fórmula 1 sob chuva intensa, Norris perdeu o controle em Eau Rouge e bateu violentamente nas barreiras. O acidente gerou críticas dos pilotos à direção de prova por não suspender a sessão.

Jacques Villeneuve e Ricardo Zonta (1999)
Ambos os pilotos da BAR bateram no topo do Raidillon em sessões diferentes, após uma aposta interna para ver quem conseguiria fazer o trecho com o pé cravado.

Reformas e segurança: o que mudou?

Após os acidentes recentes, a direção do circuito e a FIA implementaram obras de modernização e aumento das áreas de escape em vários pontos da pista, incluindo Eau Rouge e Raidillon.

As mudanças incluíram:

Mesmo com essas alterações, muitos pilotos defendem que novas mudanças ainda são necessárias, especialmente para evitar que carros que batem retornem à pista em alta velocidade.

O que dizem os pilotos sobre Eau Rouge e Raidillon?

Vários pilotos já comentaram a respeito da combinação:

Essa mistura de admiração e receio é o que torna o trecho tão especial — e tão perigoso.

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