Dia 11/09/2025
17:01
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No Mundial de Clubes, Los Angeles FC, Seattle Sounders e Inter Miami representaram o país-sede e a MLS e se destacaram pelos confrontos contra times brasileiros, principalmente a equipe de Messi, que chegou às oitavas de final. A participação dos times na competição retomou discussões sobre o nível técnico das equipes e dos atletas da MLS a nível global. O brasileiro Luiz Muzzi, Conselheiro Sênior da Presidência do Orlando City, defende que as equipes dos EUA têm condições de competir contra rivais do Brasil e a nível europeu.

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Em entrevista exclusiva ao Lance!, o executivo brasileiro está no Orlando desde 2019, mas atua há mais de três décadas no mercado do futebol norte-americano. Muzzi vê a MLS em um momento de crescente quando se fala da melhoria na qualidade técnica e impacto internacional e atribui isso à profissionalização em todos os setores das equipes da competição. Das instalações de CT e estádios até a forma como cada time é gerido na liga.

- Na parte de estrutura não tem comparação. Não são um ou dois clubes, mas são todas as estruturas, como centros de treinamento de todos os clubes... a gente viaja em avião fretado, ficamos nos melhores hotéis e os estádios são de estrutura de primeiro mundo. Alguns ainda usados no futebol americano, mas quase todos com seus próprios estádios. Poucos clubes no Brasil podem comparar [a nível de estrutura]. Só os que estão mais acima, são os que podem se comparar [aos clubes da MLS] - destaca Muzzi.

O brasileiro vê um desenvolvimento contínuo na liga norte-americana ao longo dos últimos anos e destacou que o Orlando City, que foi criado em 2015 e teve jogadores com Kaká e Nani como primeiras estrelas do clube, ainda não tinha desenvolvido internamente setores vitais ao clube para além de contratações de atletas famosos. O primeiro dono foi o empresário brasileiro Flávio Augusto da Silva, que vendeu o clube em 2022 para a família Wilf, que é dona do Minnesota Vikings, franquia da NFL.

Agora, já enxerga outras valências dentro da equipe, o que permitiu o Orlando City a se manter entre os destaques da MLS ao longo das últimas cinco temporadas. O clube da Flórida alcançou os playoffs de 2020 a 2024 e na atual temporada também está dentro da zona de classificação para o mata-mata na conferência leste.

- Você não consegue, os resultados no campo não vêm por acaso, se você não tiver essa organização administrativa, logística, de governança, de todas as partes do clube, não alcança. Acho que tem muita gente que pensa que o negócio é só fazer duas ou três contratações e magicamente tudo vai funcionar. E não é bem assim, é um trabalho que envolve pessoal, principalmente as pessoas que estão trabalhando no clube Envolve infraestrutura, envolve, no nosso caso, dar força para a base e ter isso como algo importante para a gente, uma mudança de CT... - lembra o executivo.

Luiz Muzzi tem carreira de mais de 30 anos no futebol dos EUA. (Foto: Divulgação)

Desenvolvimento técnico

O contexto de desenvolvimento administrativo dos clubes da MLS abriu caminho para que as equipes melhorassem os departamentos de futebol. Para Muzzi, o desempenho dos times no Mundial de Clubes em 2025 é a prova de que a liga norte-americana tem exemplos de elencos competitivos. Além da classificação às oitavas do Inter Miami, Seattle Sounders e LA FC bateram de frente com Botafogo e Flamengo, respectivamente, e empataram os dois duelos.

O empresário construiu a carreira no futebol dos EUA antes mesmo da criação da MLS. Muzzi afirma que há um abismo entre o nível técnico apresentado no começo da trajetória da liga e do que é mostrado atualmente. Para ele, há "falsa reputação" de que os times dos Estados Unidos não têm bons elencos, principalmente pelo grande público ainda não consumir frequentemente os jogos, o que dificulta ainda mais a percepção de como o futebol é desempenhado no país.

- Eu vi o começo da MLS aqui, eu já estava aqui nos Estados Unidos antes da MLS começar, há 30 anos atrás. Então aconteceu uma mudança técnica que não tem nem como descrever, é um absurdo de onde a gente estava para onde a gente está hoje. Eu acho que o nível aqui é muito bom. Creio que há uma reputação falsa, uma reputação que não é a realidade, de que o futebol é fraco e ninguém sabe jogar. Muita gente quevai repetindo o que os outros estão falando. Mas qual foi o último jogo que você viu?. Alguns respondem "não, nunca vi um jogo não". Bom, então como é que você sabe que é fraco? - questiona o brasileiro.

O executivo entende que as as equipes da MLS precisam de mais oportunidades para disputar competições de alto nível para responder em campo e que existe um cenário de competitividade entre os times dos EUA e outros de centro mais tradicionais do futebol mundial, sejam eles equipes brasileiras e algumas europeias.

- Eu acho que no Mundial de Clubes foi a primeira experiência internacional nesse sentido [de testar os clubes da MLS contra adversários de alto nível] (...) Cada vez que a gente tiver uma oportunidade de se mostrar no cenário internacional, acho que a gente vai tirando um pouquinho dessa percepção de que o futebol aqui é fraco. E digo mais, se pegarmos os principais times aqui eles não passam vergonha no Campeonato Brasileiro e nem em algumas ligas da Europa. Claro que em qualquer competição você vai ter os que estão mais acima e outros que estão muito abaixo. Mas pega essa turma aí da parte de baixo da tabela, os caras não se criam aqui não - completa.

Impacto do Mundial de 2026 para a MLS

A MLS foi criada no fim de 1993, meses antes da Copa do Mundo de 1994, a primeira em solo norte-americano. O fato se repetirá no próximo ano, quando os EUA dividem o protagonismo com Canadá e México como países-sede. Na visão de Muzzi, a realização do Mundial de Clubes no país e o retorno da Copa do Mundo de seleções em 2026 deve funcionar novamente como um trampolim para o futebol no país. Mas dessa vez rumo a um patamar diferenciado.

- Todas as vezes que temos eventos assim eles põem o futebol do país em destaque. Estamos em concorrência com outros esportes, como basquete, beisebol, futebol americano, hóquei... não é como o Brasil que o futebol está bem acima em termos de seguidores ou dinheiro. Aqui estamos em "concorrência" constante. (...) Mesmo assim, temos uma diferença para outros países porque temos uma economia muito forte, com uma liga muito forte também. Aqui temos estrutura para usar essa Copa como mais uma alavanca, assim como foi em 1994. Foi aquela Copa que alavancou a MLS, foi bem na criação da liga. Mundial de Clubes, Copa do Mundo de Seleções, Olimpíadas daqui um tempo... esses eventos sempre ajudam a desenvolver - completa Muzzi.

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