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Medidas tomadas no Cruzeiro expõem os rumos que a SAF tende a trazer para o futebol brasileiro

Saída do ídolo Fábio, que estava há 17 anos no clube, indica mentalidade da prioridade de equilibrar gastos. Especialistas avaliam ao LANCE! desafios deste modelo de gestão

Fábio desabafou nas redes sociais pelo seu desacordo com o Cruzeiro (Bruno Haddad/Cruzeiro
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As primeiras movimentações do Cruzeiro após a adesão ao formato de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) mostraram uma mudança de perspectiva em relação aos gramados. O anúncio da saída do goleiro Fábio após 17 anos na Toca da Raposa simbolizou a prioridade na objetividade ao gerir o clube. 

Após a mudança para a SAF e a ida das ações para as mãos do ex-jogador Ronaldo, o Cruzeiro se manifestou e atribuiu a saída do camisa 1 ao "sacrifício econômico". O mesmo argumento foi utilizado para a demissão de Vanderlei Luxemburgo. As medidas do grupo capitaneado pelo Fenômeno e por Paulo André são vistas por especialistas como um momento de busca por austeridade.     

- Os torcedores vivem um novo capítulo no futebol brasileiro. Até então, os custos e a dívida trocavam de presidente para presidente, historicamente só se avolumavam e ninguém se responsabilizava, pois o clube não tinha "dono" - afirmou ao LANCE! Eduardo Carlezzo, especialista em Direito Desportivo.

Carlezzo aponta que, à medida que forem constituídas as SAFs, torcedores terão de se adequar a novos desafios.

- A partir do momento que um clube tem "dono", obviamente buscará uma racionalidade financeira e uma redução de custos. Por isso, o torcedor tem de se acostumar a ver contratações que façam sentido dentro do orçamento do clube. Em especial de um clube imensamente endividado, como é o caso do Cruzeiro - declarou.

Ronaldo Fenômeno pretende cortar dois terços da folha salarial. O goleiro Fábio, de 41 anos, queixou-se nas redes sociais e disse que aceitou redução de salário para seguir na Raposa.

Ronaldo (à direita, com a camisa do Cruzeiro) se tornou acionista majoritário da Raposa (Reprodução / Instagram)

Especialista em Banking de Gestão & Finanças do Esporte, Cesar Grafietti aponta alguns desafios pelos quais clubes como o Cruzeiro têm de passar.

- O objetivo é ter as contas em dia. Como aumentar as receitas é difícil, o primeiro passo é cortar custos. Por isto, é natural o clube adequar todas as contas agora. Isto mostra o quão irresponsáveis costumam ser as associações. Pois todos os contratos estavam renovados ou prestes a ser renovados em condições que o novo "dono" percebe que não caberiam no orçamento - afirmou.

Grafietti destaca que a SAF tem um caminho gradual de crescimento enquanto tenta sanar suas dívidas.

- Acho um erro quem fale quem a SAF pensa em lucro, lucro, lucro... O primeiro ponto dela é tentar manter o equilíbrio, coisa que os clubes não têm há anos. O caso do Cruzeiro é muito clássico - e apontou:

- O desafio inicial é colocar a casa em ordem. Isto acontecerá na SAF do Cruzeiro e em todas as SAFs que tiverem contratos exagerados do ponto de vista de custo em relação à receita. O Cruzeiro está em um caminho certo, mostrando o quanto as associações são irresponsáveis - finalizou.   


De acordo com o economista, a euforia de torcedores diante da "migração" para a SAF também exige um cuidado maior de cada clube. 

- É difícil boa parte dos torcedores entenderem este momento. Mas este é um problema também da comunicação. Quando foi anunciada a compra da SAF do Cruzeiro pelo Ronaldo, disseram teria um investimento de R$ 400 milhões e o torcedor se iludiu. Começou a achar que com esses R$ 400 milhões seriam gastos em contratações. Sem entender que tem um monte de outras questões para serem resolvidas com este dinheiro antes de começar a contratar - e enumerou:

- Tem atrasos de salários, adiantamentos que precisam ser repostos, dívidas com outros clubes que podem gerar sanções da Fifa. Boa parte é destinado para resolver problemas estruturais. Só que a comunicação é torta, muito para o marketing, para dizer que tem um investimento deste montante em um clube de futebol no Brasil. Aí o torcedor "compra" o que venderam para ele - completou.

Cesar Grafietti avalia como estas decisões iniciais do Cruzeiro tendem a ser vistas pelos torcedores.

- Acredito que estas primeiras informações começam a colocar ordem na comunicação. É fundamental que torcedores entendam que clubes como Cruzeiro e Botafogo, eventualmente, vão passar por uma reestruturação. O dinheiro injetado não será utilizado para transformá-los numa potência, mas sim para manter o time com uma competitividade. Se não fosse a SAF, talvez o Cruzeiro não terminasse o ano! - declarou. 

O especialista em Banking de Gestão & Finanças do Esporte exalta que a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é um pontapé inicial de organização.

- É o início de um processo. Times equilibrados pagam salários em dia, atraem patrocinadores, atletas qualificados e melhoram desempenho. É um ciclo virtuoso - afirmou.

O formato de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é semelhante ao de países como Portugal e Espanha.

- Ambos têm modelos específicos para o esporte e conceitualmente são parecidos. Há termos de preservação de símbolos e marcas. Porém, nos dois países não carregam benefícios de renegociações de dívidas que a SAF brasileira tem - destacou Cesar Grafietti.