A Premier League estuda uma mudança histórica em seu modelo financeiro. A liga inglesa decidirá nos próximos meses se introduzirá um teto salarial que limite os gastos com jogadores – uma proposta inédita no futebol europeu, mas comum em esportes norte-americanos como NBA e NFL. O objetivo seria reduzir a disparidade entre os clubes e fortalecer a sustentabilidade financeira do campeonato.
O projeto prevê que cada clube possa gastar no máximo cinco vezes mais em salários do que o valor recebido pelo último colocado da Premier League em direitos de TV e prêmios. Com base na temporada 2023/24, o teto seria de cerca de aproximadamente 630 milhões de euros para os clubes com maior poder financeiro.
Para que a medida seja aprovada, será necessário o apoio de 14 dos 20 clubes da liga – o mesmo número exigido em qualquer votação que altere regulamentos. Um exemplo recente ilustra a dificuldade de consenso: há pouco mais de um ano, o Wolverhampton propôs o fim do VAR, mas 19 clubes votaram contra, mantendo o sistema.
De acordo com o jornal "The Times", Manchester City e Manchester United estão entre os principais opositores da ideia. Ambos consideram que a regra prejudicaria sua competitividade em torneios continentais, já que competem com clubes que não teriam o mesmo tipo de limitação salarial.
Atualmente, a Uefa impõe uma restrição semelhante apenas aos clubes que disputam competições europeias, exigindo que os gastos com salários e transferências não ultrapassem 70% das receitas totais. Esse controle, no entanto, é mais flexível e depende da capacidade de cada instituição de gerar receita.
O Aston Villa é um dos exemplos recentes de como o modelo europeu influencia o mercado. Mesmo após campanhas expressivas sob o comando de Unai Emery, o clube precisou conter gastos nas últimas janelas para cumprir o limite de despesas com elenco imposto pela Uefa.
Novo controle financeiro após Fair Play Financeiro
Na Premier League, as regras de controle financeiro atuais são baseadas no fair play financeiro doméstico, que determina que os clubes não podem registrar perdas superiores a 100 milhões de euros ao longo de três temporadas, com exceções para investimentos em futebol feminino e categorias de base.
Criada em 2013, a regra não acompanhou o aumento de custos e a inflação do futebol moderno. Hoje, o valor de transferências, salários e comissões de agentes é muito superior ao de uma década atrás, o que levou a liga a estudar um novo sistema.
O plano em discussão combina o teto salarial com um limite inspirado nas regras da Uefa: os clubes só poderiam gastar até 85% de sua receita total com jogadores e comissões. Essa fórmula ficaria conhecida como Índice de Custo de Elenco (Squad Cost Ratio) e já vem sendo testada internamente em algumas análises da liga.
A Associação de Jogadores Profissionais da Inglaterra (PFA) também observa a proposta com cautela. O sindicato teme que a medida reduza os salários dos atletas e reforça que os jogadores não têm poder de voto nas decisões da Premier League, o que gera desconforto em relação à falta de representatividade nas negociações.
Inspiração em esportes americanos
A ideia de um teto salarial não é nova. O conceito é amplamente utilizado nos Estados Unidos, em ligas como a NBA, NFL e MLS, nas quais os limites são definidos através de acordos coletivos entre as ligas e os sindicatos de jogadores. Nesses esportes, o teto é visto como ferramenta essencial para equilibrar o nível das equipes e manter o interesse competitivo da liga.
A diferença é que, nos EUA, as ligas são fechadas – não há rebaixamento – e funcionam sob um modelo empresarial centralizado, que facilita o controle de gastos e a divisão de receitas. Na Europa, o cenário é muito mais fragmentado, com ligas nacionais independentes, múltiplas federações e legislações distintas.
Fernando Carro, CEO do Bayer Leverkusen, é um dos principais defensores da ideia de um teto global. Para ele, o futebol europeu vive um desequilíbrio crescente impulsionado principalmente pelo poder econômico da Premier League.
– Um teto salarial global e absoluto seria mais do que necessário. Hoje, os clubes ingleses distorcem o mercado ao pagar valores que as outras ligas não conseguem acompanhar – afirmou o dirigente espanhol.
Apesar do apoio de alguns dirigentes, especialistas afirmam que a proposta enfrenta grandes barreiras legais. De acordo com juristas consultados pelo jornal espanhol "AS", um teto salarial poderia violar os artigos 101 e 102 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, que proíbem acordos anticompetitivos e abuso de posição dominante.
Em resumo, a medida poderia ser vista como uma forma de cartelização entre os clubes, restringindo a liberdade de negociação de jogadores e interferindo no princípio de livre mercado da União Europeia.
Javier Gómez, diretor corporativo da LaLiga, também considera a iniciativa difícil de ser aplicada no curto prazo:
– O ideal seria uma harmonização, com todos sob as mesmas regras. Mas é algo extremamente complexo de implementar em pouco tempo – disse o corporativo
Além dos entraves legais, há questões fiscais que variam entre países – como carga tributária e regimes de contrato – que complicam ainda mais qualquer tentativa de padronização continental.
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