Futebol Internacional

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Majadahonda: o time que driblou o destino para deixar de ser pequeno

Minúsculo clube da Grande Madri conquistou acesso surpreendente para a Segundona, mas se deparou com regras 'cruéis'. No fim, 'ganhou' estádio e torcida na base da amizade

(Foto: Rayo Majadahonda)
Escrito por

Nem tudo é glamour no futebol da Comunidade de Madri. Paralelamente ao rico Real Madrid, um outro clube da região, modesto, fez história na temporada passada: o minúsculo Club de Fútbol Rayo Majadahonda, de Majadahonda, cidade da Grande Madri situada a 16 quilômetros ao noroeste da capital. Fundado em 1976, o Rayo era um clube de poucos feitos nacionais, que chegou na quarta divisão espanhola na temporada 1987/88. Em 2015/16, o clube conseguiu se firmar na Terceirona e, na última temporada, chegou ao seu ápice, obtendo o acesso à Segundona com um gol aos 51 minutos do segundo tempo. A festa foi grande naquela tarde de 27 de maio, mas a promoção improvável quase escapou pelos dedos por conta de duas exigências, uma delas inusitada, da Liga Espanhola. De repente, o clube que tinha conquistado na bola o direito de crescer, estava perto de ser mandado para o "limbo" mais uma vez. Até que foi salvo pelo Atlético de Madrid, em uma história de arrepiar.

Primeiramente, para entender a história, é preciso conhecer as diferenças de patamar entre as duas primeiras divisões da Espanha e as divisões inferiores. A Federação é responsável por organizar o campeonato da terceira divisão – que é regionalizada – e todas as outras divisões inferiores. Já a Liga manda nas duas primeiras divisões. Ao mudar de nível, o Rayo Majadahonda se deparou com problemas por conta das regras da Liga. Para jogar a Segunda División, o time precisaria ter uma casa para 6 mil espectadores. No entanto, o estádio do Rayo, o Cerro del Espino, que pertence ao município e é gerenciado pelo clube, comporta apenas 3.376 torcedores. O clube ainda iniciou obras para tentar uma adequação, porém o prazo de entrega se esticou para janeiro do ano que vem. A Liga deu um mês e meio para o Rayo se resolver, e, no desespero, a diretoria do clube enviou cartas para todos os clubes da Grande Madri com estádios acima de 6 mil lugares. Getafe, Logroñes e Alcorcón recusaram emprestar suas casas. O Rayo Vallecano também disse não, alegando que sua arena também passa por reformas. Já o Real Madrid nem respondeu o contato.

- Eles não podem tirar de nós algo que ganhamos em campo - disse Casto Gallardo, secretário geral do Rayo Majadahonda, em declaração para a imprensa espanhola quando a situação se encaminhava para um triste final.

O EMOCIONANTE GOL QUE LEVOU O RAYO PARA A SEGUNDONA


A ÚLTIMA ESPERANÇA

Faltava só um retorno do Atlético de Madrid, dono do mais novo dentre os estádios da Espanha, o Wanda Metropolitano, aberto em setembro de 2017 e com capacidade de 67.829 torcedores. No último dia do prazo dado pela Liga, o Atleti respondeu o Rayo com um surpreendente sim. Por sorte do Rayo, o Atlético tem Miguel Ángel Gil Marín como principal acionista do clube. Miguel e Casto Gallardo, dono da declaração citada acima, são amigos de infância.

Além dos laços entre os dirigentes, os clubes têm uma ótima relação. Em uma parceria com o Rayo e a prefeitura de Majadahonda, o Atlético B manda desde 1997 seus jogos no estádio Cerro del Espino, que naquele ano passou a fazer parte do centro de treinamento do Atleti, estabelecido ao lado do estádio. E foi como prova da lealdade entre as partes e pela amizade entre os cartolas que um time pequeno passou a contar com um dos maiores palcos da Europa.

- Sem a ajuda do Atlético, agora estaríamos rebaixados. Nem sei como agradecer - falou Casto Gallardo, aliviado com a cessão do Metropolitano.

SEGUNDO PROBLEMA

A definição pelo estádio saiu no dia 11 deste mês. O drama parecia encerrado, mas aí surgiu outra exigência, mais ingrata do que a primeira. Em razão do acordo de transmissão de jogos da Liga Espanhola, todo time deve garantir que a arquibancada oposta às câmeras de TV tenha ao menos 75% de ocupação, sob pena de multas. O motivo da regra é uma imposição da TV, sob a alegação de que um estádio semi-vazio para o teleespectador "desvaloriza o produto".

- Eles têm que entender que a nossa situação é diferente. Não podem nos afastar de algo que ganhamos no terreno de jogo. Entendemos que a televisão vende um produto, mas nossa principal tarefa é focar nos esportes - comentou Casto Gallardo, em mais um apelo feito diante da imprensa espanhola.

O Rayo tem apenas 300 sócios e apresentou média de público de mil torcedores na Terceirona. As multas significariam o fim de qualquer plano para estruturar a equipe e o rebaixamento seria inevitável. Mas aí o Atlético de Madrid surgiu novamente, com um auxílio criativo envolvendo sua torcida.

A SOLUÇÃO

A arquibancada oposta às câmeras de TV no Wanda Metropolitano precisa ter, de acordo com o tamanho do estádio, pelo menos 5 mil pessoas presentes para atender a obrigatoriedade dos 75% de ocupação. Diante deste cenário, o Atleti cedeu aos seus sócios entradas grátis para os jogos do Rayo. E para tornar isso ainda mais atraente e procurado, ofereceu também aos sócios que forem às partidas do Rayo pontos na hora da definição das prioridades de venda de carnês dos jogos do Atlético para a temporada 2019/2020.

- Tinha que ser com este clube amigo, com uma relação de autêntica irmandade, que possibilitará um sonho - destacou o Rayo em nota oficial.

REFORÇO DE NOME

A Segunda División 2018/19 começa em agosto e terá clubes com grande fama, como Deportivo La Coruña, Málaga, Mallorca e Zaragoza. O Rayo Majadahonda tem o menor poderio financeiro entre todos os times da competição, mas está se movimentando no mercado e, na semana passada, conseguiu contratar por empréstimo junto do Lausanne Sport (SUI) o meio-campista Enzo Zidane, de 23 anos, filho do campeão mundial e ex-técnico do Real Madrid Zinédine Zidane.

Anúncio de Enzo Zidane pelo Rayo Majadahonda (Imagem: Divulgação)

Enzo teve passagens pela seleção francesa sub-19 e fez sua formação de base no Real Madrid, mas acabou não vingando no clube, indo para o Alavés em julho do ano passado e depois para o Lausanne Sport, em janeiro deste ano.

No começo de 2018, o Rayo retorna para o Cerro del Espino. Já para a Terceirona, os seus torcedores - e os do Atlético - esperam que nunca mais.