Em uma liga cheia de astros globais e que recebe cada vez mais investimentos, um brasileiro vem chamando a atenção na Arábia Saudita ao alcançar uma marca histórica. Depois da goleada do Al-Taawoun por 4 a 1 sobre o El Etiffaq, na última quinta-feira, Péricles Chamusca se tornou o treinador de futebol mais vitorioso da história do país.

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O Lance!, então, bateu um papo exclusivo com o técnico para entender o que está por trás das 83 vitórias conquistadas por Chamusca na Liga Saudita, que a cada ano se torna mais competitiva.

— É realmente uma marca significativa, porque, no nível que a liga tem hoje, alcançar o recorde de vitórias não é algo simples. É claro que isso também está ligado ao fato de eu ser o treinador estrangeiro com mais tempo de trabalho aqui na Arábia e, provavelmente, com o maior número de jogos disputados. Isso nos dá uma vantagem, mas, sem dúvida, é uma marca que vamos comemorar — destacou o técnico em entrevista exclusiva ao Lance!.

Uma longa história na Arábia Saudita

Péricles Chamusca com vestimenta típica da Arábia Saudita (Foto: reprodução / redes sociais)

Péricles Chamusca é soteropolitano e começou sua carreira como treinador no Vitória. Além do time baiano, ele passou por clubes como São Caetano, Santo André, Santa Cruz, Sport, Portuguesa e Coritiba antes de comçar a desbravar o outro lado do mundo.

Depois de trabalhos no Japão e no Catar, Péricles Chamusca aceitou seu primeiro desafio de treinar um clube do futebol saudita na temporada 2018/2019, quando comandou o Al-Faisaly, da primeira divisão, por 20 partidas, com nove vitórias, cinco empates e seis derrotas.

Logo depois, o treinador teve uma passagem curta de cinco jogos pelo Al-Hilal naquele mesmo ano antes de voltar para comandar o Al-Faisaly por mais duas temporadas. Péricles também tem no currículo trabalhos no Al-Shabab, Al-Taawoun e Neom SC. Ao todo, são oito temporadas no futebol saudita e contando...

Acho que o principal fator para o nosso sucesso aqui na Arábia foi ter conseguido montar boas comissões técnicas. Contamos sempre com um staff completo, o que facilita muito o trabalho do treinador. Outro ponto importante foi entender bem a cultura local. Eu já vinha de uma experiência de três anos no Catar, o que me deu conhecimento sobre a cultura árabe e ajudou bastante na gestão do grupo de jogadores locais. Existem especificidades e detalhes que precisam ser respeitados, e essa vivência anterior me deu esse suporte — destacou Péricles.

O brilho pelo Neom

Péricles Chamusca comemora acesso do Neom à primeira divisão (Foto: reprodução / redes sociais)

Na última temporada, o treinador se consagrou de vez no futebol saudita com a conquista inquestionável da Yellow League, o equivalente à Série B, no comando do Neom SC, um time que surge em meio a um projeto grandioso de modernização do país e tem muito potencial de crescimento. Foram vários recordes quebrados pela equipe sob o comando de Péricles Chamusca: melhor ataque, melhor defesa, maior série de vitórias seguidas, maior sequência invicta... Foi uma campanha que ficou para a história.

— Acho que o mais importante foi a visão que eles tiveram de trazer uma comissão técnica, com um treinador que já tinha experiência no mercado da Arábia Saudita por sete anos, e agora estou indo para o oitavo. Com isso, já tínhamos o conhecimento necessário para fazer uma montagem do zero: contratar jogadores locais, buscar atletas com as características que precisávamos e, assim, atingir o objetivo de subir a equipe para a Pro League.

— O orçamento também era alto em comparação com outros clubes da divisão, o que nos deu liberdade para montar o elenco de acordo com o nosso modelo de jogo e com as características dos atletas que buscávamos. Isso nos permitiu formar uma equipe equilibrada, de qualidade, e essa organização nos deu supremacia durante toda a competição. Começamos na primeira posição, terminamos na primeira posição, conquistamos o título e o acesso de forma antecipada, fruto desse desenvolvimento — celebrou o treinador.

O futuro de Péricles Chamusca

Péricles Chamusca comanda treino do Al-Taawoun, um dos times da primeira divisão do futebol saudita (Foto: reprodução / redes sociais)

O sucesso pelo Neom o levou de volta ao Al-Taawoun - seu atual clube - que também disputa a primeira divisão. Foi no comando da equipe que ele bateu o recorde histórico da liga, mas ainda há muito para ser conquistado no país, que vê o futebol crescer a cada dia e espera ansiosamente para sediar a Copa do Mundo de 2034.

— Eu peguei o início desse investimento no futebol, justamente quando o país começou a se abrir de maneira geral, inclusive com mudanças nas leis para facilitar a chegada de estrangeiros. No futebol, a cada ano a liga foi ganhando mais qualidade técnica e recebendo investimentos maiores. Acompanhei todas as fases desse processo até chegar aos últimos três anos, quando houve o "boom" de contratações de jogadores de altíssimo nível.

— De fato, nesse período recente, o nível da liga cresceu muito, a ponto de hoje poder ser comparado com várias ligas da Europa. E a tendência é de crescimento ainda maior, porque a ideia do país é que cada vez mais empresas invistam dentro dos clubes, o que vai continuar elevando o nível técnico das competições. Aqui já existe uma cultura de futebol muito forte. O povo é apaixonado, e as torcidas dos grandes clubes lotam os estádios, o que cria uma atmosfera muito positiva em torno do esporte. O saudita gosta de futebol, acompanha de perto, participa ativamente e vai aos jogos. Essa paixão chega a ser bastante parecida com a que temos no nosso país — destacou.

Por falar em "nosso país", Péricles Chamusca demonstra vontade em voltar ao Brasil para comandar um projeto sólido e afirma que esse movimento deve acontecer no futuro.

— A gente sempre tem vontade de voltar ao futebol brasileiro. Mas, no momento, temos procurado surfar nessa onda de sucesso dos últimos oito anos e aproveitar o mercado aqui na Ásia, principalmente na Arábia. Já tivemos também cinco anos de experiência no Japão, três no Catar e agora completamos oito anos na Arábia.

O sentimento de voltar existe, em algum momento vai acontecer. Mas a ideia seria ter a oportunidade de assumir um projeto sólido, com estrutura para desenvolver um trabalho de médio prazo - algo em torno de dois anos de contrato - dentro de um clube com ambição de disputar Libertadores, brigar por títulos e que ofereça estabilidade para manter o treinador e a comissão técnica por mais tempo — finalizou Péricles.

Péricles Chamusca já foi treinador do Coritiba (Foto: Mauro Horita/AGIF)
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