Futebol Internacional

Clubes

Nacionais

escudo do atlético mineiroescudo do botafogoescudo do corinthiansescudo do cruzeiroescudo do flamengoescudo do fluminenseescudo do gremioescudo do internacionalescudo do palmeirasescudo do santosescudo do sao pauloescudo do vasco
logo whatsapplogo instagramlogo facebooklogo twitterlogo youtubelogo tiktok

Equipe de Tucumán já fez Palmeiras e Corinthians se unirem em um só time. L! redescobre jogo histórico

Verdão pega o Club Atlético Tucumán nesta quarta. Em 1930, time de Tucumán visitou o Brasil e, como queria um forte rival, fez combinado Palestra/Corinthians entrar em ação

(Imagem: Reprodução/Diário da Noite)
Escrito por

Modesto clube do norte argentino e participante da Libertadores pela primeira vez, o Club Atlético Tucumán se colocou no caminho do Palmeiras e ficou famoso após epopeia no Equador e duas classificações eletrizantes. Porém, o que pouca gente sabe é que um time da província de Tucumán tem conexão com uma das histórias mais ricas ligando Palmeiras e Corinthians. O episódio é cheio de curiosidades: em janeiro de 1930, o selecionado de Tucumán, segundo colocado do campeonato argentino de Ligas de 1929, veio ao Brasil em busca de fortes amistosos. Na época, Palmeiras (ainda Palestra Itália) e Corinthians formavam a base da seleção paulista e foram contactados pelos tucumanos. Os rivais deixaram suas diferenças de lado e selaram que um combinado Palestra/Corinthians seria formado para um amistoso contra os argentinos. Um fato incrível quase desconhecido, que o LANCE! redescobre a partir de agora.

UM COMBINADO HISTÓRICO. NAVEGUE PELA FOTO E CONHEÇA CADA ATLETA

Foto posada do duelo no Parque Antártica. O combinado jogou com a camisa do Palestra Itália e o calção do Corinthians. Possivelmente, é o ponto de maior união na história dos clubes (Foto: Arquivo/José Ezequiel Filho)

O combinado Palmeiras/Corinthians só aconteceu quatro vezes na história (1917, 1929, 1930 e 1992), tendo vitórias em todas as ocasiões (veja detalhes dos jogos em galeria no começo da nota). O duelo contra os tucumanos foi o último jogo de um combinado Palmeiras/Corinthians no estado de São Paulo.

DESAFIANTE ELOGIADO E UM JOGO CHEIO DE INGREDIENTES

O selecionado de Tucumán começou sua saga pelo Brasil no Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, goleou o América por 6 a 2, empatou com o Vasco por 1 a 1, empatou por 3 a 3 com a seleção B do Rio e só perdeu para a seleção A do Rio, por 3 a 2. Os resultados foram elogiados pelos jornais e o time partiu para São Paulo bem credenciado. No entanto, em 26 de janeiro de 1930, os argentinos foram goleados por 4 a 1 pelo Palestra Itália. O árbitro da partida foi o lendário Arthur Friedenreich, considerado por muitos como o primeiro craque do futebol brasileiro. Na época, era comum que jogadores apitassem duelos. Fried, que estava indo para o recém-fundado São Paulo após o fim do futebol do Paulistano, se animou para jogar pelo Palestra/Corinthians contra os tucumanos quatro dias depois de atuar como juiz. A junção de grandes clubes com o astro do momento mobilizou São Paulo para a tarde de 30 de janeiro.

"A expectativa que logrou despertar o encontro entre os vice-campeões da Argentina e o combinado Palestra/Corinthians contribuiu para que, à tarde, se movimentasse extraordinariamente a cidade, com as correntes humanas que se orientavam em direcção ao gramado do Palestra Itália. Apesar de útil (era uma quinta-feira), o dia de hoje não impediu por esse lado, que a segunda exibição dos argentinos entre nós se fizesse debaixo de intensa ansiedade e perante numerosa assistência". Assim o jornal "Folha da Noite" de 30 de janeiro retratou a chegada dos torcedores ao estádio do Palmeiras. Não se falou o número de presentes, mas as fotos mostram que o Parque Antártica esteve cheio. No período, o estádio tinha capacidade aproximada para 20 mil pessoas.

Parque Antártica com grande público (Foto: Reprodução de internet)

A torcida, além da expectativa de ver os craques do Palestra e do Corinthians lado a lado, estava com saudades de conferir de perto o futebol de Friedenreich. O astro vinha jogando a liga amadora de São Paulo desde 1926, com o Paulistano, enquanto Palmeiras e Corinthians disputavam o Paulista organizado pela Associação Paulista de Esportes Atléticos, que já flertava com o profissionalismo - colocado em prática em 1933. Com tantos atrativos, nem a chuva que caiu naquela tarde afastou o público do Parque Antártica.

Pesquisador palmeirense, José Ezequiel Filho conversou com o LANCE! sobre o amistoso e fez um comparativo para explicar a grandeza dos nomes envolvidos.

- Seria a mesma coisa que fazer, na década de 60, um combinado entre Santos e Palmeiras colocando o Garrincha - disse José Ezequiel, que também explicou a existência de uma boa relação histórica entre Palmeiras e Corinthians nos bastidores, apesar da rivalidade que completa 100 anos agora em 2017.

- A rivalidade já era grande há 87 anos, mas sempre houve diálogo entre os clubes, desde o começo da história, e isso possibilitou a formação do combinado em 1930. Mesmo existindo a rivalidade em campo, os times sempre souberam conversar. Um exemplo: quando a Catedral da Sé precisou de verba para obra no teto, Palmeiras e Corinthians se organizaram e fizeram um amistoso cuja renda foi revertida para a igreja. Fora de campo, Palmeiras e Corinthians sempre dialogaram - destacou José Ezequiel Filho.

MAIS DUAS CURIOSIDADES

O amistoso também serviu para o Palestra Itália arrecadar verbas para a reforma do estádio, obra que viria a acabar três anos depois. Cada diretor do clube presente no jogo doou 20 mil reis, R$ 400 na conversão para o real hoje.

Outra curiosidade da partida foi o árbitro. O apito esteve sob o comando do centroavante Luiz Mattoso, o Feitiço, craque do Santos na época. Feitiço é, ainda hoje, o quinto maior artilheiro do Peixe, com 214 gols em 151 jogos.

Craque do Santos, Feitiço apitou duelo (Foto: Reprodução de internet)

Uma preliminar entre os times B de Palestra e Corinthians abriu a tarde. No fim, empate por 1 a 1, mas o principal estava por vir com o jogão das 16h05.

Friedenreich, então com 37 anos, foi aclamado pela torcida antes de a bola rolar. E não demorou muito para o centroavante mostrar sua categoria, apesar do lamaçal pela chuva. A primeira finalização do combinado foi dada pelo atacante: "Fried alveja o canto esquerdo da meta contrária, bem defendida por Sanchez. El Tigre inicia a sua technica. Os seus passes e avançadas são magistraes". O relato da "Folha da Manhã" de 31 de janeiro de 1930 eternizou a categoria do craque naquele duelo. Ele não balançou a rede, mas foi fundamental para o time paulista aplicar uma goleada: 5 a 2, fora o "baile". Fried deu assistências para o quarto gol, de Ministrinho, e para o quinto gol, feito por Heitor, craque que também merece uma citação especial.

Heitor fez três gols naquele dia. Centroavante do Palestra Itália entre 1916 e 1931, ele é até hoje o maior artilheiro do Palmeiras, com 327 gols em 358 partidas. Heitor e Friedenreich foram campeões, pela Seleção Brasileira, do Sul-Americano de 1919, o primeiro título da história da Seleção. No jogo contra o selecionado de Tucumán, momentos antes do apito inicial, Fried intermediou a paz entre Heitor e Del Debbio, zagueiro do Corinthians e defensor do combinado. A descrição do momento pela "Folha da Noite" de 30 de janeiro exalta a figura de Fried no curioso episódio: "Heitor e Debbio, por intermédio de Fried, fazem as pazes. O grande campeão é, além de tudo, um anjo da paz".

Fried e Heitor no dia do amistoso (Foto: Arquivo/José Ezequiel Filho)

FICHA TÉCNICA
Combinado Palestra Itália/Corinthians 5 x 2 Selecionado de Tucumán
Data e hora:
30/01/1930 - 16h05
Local: Parque Antártica, São Paulo (SP)
Público: Aproximadamente 20 mil presentes
Árbitro: Luiz Mattoso (Feitiço)
Gols: Heitor (15', 1ºT - 1x0), Martinez (contra, 20, 1ºT - 2x0), Heitor (5', 2ºT - 3x0), Jara (8', 2ºT - 3x1), Ministrinho (9', 2ºT - 4x1), Maidana (18', 2ºT - 4x2) e Heitor (40', 2ºT - 5x2)

Combinado Palestra Itália/Corinthians: Tuffy (C); Grané (C) e Del Debbio (C); Pepe (PI), Goliardo (PI) e Serafini (PI); Ministrinho (PI), Heitor (PI), Friedenreich (São Paulo), Rato (C) e De Maria (C)

Selecionado de Tucumán: Sanchez; Alberti e Martinez; Ibanez, Ferreyra e Pacco; Jara, Rivarola, Maidana, Albernoz e Ruiz